É possível uma estrutura feita com espaguetes resistir ao peso de duas pessoas suspensas? Os alunos da Engenharia Civil da UFSM provam que sim. O terceiro Concurso de Pontes de Espaguete reuniu 11 equipes dispostas a quebrar recordes – e conseguiram: 150,385 quilos foi o peso suportado pela ponte campeã, quase o triplo do alcançado até o momento na competição. Nela, os alunos são desafiados a representar pontes em escala reduzida e, para isso, devem propor geometrias eficientes, capazes de suportar o máximo de peso em seu eixo central.
Rodrigo Burmann, Diego Dahlke, Felipe Moreno e Vinícius Lucero, alunos do 3º semestre do curso, foram os responsáveis pelo recorde. O grupo ficou em segundo lugar na edição passada, com uma ponte que aguentou 25 quilos. “Utilizamos a mesma geometria nas duas oportunidades. O que mudou dessa vez foi o arco, que no ano passado era maciço e neste ano foi oco, e a ponte, que tinha seis raios e nesta competição tinha oito”, explica Rodrigo.
Os termos parecem complicados, mas o professor do Departamento de Estruturas e Construção Civil do Centro de Tecnologia (CT) da UFSM, André Lübeck, esclarece que a ponte vencedora utilizou as treliças em forma de arco romano, uma das mais básicas existentes. “Ela é grossa em cima, onde está o arco, e tem espaguetes mais finos formando os raios, como se fosse a roda de uma bicicleta. No fim, ela é eficiente por isso: quem precisa estar comprimido, é grosso, e quem pode trabalhar como se fosse um raio de bicicleta e vai ser tracionado, é fininho”, explica André.
O Concurso de Pontes de Espaguete é promovido anualmente pelo Programa de Educação Tutorial (PET) da Engenharia Civil da UFSM, em parceria com o CT e a coordenação do curso de Engenharia Civil. A intenção é fazer com que os alunos apliquem os conhecimentos adquiridos em sala de aula em atividades descontraídas.
O líder do concurso pelo PET, Mateus Escarban, comenta que a ponte é a estrutura escolhida por ser de fácil imitação, principalmente com o uso do espaguete, um elemento que se “assemelha” ao aço e ao concreto. André complementa: “o espaguete funciona bem porque, quando esticado, tem boa resistência, e quando comprimido, flamba, da mesma forma que uma barra de aço”. Segundo o professor, ainda que existam outras possibilidades de materiais, como palitos de picolé, o uso de espaguete já é tradicional. “A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) já é conhecida pela competição. Lá, algumas pontes recordistas foram estudadas, inclusive, em projetos de trabalho de conclusão de curso”, compartilha o professor.
Nesta edição, para desenvolver as pontes, as equipes tinham à disposição macarrão do tipo espaguete, cola epóxi e cola quente em pistola. Para a construção, puderam utilizar tubos de PVC e uma barra de aço. Conforme o edital publicado pelo PET, a ponte deveria ter até 750 gramas de peso-próprio, largura entre cinco e 20 centímetros, e altura máxima de 50 centímetros, além de ser indivisível – ou seja: sem partes móveis ou encaixáveis.
Com os materiais e as instruções em mãos, segundo o professor André, o problema a resolver na ponte de espaguete era o mesmo que em uma ponte real: vencer um vão sendo o mais eficiente possível. No entanto, a premissa do dimensionamento é um pouco diferente. “Em uma ponte real, são considerados outros elementos, como cargas em movimento, vento, água e temperatura, além do próprio peso do material. Na ponte de espaguete, a estrutura deve ser pensada para suportar um peso fixo central. Isso quer dizer que se a força fosse colocada em uma das extremidades, por exemplo, talvez a ponte deixasse de ser eficiente”, expõe o professor.
Os alunos tiveram de maio a junho para desenvolver as estruturas. A equipe de Luciano Michelin, que está no 2º semestre da Engenharia Civil, participou pela segunda vez do concurso. No semestre passado, a ponte feita com a estrutura em arco suportou nove quilos. Nesta edição, o grupo apostou no nome “Agora Vai!” e dimensionou uma ponte em treliça, feita para aguentar 50 quilos – mas que só resistiu a quatro. “É provável que alguma parte tenha ficado torta em cima da ponte. Mas no ano que vem, tentamos de novo. Estamos recém no segundo semestre”, planeja Luciano.
Mateus comenta que, pela experiência das edições anteriores, o diferencial das pontes está na execução. “Pontes com projetos mais elaborados poderiam ir melhor, porém geralmente os grupos que se destacam são aqueles que executam a ponte com mais qualidade: as ligações têm que ser bem feitas, as colas têm que ser bem misturadas. Isso faz toda a diferença”, explica o líder da atividade.
A intenção, segundo Mateus, é propor novos desafios para bater novos recordes: “Na última edição, nosso recorde foi de 59 quilos, e nesta, de mais de 150. O maior peso alcançado no país, até agora, foi de cerca de 200 quilos. Vamos seguir incentivando os alunos a aplicarem os conhecimentos adquiridos em sala de aula, em atividades como essa, de maneira descontraída. Esse é o principal objetivo do PET: auxiliar o curso e os alunos”.
Reportagem: Andressa Motter
Colaboração: Laura Storch
Infográficos: Pollyana Santoro
Fotografias: Rafael Happke