No dia 22 de março, às 3h07 da madrugada, um foguete russo chamado Soyuz-2 decolou do Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, carregando o nanossatélite brasileiro NanoSatC-Br2 (NCBR2). Resultante de um convênio entre a UFSM e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o nanossatélite é parte do Programa NanosatC-BR, coordenado por Nelson Schuch, pesquisador do Inpe. A iniciativa está inserida em um projeto de desenvolvimento de missões espaciais com foco científico, tecnológico e educacional apoiados pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O foguete Soyuz-2 é operado pela empresa GK Launch, com sede na Rússia, e o lançamento contou com o suporte da Agência Espacial Brasileira (AEB).
O professor Eduardo Bürger, do curso de Engenharia Aeroespacial e coordenador local de Engenharias do Programa, e o professor Andrei Legg, do curso de Engenharia de Telecomunicações e coordenador do projeto de lançamento do NCBR2, foram indicados para participar, in loco, do evento. “Inicialmente era previsto que várias pessoas participassem da comissão que acompanharia o lançamento, incluindo professores da UFSM, alunos, servidores do Inpe, AEB e MCTI, possivelmente o próprio ministro”, explicam os professores sobre as alterações nos planos ocorridas devido à pandemia.
Assim, em 14 de março, os professores Eduardo e Andrei iniciaram a (longa) jornada rumo à cidade de Baikonur. A pedido da Revista Arco, eles escreveram um diário para registrar o que ocorreu antes, durante e depois do acontecimento histórico que eles presenciaram.
Antes da viagem
Fizemos exame PCR para Covid-19 faltando menos de 72 horas para o embarque, cumprindo o requisito exigido pelas companhias aéreas. Nesta ocasião, por ser sábado, combinamos com o laboratório que o resultado traduzido para o inglês seria enviado impreterivelmente no domingo, por e-mail.
Além disso, a operadora do lançamento também já havia nos informado que faríamos outros exames na Rússia. Caso alguém testasse positivo para Covid-19, possivelmente perderia a oportunidade de participar do lançamento e deveria ficar em quarentena. Isso já aumentava nossa tensão, que já estava alta devido ao lançamento que colocaria em órbita o nosso segundo nanossatélite que há anos estava em desenvolvimento, fruto de muito trabalho de diversas instituições.
A viagem planejada por uma agência de viagens foi a seguinte: Porto Alegre – Guarulhos – Zurique – Moscou. Apenas neste trecho foram 36 horas de viagem. Chegaríamos em Moscou à noite e, na manhã do dia seguinte, pegaríamos “carona” num voo fretado pela operadora do lançamento até a cidade de Baikonur, com vários outros representantes dos outros 37 satélites que o foguete lançaria.
Dias 1 e 2 – 14 e 15 de março (voo para Moscou com escalas em Guarulhos e Zurique)
Saímos de Santa Maria rumo ao aeroporto de Porto Alegre. Para isso, alugamos um carro, visto que a ideia era reduzir a exposição desnecessária ao contato com outras pessoas. Pegamos voo para Guarulhos, São Paulo. Chamou a atenção que o voo estava lotado, com todos os assentos ocupados. Houve muita aglomeração no aeroporto, e para entrar na aeronave não houve exigência de nenhum tipo de exame, nem mesmo foi medida a temperatura antes do embarque.
Em Guarulhos, no check-in, fomos informados pela empresa aérea que nossa entrada na Rússia estava permitida, e nos foi pedido apenas o exame PCR em português.
Em Zurique, após espera de algumas horas para o voo para Moscou, ao acessar nossos e-mails, fomos surpreendidos com a situação de que até então (era segunda-feira) o laboratório de Santa Maria não tinha enviado o resultado do exame traduzido em inglês. O responsável pelo embarque nos informou que tínhamos 20 minutos para conseguirmos o exame traduzido pelo laboratório, e ainda precisaríamos de uma nova autorização para entrarmos na Rússia, pois a carta-convite que tínhamos da Roscosmos [Agência Espacial Russa] citava apenas o Cazaquistão. Exatamente dois minutos antes do término do embarque e após inúmeras ligações internacionais ao laboratório no Brasil (por sorte eram sete horas da manhã no Brasil), conseguimos os exames traduzidos e a autorização por parte da GK Launch. Tudo foi impresso na porta de entrada do embarque nos últimos minutos. Só nos deixaram embarcar com a promessa de que ficaríamos no setor internacional do aeroporto de Moscou aguardando nosso voo para o Cazaquistão, mesmo com hotel já reservado na Rússia.
