Estudar em um país e em uma cultura diferente tende a ser uma experiência enriquecedora para qualquer um. Além de ser uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional, o intercâmbio entre faculdades enriquece a ciência por meio da contribuição de pesquisadores internacionais.
No entanto, chegar a um país diferente, com outro idioma, outros hábitos e novas rotinas tende a ser desafiador. Os argentinos Gonzalo Prudkin e Malva Mancuso são docentes na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e, mesmo que tenham vindo de um país com grande proximidade com o Brasil, relatam como foi a experiência de integração com a comunidade acadêmica local.
Trocas internacionais na área de comunicação
Gonzalo Prudkin é professor do Departamento de Ciências da Comunicação da UFSM campus Frederico Westphalen. No Brasil há 16 anos, hoje casado e com duas filhas brasileiras, ele conta que conversa com suas pequenas nos dois idiomas e se emociona quando as vê praticando as duas línguas maternas. O professor relata, ainda, que já sofreu preconceito por conta do sotaque carregado. Ele carrega na fala suas raízes e veio ao Brasil em uma época em que era necessário saber falar bem o idioma para conseguir oportunidades dentro da academia.
Atualmente, Gonzalo estuda a preservação do patrimônio cultural imaterial do Rio Grande do Sul, que são os bens culturais que dizem respeito àquelas práticas e domínios da vida social, que se manifestam nos saberes, ofícios, celebrações e formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas. Estes ocorrem não só em lares ou nas ruas, mas também em lugares como mercados, feiras e santuários que abrigam práticas culturais coletivas. Além disso, o professor usa da aplicação de técnicas jornalísticas digitais para a conservação da memória da arte guasqueria, um ofício artesanal que trabalha com couro cru, técnica passada adiante a partir da transmissão oral do processo de trabalho com o material. É possível ouvir o podcast do projeto, chamado “Memória Guasqueira”, que entrevista guasqueiros por todo o estado.
Suas experiências e vivências também o levaram a fazer parte de um projeto de pesquisa da UFSM que discute Línguas, Políticas e Mídias no Brasil, coordenado pela sua colega de departamento, professora Andréa Weber, que também é sua esposa. O projeto se propõe a estudar a política de línguas inscrita em normativas para a mídia e em narrativas midiáticas que são publicadas pelo Brasil. Essa investigação possibilita que estudantes de comunicação possam potencializar seus conhecimentos acerca da linguística ao envolver os veículos em que possam trabalhar futuramente. A contribuição da iniciativa está no aperfeiçoamento das práticas comunicacionais e no fomento de uma relação linguística adequada de jornalistas e relações públicas com seu público, o que evita a difusão de preconceitos linguísticos na mídia ou nas instituições que venham a ser assessoradas por esses profissionais.
Trocas internacionais na área de tecnologia ambiental
Professora do Departamento de Engenharia e Tecnologia Ambiental da UFSM no campus de Frederico Westphalen, Malva Mancuso veio da Argentina em busca de novas experiências. A hidrologista conta que o local onde atua hoje é privilegiado por conta das águas amazônicas que descem por canais e deságuam nos arredores de Frederico Westphalen, lugar onde mora e trabalha. Esse aspecto é o que impulsiona suas pesquisas, que têm como foco as águas ao redor do mundo, aquíferos e sustentabilidade.
No Brasil, a professora participa de um projeto internacional no âmbito da Ciência e Inovação, vinculado ao Serviço Geológico do Brasil com financiamento da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). A iniciativa tem o objetivo de testar, desenvolver e difundir pesquisas e técnicas para estudo de águas da chuva, superficiais e subterrâneas, como uma ferramenta de apoio à gestão de recursos hídricos no país. Malva também é representante Institucional do Comitê de Águas da UFSM no âmbito da Associação de Universidades do Grupo Montevidéu – AUGM.
Segundo a professora, que é naturalizada brasileira, o acolhimento no Brasil é um dos melhores do mundo. Ela conta que é migrante faz tempo e já morou em outros países, como em Portugal, mas não vê a receptividade de outros lugares do mundo como a das terras tupiniquins. Para ela, esse aspecto é um diferencial que pode influenciar a escolha pela permanência de intercambistas: “Quem vem de fora tem muita dificuldade por deixar sua cultura para trás”, desabafa a pesquisadora. Apesar de hoje considerar seu português muito bom, ela acredita que uma das maiores barreiras para a internacionalização seja a língua, principalmente daqueles que têm a língua materna muito diferente do português.
Para se tornar um intercambista
Visando ampliar a inserção da UFSM no cenário acadêmico-científico mundial, a Secretaria de Apoio Internacional (SAI) oferece editais e oportunidades de intercâmbios para estudantes, docentes e técnicos-administrativos em educação. Atualmente, a UFSM possui convênios bilaterais com centenas de Instituições ao redor do mundo, 5 delas podem ser conhecidas nesta matéria da Arco.
Expediente:
Reportagem: Emilly Calderaro, acadêmica de Jornalismo e estagiária; e Gabrielle Pillon, acadêmica de Jornalismo e bolsista;
Design gráfico: Julia Coutinho, acadêmica de Desenho Industrial e voluntária; e Noam Wurzel, acadêmico de Desenho Industrial e bolsista;
Mídia social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Gabriel Escobar, acadêmico de Jornalismo e bolsista; e Nathália Brum, acadêmica de Jornalismo e estagiária;
Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;
Edição geral: Luciane Treulieb e Mariana Henriques, jornalistas.