Nascido em Porto Alegre, Frederico Richter é um exemplo de dedicação à música. Frerídio, como é conhecido pelos amigos, cresceu em uma família de músicos e desde cedo teve contato com diferentes artistas e vertentes musicais.
“Iniciei na música por vocação. Sabia que seria músico desde que me conheço por gente. Com oito anos já sabia o que eu queria”, declara.
Casado com Ivone desde 1957, o maestro fundou a Orquestra Sinfônica de Santa Maria no ano de 1966, lecionou por 33 anos no curso de Música da UFSM e é autor de mais de mil composições, principalmente do estilo eletroacústico.
Atuou como primeiro violinista da Orquestra de São Paulo (Ospa) e contribuiu com as Orquestras de Porto Alegre e de Montevidéu. Em 1987, foi professor convidado em uma das maiores faculdades de música da Alemanha, a Hochschule für Musik de Hamburg, onde foi pesquisador, conferencista, músico e docente.
Espírito pioneiro
Em 1966, Frederico fundava a Orquestra de Santa Maria. “Eu vi desde o começo que criar uma orquestra não era tão simples. Dá muito trabalho e tem que ter a confiança dos músicos. Fiz uma orquestra possível, no sentido de que não se tinha todos os instrumentos”, explica o regente.
“Tem que ter um espírito realmente pioneiro”, elucida Ivone sobre a iniciativa do companheiro.
Inicialmente, devido ao pequeno número de músicos – cerca de 20 -, a Sinfônica tinha características de uma orquestra de câmara. Era integrada por músicos da capital, que tocavam na Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) e ensaiavam em Santa Maria nos finais de semana.
A partir da associação entre a Universidade, a comunidade e a prefeitura, a orquestra se tornou sinfônica. Com o tempo, estudantes de Música, artistas locais, militares e amadores, juntaram-se ao grupo.
Após 22 anos à frente da Orquestra Sinfônica de Santa Maria, Frederico contou com o auxílio de Enio Guerra, que após dez anos assumiu o comando. Em 2014, os professores Marco Antonio de Almeida Penna e Alexandre Jacques Eisenberg assumiram a regência. Atualmente, o professor João Batista Sartor é o responsável pela Orquestra. Todos os ex-regentes foram homenageados em cerimônia organizada pela Reitoria e pela Pró-Reitoria de Extensão em 14 de março deste ano.
A música eletroacústica
Além de deixar seu nome registrado no comando de orquestras, Frederico é referência na música eletroacústica, tema de seu pós-doutorado em composição e música eletrônica pela University McGill em Montreal, no Canadá, concluído em 1981. O maestro apresentou trabalhos deste estilo no Laboratório de Música de Eletroacústica, na Universidade do Rio Grande do Sul.
O estilo eletroacústico foi introduzido, em 1940, pelo engenheiro eletrônico Pierre Schaeffer da Radiodifusão Francesa. Na época, Schaeffer criou sequências sonoras próprias com o ruído do rádio. Os estudos foram introduzidos em 1952 pelo compositor alemão Karlheinz Stockhausen, que descobriu como produzir sinteticamente com precisão sons e ruídos.
Diferentemente das batidas dos DJs, a eletroacústica pode ser composta de duas maneiras: com a gravação e manipulação do som original dos instrumentos; ou a partir da criação do som de instrumentos com o sintetizador. Assim, um concerto de música eletroacústica não tem executantes. Tudo é gravado.
A seguir é possível ouvir a composição eletroacústica Metamorfoses, de Frederico:
Tocador de áudio
Sobre a contribuição do companheiro, Ivone comenta que as obras dele formam um conjunto eclético que fala por si só. “São o próprio som da música brasileira”, comenta.
“Beethoven disse que a música fala mais que a filosofia”, observa. “Quando falo de Beethoven eu me emociono. Quando eu falo em música eu me emociono”, complementa. Para finalizar, questiona: “Se não tem poeta, não tem música e vice versa. Tem que ter sensibilidade para isso. Viva a música!”.
Músico por vocação
Autor de quase mil obras, entre sinfonias, peças sinfônicas com coro e para orquestras, o criativo músico ministrou disciplinas ligadas à maestria na UFSM. Também
“Quando se têm uma obra nova, o primeiro passo é conhecê-la, entender o contexto e a época de criação”, ressalta o regente. Este processo é importante já que não pode haver divergências de apresentação da mesma obra por maestros diferentes – exceto aquelas que permitem maior liberdade interpretativa. “Maestro tem que seguir exatamente o que o autor quer, de forma que essa é sua maior grandeza”, afirma.
Reportagem: Bibiana Pinheiro, acadêmica de Jornalismo
Ilustração: Lidiane Castagna, acadêmica de Desenho Industrial
Fotografia: Rafael Happke
Edição de produção: Andressa Motter, acadêmica de Jornalismo