Ao embarcar no avião, fizemos um último contato com o pessoal da GK, que nos garantiu que nossa entrada em território russo estava garantida. Chegando na Rússia por volta das 18 horas, ao passar pelo controle de fronteira para entrar no país, quando estávamos nas cabines de controle de fronteira, subitamente uma policial surge e recolhe meu passaporte (Eduardo) e toda a documentação que tinha, me conduzindo para outro andar sem dar nenhuma explicação. O Andrei ainda estava sendo atendido e aparentemente parecia não haver problemas com ele. Como não havia internet disponível, ficamos sem comunicação um com o outro para saber o que estava acontecendo. Fui colocado em um salão com pouco espaço e com aproximadamente 80 pessoas, a maioria do Uzbequistão – e muitos sem máscara. Ninguém sabia explicar o que estava acontecendo, nem onde estavam nossos passaportes – nem os que estavam ali, nem os policiais russos que não falavam inglês e apenas diziam “WAIT HERE”. Exausto da longa viagem, fiquei duas horas em pé aguardando algo acontecer.
Eu (Andrei), estava no andar de baixo em uma situação bastante similar à do Eduardo, mas eu estava conseguindo sinal de internet, o que me permitia conversar com o pessoal da GK e explicar nossa situação. Aparentemente, eles também não sabiam qual era o problema para não liberarem nossa entrada e falaram para eu ter calma que nossa entrada seria autorizada sem problemas, mas aproveitei para deixar mensagens a várias pessoas dizendo onde eu estava e explicando o que tinha acontecido (sinceramente, não sabia o que poderia acontecer conosco). Cerca de duas horas depois, surge um dos guardas acompanhando o Eduardo, devolve nossos passaportes e finalmente passamos pelas cabines, entrando em território russo. No exato momento em que chegamos ao local de retirada de bagagens, nossas malas estavam sendo retiradas. Isso foi muita sorte, porque se as malas não estivessem lá, seria mais uma situação complicada devido ao problema de comunicação.
Ainda no aeroporto, precisávamos fazer outro exame PCR para o voo fretado do dia seguinte. Ficamos mais três horas tentando realizar o pagamento, que era exclusivamente online. A internet não funcionava e o site também não aceitava cartões brasileiros (tentamos seis cartões diferentes). Finalmente, após realizar o exame, fomos para o hotel descansar para nossa viagem no dia seguinte.
Dia 3 – 16 de março (Cazaquistão)
Era o dia da viagem para o Cazaquistão. O hotel que escolhemos tinha serviço de transporte para o aeroporto, então chegamos por volta das sete horas da manhã no aeroporto para pegar o resultado do exame PCR, e também porque tínhamos que nos encontrar com o pessoal da GK no balcão do check-in. Estava nevando, e o embarque foi um pouco diferente, com deslocamento por ônibus até o avião. O voo para o Cazaquistão foi tranquilo.
Chegando no controle de fronteira do Cazaquistão, houve certa resistência à nossa entrada, perguntaram até se nosso passaporte era diplomático. Depois de uns 10 minutos de incertezas, eles carimbaram nossa entrada. Finalmente estávamos em Baikonur no Cazaquistão! Na sequência, assinamos um documento reconhecendo as regras que tínhamos que respeitar e nos dirigimos para o ônibus que nos levaria até o nosso hotel.
Ao chegar no hotel, precisávamos preencher uma ficha toda em russo e um senhor da Roscosmos, que inclusive falava bem português, nos ajudou com o preenchimento da documentação. Tínhamos algumas horas para arrumar as coisas no quarto e, depois, sairíamos para a “janta” – vale lembrar que estávamos com oito horas de diferença em relação ao Brasil devido ao fuso, ainda não estávamos adaptados e também nos sentíamos extremamente cansados da viagem.
O primeiro jantar foi bem interessante, conhecemos muitas pessoas e foi o primeiro contato com a culinária russa/cazaquistanesa. Um comentário sobre isso: sabores muitos similares aos do Brasil, basicamente os temperos se assemelham muito aos que utilizamos por aqui, com a diferença de que usam carne equina com alguma frequência.
