Por Marizete Vargas Pereira*
No final do meu curso de Pedagogia, em 2004, escolhi o Ipê Amarelo e uma turma de crianças, de dois a três anos, para realizar meu estágio curricular. O primeiro semestre foi de observação, para conhecer os alunos e identificar suas necessidades. A partir daí, elaborei um projeto de ação pedagógica para executar no segundo semestre, no qual pontuei estratégias e referenciais teóricos para tentar superar as dificuldades das crianças.
Os principais problemas, que realmente me impactaram, foram a dificuldade de comunicação entre crianças e adultos, e o total desinteresse delas pelas atividades propostas. Foi sofrido percebê-las como que subjugadas ao adulto, totalmente incompreendidas e sendo subestimadas em sua capacidade de conhecer e compreender as coisas e o mundo.
A cada proposta minha, a professora falava “isso não vai dar certo, profe”. Em um dos planejamentos para introduzir o projeto, que tinha como objetivo conhecer o meio ambiente, levei o globo terrestre para a sala. A regente, muito contrariada, me disse “as crianças não vão entender nada; para elas, vai ser só uma bola”. E assim seguimos nossa batalha até que concluí o estágio.
Ao escrever o artigo final, a partir dessas reflexões e ao ler como alguns autores discutiam os pontos que considerei críticos, dei-me conta de que a comunicação era ruim por um problema maior: para conhecer de fato as crianças é preciso ouvi-las e respeitá-las em sua forma de ser e estar no mundo. Só assim seria possível propor coisas que fossem de fato interessantes a elas.
Em março de 2015, voltei para a Unidade de Educação Infantil Ipê Amarelo como servidora e, desde então, atuo no apoio pedagógico. Durante esse tempo, devido à natureza das atividades deste setor, participo de todo o processo, circulo em todos os ambientes e atuo em praticamente todas as atividades que acontecem na escola, onde interajo com adultos e crianças.
Hoje, ao viver o momento em que a escola comemora seus 30 anos de existência, sinto-me muito feliz. Não só por estar de volta, agora como servidora, mas também por perceber que as metas que defini ao preparar meu projeto de estágio, agora são uma realidade.
Apesar das limitações e dificuldades de toda ordem, podemos dizer que aqui as crianças têm voz. São ouvidas, respeitadas nas suas singularidades e protagonistas no processo de construção do conhecimento. Enfim, vejo-as felizes! Isso me alegra e me realiza, pois a tarefa de educar crianças pequenas é uma dádiva. Para além da grandeza, complexidade e delicadeza que se requer, essa atividade é, para o adulto, a possibilidade de também reencontrar a própria infância. É o que os professores tanto falam: ao educar, mais se aprende do que se ensina…
Ilustração e diagramação: Yasmin Faccin
*Marizete Vargas Pereira é técnica em educação da Unidade de Educação Infantil Ipê Amarelo
***Matéria publicada na 11ª edição impressa da revista Arco.