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Tráfico de espécies silvestres ameaça a biodiversidade da fauna brasileira

Comércio ilegal é responsável pela retirada de 38 milhões de animais do Brasil a cada ano



Comércio ilegal é responsável pela retirada de 38 milhões de animais do Brasil a cada ano

O tráfico de animais silvestres não é apenas uma ameaça destrutiva para as espécies de animais e para a preservação da biodiversidade brasileira, como é também uma prática criminosa. De acordo com a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), a ação é considerada a terceira maior atividade ilícita do mundo e gera uma grande rede de pessoas envolvidas em negociações clandestinas, principalmente pela alta lucratividade.

Além disso, estima-se que o comércio ilegal movimente entre 10 e 20 bilhões de dólares por ano no mundo. Desse total, 10% corresponde ao Brasil, o equivalente a 38 milhões de bichos das nossas florestas e matas. Essas estimativas refletem o crescente risco de extinção de espécies e o aumento da exploração econômica e ambiental da fauna e flora brasileiras.  

Segundo a Renctas, de cada 100 animais capturados ilegalmente no país, 70 são vendidos em território nacional e 30 são destinados ao exterior. Um dos fatores que explica o Brasil ser uma das principais rotas do tráfico é a grande biodiversidade, o que o torna um alvo direto das quadrilhas e organizações criminosas.

Alvos dos traficantes de animais

As aves são os animais mais explorados para compra e venda no mercado ilegal, de acordo com a Renctas. Estima-se que aproximadamente 2 milhões de espécies sejam vendidas a cada ano no Brasil. Devido à habilidade de imitar a voz, muitas delas são procuradas com a finalidade de serem bichos de estimação. Já para os produtos de fauna, os répteis são os animais mais procurados, assim como as garças, para a exploração de penas.

Confira a seguir os tipos de tráfico por finalidade e espécies mais procuradas:

O caso da naja encontrada no Brasil 

Recentemente, um curioso caso de uma cobra naja repercutiu nas redes sociais. O estudante de Medicina Veterinária, do Distrito Federal, Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkul, foi picado pela serpente que mantinha em cativeiro em sua residência. 

O veneno liberado pela cobra no momento da picada levou o estudante a ficar em coma. Por não ser uma espécie nativa da América do Sul, as informações eram de que havia uma única dose de soro antiofídico no país para esse tipo de picada. A dose era propriedade do Instituto Butantan, centro de estudos biológicos da Universidade de São Paulo, e foi disponibilizada para salvar a vida do jovem. 

Alvo da Operação Snake, Pedro Henrique foi indiciado 23 vezes pela Polícia Civil do Distrito Federal pelo crime de tráfico de animais exóticos e silvestres. Além da naja, as autoridades encontraram outras 16 serpentes na região de Planaltina. Outras seis pessoas são investigadas por terem envolvimento com o caso, incluindo os pais, o padrasto e colegas de Pedro, e uma servidora do Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres do Ibama.

Incentivo à pesquisa e educação ambiental 

A orientação para combater o comércio ilegal de animais silvestres recai sobre o incentivo e o aumento de investimento em pesquisas que promovam a conscientização ambiental, bem como revisão da legislação vigente. Aqui na UFSM, uma pesquisa coordenada pelo Departamento de Ecologia e Evolução do Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE) atua diretamente nesta missão. Segundo a pesquisadora e diretora do CCNE, Sonia Zanini Cechin, o estudo busca compreender os padrões de diversidade e distribuição de anfíbios e répteis exóticos – espécies não-nativas no Brasil, introduzidas em um local onde não ocorrem naturalmente.

Na primeira etapa, foram mais de 2 mil registros de 154 espécies exóticas. Como resultado, verificou-se que o comércio de animais de estimação era o principal responsável pela circulação dessas espécies pelo país.

Já a segunda fase identificou e analisou quais fatores interferem no não cumprimento da legislação. A pesquisa também propôs medidas para auxiliar a elaboração de estratégias mais eficazes para gerenciamento sustentável da fauna nativa. 