Dia 4 – 17 de março (Baikonur, Cazaquistão)
Acordamos muito cedo – uma hora mais cedo do que o necessário devido a uma confusão na internet que mostrava dois horários distintos para o mesmo local GMT+6 e GMT+5. A nossa programação era especial: acompanhar o “rollout” do Soyuz-2, que é o deslocamento do veículo desde seu hangar até a torre de lançamento. Foi nosso primeiro contato com a base de lançamento, ficamos bem perto do veículo lançador, foi uma experiência fantástica acompanhar essa etapa. Mas também foi o dia mais frio que tivemos por lá. O frio era tanto que as mãos ardiam muito ao tirar as luvas para tirar algumas fotos.
À noite, tivemos um jantar com comida e dança típicas do Cazaquistão. Nesta janta, conhecemos o CEO da GK Launch, e também fizemos vários contatos com outros representantes.
Dia 5 – 18 de março (Baikonur, Cazaquistão)
Para quem trabalha no setor espacial, visitar o Museu do Cosmódromo de Baikonur é algo muito emocionante. O primeiro satélite do mundo foi lançado ao espaço deste Cosmódromo, assim como foi de lá que o primeiro foguete levando um ser humano foi lançado – dentre vários outros feitos históricos. Inclusive, Baikonur é o primeiro e maior local de lançamento de foguetes do mundo.
Neste dia, pudemos ver, tocar, e até entrar (!) em diversos modelos de espaçonaves históricas lançadas pela antiga URSS. Um dos ápices da visita foi a possibilidade de entrar no ônibus espacial Buran (muito similar ao americano Space Shuttle), pudemos até entrar no cockpit para tirar algumas fotos. No final da visitação, tivemos a oportunidade de entrar e conhecer a casa onde Yuri Gagarin, cosmonauta soviético e primeiro ser humano a viajar pelo espaço, morou, assim como a casa de Sergei Korolev, engenheiro ucraniano e principal projetista de foguetes e de aeronaves soviético durante a corrida espacial. Korolev é amplamente considerado o pai da astronáutica soviética.
Após o almoço, o grupo fez uma visita no Baikonur International Space School, uma escola de ensino fundamental e médio totalmente voltada para o setor espacial. Recebemos palestras de alguns professores da instituição, que nos mostraram como cada uma das disciplinas tradicionais do ensino (matemática, física, química, etc.) são lecionadas com viés totalmente prático e voltado para o setor espacial. Na própria escola há inúmeros modelos de motores e outras partes de foguetes doados pela Roscosmos. Na escola, pudemos participar do lançamento de pequenos foguetes projetados pelos próprios alunos do ensino fundamental. Nesta ocasião, eu (Eduardo) fui um dos convidados a lançar o foguete a partir de um controle remoto.
Dia 6 – 19 de março (Baikonur, Cazaquistão)
O dia começou cedo, precisávamos fazer um teste de PCR antes do lançamento – se desse positivo, não poderíamos assistir ao lançamento e ainda ficaríamos 14 dias presos no hotel. Seria pior ainda se tivéssemos algum tipo de complicação (acho que esses pensamentos deixam claro nosso nível de tensão). Realizado o exame, partimos para nosso café da manhã. Inicialmente, achamos a comida matinal um pouco estranha, mas confesso que já estava me acostumando a comer mingau de grãos de aveia e kefir.
Saímos para o city tour e a primeira parada foi o monumento do Yuri Gagarin com os braços erguidos – mas, infelizmente, não estávamos no horário em que o sol aparenta estar entre seus braços. A próxima parada foi em um modelo de foguete Soyuz que fica exposto em uma praça. Na sequência, conhecemos o míssil intercontinental que poderia ter destruído Nova Iorque nos tempos de guerra fria. E, por último, visitamos alguns memoriais a vítimas de acidentes do programa espacial russo.
A última parada do dia foi o Museu da Cidade de Baikonur (Baikonur City Museum), outro museu bem interessante, bastante voltado às conquistas espaciais e programas espaciais, mas também abordando questões históricas da União Soviética e história local do Cazaquistão.
Dia 7 – 20 de março (Tentativa de lançamento)
No dia do lançamento, a previsão no dia anterior era de dia nublado, o que dificultaria muito a visualização. Para nossa surpresa, o dia estava limpo e muito ensolarado. O frio era tanto que o rosto ardia de ficar do lado de fora da tenda que prepararam para os participantes, onde eram oferecidos comes, bebes e televisões com câmeras ao vivo do pad (plataforma) de lançamento. O foguete possuía 38 satélites de 18 países diferentes. Havia muitos ônibus de diversos lugares. O local onde estávamos ficava a apenas 2,5 quilômetros do foguete. Tudo estava perfeito. Minutos antes do lançamento, vimos uma movimentação estranha nas câmeras que filmavam o foguete e logo depois ouvimos a triste notícia que o lançamento tinha sido adiado, sem receber nenhuma outra informação.
Uma mistura de tristeza e ansiedade no ar, pois muitos que estavam lá tinham passagem marcada para o dia seguinte.
Ainda na tenda do local de lançamento, recebemos subitamente um link no WhatsApp e um aviso: “entrem nesse link para a live”. Em poucos segundos, sem nada combinado, estávamos participando em uma live com o ministro Astronauta Marcos Pontes, direção da AEB, diretor do INPE, Reitoria da UFSM, gerência de nosso projeto e outros alunos participantes.
Mais tarde fomos informados que devido a uma não conformidade em um teste elétrico do lançador, o lançamento deveria ser adiado para o dia 22. Felizmente conseguimos contatar a agência de viagens e adiar nosso retorno.
Dia 8 – 21 de março (Baikonur, Cazaquistão)
O dia excedente que ficamos em Baikonur não pôde ser muito aproveitado. A cidade é extremamente restrita aos turistas, pois é uma cidade militar, totalmente voltada para o serviço de lançamento. Assim, não éramos autorizados a passear na cidade desacompanhados de alguém da organização. Aproveitamos esse tempo para estreitar laços e prospectar futuras colaborações com outras instituições participantes, como da Catalunha, Rússia e Eslováquia.
Realizamos um novo teste de PCR, já que o anterior não serviria mais para nosso voo de retorno.
Dia 9 – 22 de março (Baikonur, Cazaquistão e Moscou, Rússia)
O dia amanheceu nublado e com chuva leve, que permaneceu durante o lançamento. Apesar disso, a emoção sentida no momento de ignição dos motores é muito difícil de expressar: a vibração sonora era sentida no corpo, um barulho muito alto e grave. No rosto, sentíamos a onda de calor. É uma cena majestosa. Ficamos o tempo todo segurando nossa bandeira com muito orgulho de nosso país, de nossas instituições e de nossa equipe. Após alguns minutos do lado de fora, já sem sentir as mãos, os pés e o rosto devido ao frio de – 10º C, todos com muita emoção retornaram à grande tenda para acompanhar em tempo real a ejeção dos satélites e, é claro, brindar o sucesso desta etapa. Várias equipes levaram suas bebidas típicas de seu país para o brinde. Nós, é claro, levamos uma cachaça envelhecida para a comemoração. Ficamos felizes que todos à nossa volta se aproximaram para experimentar a bebida brasileira.
Retornamos rapidamente ao hotel, pois tínhamos cerca de uma hora para fazer as malas e, na sequência, fomos para um “jantar” de confraternização. Mas a única coisa que conseguíamos pensar era que nosso satélite em breve estaria em órbita e se teríamos alguma confirmação de seu funcionamento. Durante o jantar, algumas equipes tiveram a confirmação do funcionamento dos seus satélites, mas nós não tínhamos ainda nenhum sinal do nosso. Nossa expectativa era ter alguma confirmação do NCBR2 na chegada do voo em Moscou. Foi um voo tenso, ficamos o tempo todo falando sobre isso e discutindo sobre as possibilidades. Quando nosso voo tocou o solo russo, conseguimos sinal de celular e tivemos a confirmação que o NCBR2 havia sido rastreado com sucesso! Festejamos ainda dentro do avião.
Como nosso voo teve que ser adiado devido à mudança do dia de lançamento, a única passagem disponível de retorno que foi conseguida pela agência de turismo era dentro de quatro dias, que aguardamos em Moscou. Devido à Covid-19, vários voos internacionais foram muito reduzidos, fazendo com que, dependendo do lugar onde se estivesse, só houvesse um ou dois voos por semana para o Brasil.
