Premeditar resultados e lucros é uma das principais buscas do aprimoramento tecnológico em profissões que trabalham com fatores variáveis de produção. A partir dos anos 2000, o campo científico já oferecia algumas opções aos agricultores – que têm seus cultivos diretamente ligados a condições externas muito instáveis, como temperatura, ventos e chuva. Isso porque, apesar de os estudos serem recentes, a agricultura de precisão já revela técnicas avançadas, que atualmente são capazes até de prever modificações e detectar falhas que não podem ser vistas a olho nu.
Tendo como um dos focos o setor agrícola, a Auster Tecnologia – empresa que surgiu na Incubadora Pulsar da UFSM em 2015 – atua no desenvolvimento, fabricação e operação de aeronaves remotamente pilotadas (os drones) que podem oferecer soluções precisas a determinados serviços. Com o desejo de construir uma aeronave mais versátil, que estivesse facilmente destinada à produção em série e à aplicação comercial, a equipe – composta por alunos dos cursos de Engenharia de Controle e Automação e Engenharia Mecânica – criou, em 2017, a série AT120. Os drones, compactos e robustos, já estão disponíveis em duas versões: Standard e Agritec. Esta última, como indica o nome, cobre demandas do meio rural.
Impulsionada por uma catapulta, a aeronave é capaz de sobrevoar uma distância de 120 metros de altura por até uma hora e meia. A partir de uma rota preestabelecida por GPS, o drone consegue perceber padrões e se adaptar a condições climáticas, diferentemente dos satélites. Junto da aeronave, uma câmera multiespectral capta mais de mil imagens por minuto em diversas bandas (comprimentos de onda), o que permite o sensoriamento remoto em alta definição da área cultivada.
As câmeras multiespectrais são necessárias porque, diferentemente das câmeras comuns, são capazes de capturar mais cores, inclusive aquelas que o olho humano não percebe. No caso das plantações, isso é relevante porque as plantas absorvem e refletem a luz de formas diferentes. A física explica que as cores são definidas basicamente pelo comprimento de onda de luz, e o espectro visível do olho humano é limitado. Numa plantação, o sensoriamento com câmeras multiespectrais permite individualizar cada umas das cores (azul, verde, vermelho, etc.) e captar todas as cores não visíveis como, por exemplo, o infravermelho.
Um dos idealizadores do AT120, Saulo da Silva, explica que entre os benefícios da tecnologia está a capacidade de antecipar informações: “Ver o que é invisível já é possível. Não importa o tempo de experiência do agricultor, os seus olhos não serão capazes de enxergar antes das câmeras multiespectrais. Isso gera lucros diretos, pois aumenta a produtividade e poupa recursos”, reforça o estudante de Engenharia de Controle e Automação.
Para a interpretação desses dados, a equipe da Auster oferece um serviço de assistência técnica customizada ao agricultor. As informações precisas sobre possíveis focos de pragas, estresse hídrico, déficit de nutrientes e danos ambientais, por exemplo, poderão ser gerenciadas pela capacitação do próprio usuário do serviço. A ideia – que ainda está sendo delimitada – contempla, portanto, o mapeamento de áreas agrícolas e a venda dos sistemas para interessados em operá-los diretamente.
Reportagem: Tainara Liesenfeld
Diagramação: Deirdre Holanda