É preciso que os esforços se concentrem na redução das deficiências da legislação, aumento de investimento em fiscalização e em ações educativas voltadas à conscientização ambiental”, ressalta Sônia. Para a professora, o comércio de animais silvestres é uma questão que envolve, além da conservação, tópicos como sustentabilidade, economia, saúde e educação. Nesse sentido, segundo a pesquisadora, o combate ao tráfico é multidisciplinar e deve envolver ciências sociais, econômicas e biológicas, bem como o contexto ambiental, político e socioeconômico de cada região. 

Alerta à saúde pública

Os riscos e as consequências do tráfico de animais são altamente perigosos não só em relação às ameaças de extinção das espécies nativas ou da movimentação econômica, ilegal e clandestina, que ocorre durante esse processo, mas também do ponto de vista da saúde para a população. 

Um dos exemplos disso é a atual pandemia do novo coronavírus, que segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) foi inicialmente causada pela exposição de humanos a animais silvestres, como o pangolim, no mercado atacadista de frutos do mar de Wuhan, na China. 

A probabilidade do surgimento de novos vírus e bactérias está potencialmente relacionada a este tipo de prática. Além do risco coletivo, o comércio ilegal pode ocasionar o envenenamento acidental das pessoas envolvidas no transporte desses bichos. 

São Braz: preservação da fauna em Santa Maria

Em Santa Maria, o Criadouro São Braz atua na recuperação e na proteção de animais silvestre resgatados por órgãos como o Batalhão Ambiental, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ambiental, Polícia Federal e Corpo de Bombeiros. A maioria dos bichos é encaminhada por estar em estado de maus tratos, em cativeiro devido ao tráfico ou ainda foram atropelados. 

A bióloga Rithiele de Sá, que trabalha no São Braz, explica que o processo de tratamento e soltura é complexo. “Recebemos desde animais saudáveis até os que morrem poucos minutos depois de chegarem, sem falar naqueles que já chegam mortos”, afirma. 

De acordo com a bióloga, quando um bicho chega ao criadouro é feito o registro de entrada. É necessário anotar o máximo de informações, para facilitar o processo de soltura. O procedimento de devolução à natureza é variável e segue as normativas do Ibama e da Secretaria do Meio Ambiente. 

“Muitas vezes quando o animal está em perfeitas condições e foi apenas trazido por estar em um local inconveniente, como a casa de alguém, é feita a soltura imediata. Mas, na maioria dos casos não é assim, pois recebemos uma quantidade muito grande de animais que precisam de cuidados, que chegam machucados ou são filhotes”, explica. 

O Criadouro oferece os cuidados necessários para a reabilitação e a soltura dos bichos. Alguns fatores levados em consideração durante esse processo são a área de distribuição da espécie e o local em que ele foi encontrado. A reabilitação dura de três a seis meses. O animal precisa ter condições físicas e habilidades mínimas para sobrevivência na natureza. Também são feitos exames para comprovar que está saudável e que a sua liberdade trará mais benefícios do que danos.

A pena para os crimes de maus-tratos de animais é de multa e detenção de seis meses a um ano. 

Denúncias nacionais e estaduais
  • Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)

Linha Verde/Central de Atendimento: 0800-618080.

E-mail: linhaverde.sede@ibama.gov.br  ou denuncia.sede@ibama.gov.br 

 

  • Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas)

E-mail:  renctas@renctas.org.b

 

Denúncias locais
  • Secretaria de Meio Ambiente

E-mail: fiscalizacaosm@santamaria.rs.gov.br 

 

  • Criadouro Conservacionista São Braz

Telefone:  (55)99118-3480 ou (55)99967-7707.

 

Expediente

Repórter: Natália Menuzzi, bolsista de Jornalismo

Ilustradora: Yasmin Faccin, estagiária de Desenho Industrial

Mídia Social: Nathalia Pitol, bolsista de Relações Públicas

Editora de Arte: Marcele Reis, bolsista de Publicidade e Propaganda

Editora de Produção: Melissa Konzen, bolsista de Jornalismo

Editor Chefe: Maurício Dias, jornalista

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