Dias 10, 11 e 12 – 23 a 25 de março (Moscou, Rússia)
Decidimos aproveitar o tempo em Moscou para vários propósitos.
Tivemos uma tentativa frustrada de receber a vacina russa Sputnik V, pois havíamos visto em vários sites de notícias que até mesmo turistas poderiam recebê-la. Isso havia mudado poucas semanas antes, sendo agora gratuita apenas para residentes da Rússia. Notamos que os locais de vacinação estavam completamente vazios. Mais tarde descobrimos que, apesar de a vacinação estar bem avançada, ainda há desconfiança na vacina por parte da população.
Fizemos algumas reuniões com equipe de nanossatélite científico/tecnológico da Eslováquia, que estavam na mesma situação aguardando voo de retorno, e acabamos por receber um convite de parceria para próximos projetos.
Por intermédio da AEB (Agência Espacial Brasileira), recebemos convite para uma “visita cortesia” à embaixada do Brasil na Rússia. Lá fomos muito bem recebidos pelo embaixador e diplomatas, conversamos muito sobre nosso Projeto NANOSATC-BR, empresas russas envolvidas no lançamento e também em oportunidades de cooperação entre o projeto e instituições russas.
Ainda neste período, realizamos uma visita à sede da operadora GK Launch, que operou o lançamento do Soyuz-2. Neste local, fizemos reunião com alguns representantes da empresa e trocamos contatos para possíveis futuras cooperações.
Por último, obviamente também não deixamos de visitar o Museu da Cosmonáutica de Moscou. Um local muito grande, com tantas atrações e artefatos que poderíamos ficar um dia inteiro lá.
Dia 13 – 26 de março (retorno ao Brasil)
Em uma viagem com tantos contratempos, na tentativa de evitar a implacável lei de Murphy, fomos para o aeroporto com muita antecedência, pois, além do exame PCR, tínhamos que realizar o check-in e despachar nossas malas. Todas as partes deram errado. Novamente, o site de pagamento dos exames não funcionava com cartões brasileiros, e dessa vez não nos deram outras opções. Depois de muitas horas de tentativas, fomos salvos pela Embaixada Brasileira na Rússia, graças à visita que tínhamos feito no dia anterior.
Com os resultados do exame entregues apenas uma hora antes do voo, fomos (correndo) receber a nova surpresa no balcão de check-in: a área Schengen (que abrange 26 países europeus) está fechada para estrangeiros devido à Covid-19. Como no nosso voo de retorno havia um trecho dentro desta área (Suíça-Alemanha), nosso embarque não foi permitido. Muito frustrados com a situação, tentamos argumentar de várias formas com a responsável da empresa aérea, que nos deu duas opções: ficar mais seis dias em Moscou, até ter voo direto ao Brasil, ou ir para a Suíça e ficar no aeroporto (sem poder sair) por 30 horas até que houvesse voo direto para o Brasil. Escolhemos a segunda opção, pensando que a companhia nos daria algum apoio no aeroporto de Zurique. O aeroporto era pequeno – para as refeições havia apenas uma lanchonete e um duty free que fechavam muito cedo. Ficamos em um “hotel” dentro do aeroporto que fornecia sofás para descanso.
Muito cansados com a viagem de retorno de mais de 45 horas, chegamos ao Brasil já com sintomas de gripe. Cada um já em suas casas em Santa Maria e em quarentena, fizemos mais alguns testes PCR para sabermos se voltamos contaminados. O professor Eduardo testou negativo e o professor Andrei testou positivo – mas já se encontra totalmente recuperado e sem nenhuma sequela.
Trouxemos em nossa bagagem muitos contatos, propostas de colaboração, novas ideias, histórias e, principalmente, a sensação de missão cumprida da primeira etapa da vida de nosso nanossatélite da UFSM e INPE, a injeção em órbita.
*Texto: Eduardo Bürger e Andrei Legg.
Expediente:
Ilustradora: Yasmin Faccin, acadêmica de Desenho Industrial e bolsista
Mídia Social: Nathalia Pitol, acadêmica de Relações Públicas e bolsista, e Ana Ribeiro, acadêmica de Produção Editorial e voluntária
Edição de Produção: Esther Klein, acadêmica de Jornalismo e bolsista
Edição Geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas