Com frequência vemos campanhas procurando doadores de sangue para pessoas com algum problema de saúde. Mas você sabia que seu cão também pode doar e receber sangue de outros cachorros? Assim como nas transfusões feitas entre seres humanos, a doação de sangue de um cachorro para outro tem como objetivo auxiliar no tratamento de doenças, como hemorragias e anemias, além de ajudar em processos cirúrgicos.
Entre os cães, como ocorre com as pessoas, existe uma classificação para diferenciar o sangue. Nos humanos, o grupo ABO registra os tipos A, B, AB e O. Já para os cachorros, o chamado sistema DEA (Dog Erythrocyte Antigen) aponta os tipos DEA 1.1, DEA 1.2, DEA 1.3, DEA 3, DEA 4, DEA 5 e DEA 7, sendo os dois primeiros os mais comuns na população canina.
Apesar dos componentes do sangue – células, hormônios, nutrientes e outros – serem os mesmos em humanos e cachorros, a doação de uma espécie para a outra não é possível. Saulo Pinto Filho, professor adjunto de clínica médica de pequenos animais do curso de Medicina Veterinária da UFSM, explica: “Existem diferenças genéticas, como o número de cromossomos – sequências de DNA – particulares de cada espécie. Por isso, não se pode transfundir sangue de um cão para um humano”.
Como funciona a doação?
Se você já doou sangue ou viu uma coleta ser realizada em um humano, sabe que o líquido é retirado de uma veia do braço. Entretanto, com os cães o processo é um pouco diferente. Na maioria dos casos, os veterinários extraem o sangue da veia jugular do animal, na região do pescoço. Depois, o colocam no receptor através da veia cefálica, na pata do cachorro. Para realizar o processo é necessária a remoção dos pelos do animal na região em que a transfusão é feita.
Para o cachorro Apólo, que doa sangue desde 2015 no Hospital Veterinário Universitário (HVU) da UFSM, o procedimento é tão simples que ele até dorme durante a coleta. Sua tutora, Larissa Schlottfeldt, conta que o animal doou pela primeira vez quando a mãe estava doente: “a Hebe era a cachorra do meu irmão. Durante anos ela sofreu com uma patologia desenvolvida na gestação. Quando o Apólo tinha um ano, ela precisou de doação de sangue”. Desde então, o rottweiller frequenta o hospital a cada três meses – intervalo de tempo mínimo entre cada doação – para ajudar outros cães.
Apesar de existirem cães como o Apólo, que doam regularmente, a coleta de sangue entre cachorros ainda é pequena. No HVU estão registrados 62 doadores, enquanto o ideal seria ter em torno de 200. Saulo Filho conta que, na maioria dos casos, o sangue é transfundido no receptor logo após a coleta, sem ficar armazenado. Isso ocorre devido à escassez de doadores, já que muitas pessoas não imaginam que seus pets podem doar.
Quer fazer o bem e levar seu cão para doar sangue? O laboratório do HVU fica aberto para coleta de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 17h. O procedimento é simples e retira 400 mililitros de sangue. Os gatos também podem doar, basta ter no mínimo quatro quilos, estar em boas condições de saúde, ter feito os exames necessários e estar cadastrado na lista de doadores do HVU.
Reportagem: Paulo César Ferraz, acadêmico de Jornalismo
Edição: Andressa Motter, acadêmica de Jornalismo
Ilustração: Yasmin Faccin, acadêmica de Desenho Industrial
Fotografia: Larissa Schlottfeldt/arquivo pessoal