Em dezembro de 2020, ocorreu a inauguração do telhado verde do Jardim Botânico da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O projeto faz parte das ações extensionistas do Programa de Educação Socioambiental, que objetiva promover aspectos da engenharia sustentável – técnicas utilizadas para valorizar o meio ambiente e remediar impactos ambientais – e a divulgação acerca desse tema para a comunidade.
Telhado verde é uma estrutura ecologicamente viável, já que auxilia na diminuição da temperatura, não só da edificação em que foi construído, como também de centros urbanos. A alternativa tem outras vantagens, como a redução da poluição sonora (por meio das plantas); o auxílio na drenagem da água da chuva (o que evita alagamentos), além de propiciar o uso do espaço, por exemplo, para práticas de lazer e proporcionar uma estética mais agradável ao imóvel.
A Revista Arco entrevistou Simone Messina Gomez, coordenadora do Projeto “Telhado verde no Jardim Botânico da UFSM: engenharia sustentável, paisagismo e educação socioambiental”; e Rutineia Tassi, professora do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental. A conversa foi sobre os benefícios do telhado verde e assuntos relacionados à temática. Confira os tópicos conversados a seguir:
1 - Redução da temperatura
A cobertura vegetal ou o ecotelhado, como também é chamado, permite a redução das amplitudes térmicas – diferença entre a temperatura máxima e mínima – no local em que está implantada. A vegetação absorve boa parte da luz solar, o que reduz a quantidade de calor emitida – de volta – para atmosfera. Ou seja, a edificação com telhado verde demora mais para aquecer e para resfriar, o que permite a conservação de uma temperatura menor no ambiente interno, em comparação com estruturas sem a cobertura vegetal.
A redução das amplitudes térmicas tem dois benefícios: a diminuição do uso de ar-condicionado e das ilhas de calor nas áreas urbanas. Com a temperatura do ambiente interno reduzida, o consumo energético pode ser menor, já que a utilização de equipamentos condicionadores de ar – como ares-condicionado e ventiladores – será menos necessária.
As ilhas de calor ocorrem pela elevada capacidade de absorção de áreas como o asfalto e o concreto, além da falta de vegetação nas cidades e o alto índice de poluição. Devido a esses fatores, o ar atmosférico é mais quente e a umidade relativa do ar é mais baixa. A elevação da temperatura afeta a qualidade de vida da população, por isso uma das soluções para evitar ilhas de calor é aumentar as áreas verdes nos centros urbanos.
2 - Variedade das espécies de plantas utilizadas
Segundo a professora Rutineia, o telhado verde pode ser projetado com o Sistema Intensivo – maior profundidade do solo que permite plantas com raízes mais profundas, como árvores de pequeno porte, pequenos arbustos e até mesmo com a possibilidade de plantar cenoura, tomate e beterraba. Também pode ser feito de acordo com o Sistema Extensivo – mais restrito, acomoda espécies com raízes superficiais, como gramíneas e suculentas.
O Sistema Extensivo é o mais comum no Brasil, visto que requer menor manutenção e a estrutura é mais acessível em relação ao investimento necessário para executar o projeto. O telhado verde do Jardim Botânico da UFSM é baseado no Sistema Extensivo. Simone comenta que as espécies de plantas utilizadas para as coberturas vegetais precisam ser adaptadas para receber intensa luz solar e ter a característica de armazenar uma quantidade grande de água. A técnica em paisagismo pela UFSM, Daiane Oliveira, desenvolveu o projeto paisagístico no telhado verde do Jardim, no qual se destacam as suculentas, bromélias e cactos.
3 - Biodiversidade em áreas urbanas
Em espaços urbanos, os locais podem ser designados para atividades de lazer como caminhadas, yoga e leitura. Além disso, é uma maneira de recuperar áreas verdes para ampliar a biodiversidade nessas áreas, já que diversos insetos e aves começam a frequentar a cobertura.
Outros benefícios são em relação à qualidade do ar e à acústica da edificação. Na região do telhado verde ocorre a filtragem do ar, o que possibilita um maior bem-estar para a população. Já as diferentes camadas que formam a infraestrutura diminuem o nível de ruído que passa para o ambiente interno.
4 - Soluções baseadas na natureza
Os telhados verdes fazem parte de um conjunto de técnicas denominadas soluções baseadas na natureza. O ecotelhado é uma alternativa sustentável para reduzir as inundações em espaços urbanos.
A infraestrutura permite a absorção da água da chuva pela vegetação, além de ter um sistema de drenagem para armazenar a água escoada, que depois pode ser usada para a própria vegetação. Rutineia explica que é “como se fosse um pratinho embaixo do vaso da planta”.
5 - História da técnica do telhado verde
A técnica do telhado verde teve sua origem na Mesopotâmia, onde as estruturas arquitetônicas eram constituídas por vegetação. Os Jardins Suspensos da Babilônia, uma das sete maravilhas do mundo antigo, é a obra mais famosa da antiguidade com o uso dessa técnica.
No Brasil, durante a década de 1930, foi feita a primeira construção, o Ministério da Educação e Saúde, localizado no Rio de Janeiro. Esse prédio fez parte de um projeto paisagístico no qual o arquiteto Oscar Niemeyer participou, junto com o artista plástico Burle Marx que realizou o planejamento vegetal.
Em 2015, o município de Recife, em Pernambuco, sancionou a Lei Nº 18112, que decreta que os projetos de edificações habitacionais multifamiliares com mais de quatro pavimentos e não habitacionais com mais de 400m² de área coberta deverão prever a implantação de telhado verde para sua aprovação.
Expediente:
Reportagem: Eduarda Paz, acadêmica de Jornalismo e bolsista; e Gustavo Salin Nuh, acadêmico de Jornalismo e voluntário;
Fotografias: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;
Tratamento de imagem: Cristielle Luise, acadêmica de Desenho Industrial e bolsista;
Mídia social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Rebeca Kroll, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Alice dos Santos, acadêmica de Jornalismo e voluntária; Gustavo Salin Nuh, acadêmico de Jornalismo e voluntário; e Ana Carolina Cipriani, acadêmica de Produção Editorial e voluntária;
Relações Públicas: Carla Costa;
Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;
Edição geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas.