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Produção de flores como forma de renda

Oitava fase do projeto Flores Para Todos conta com o plantio de quatro culturas diferentes



 O Flores Para Todos, projeto de extensão da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), teve início no final de 2017 com a proposta de ser uma ligação entre os conhecimentos desenvolvidos na academia e a sociedade, os agricultores e as escolas.  O projeto é uma parceria da Equipe PhenoGlad com a Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) Ascar Regional de Santa Maria. A primeira produção foi em 2018,  com  a cultura de gladíolos como alternativa de renda para o pequeno produtor rural de municípios da região central do Estado. Atualmente, está na sua oitava fase e conta com o cultivo de gladíolos, statice, girassol de corte e dália.

Desde o início até a fase atual, o projeto já abrangeu 157 famílias, 130 municípios, 23 escolas do campo e se fez presente em dez estados brasileiros – das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Os objetivos do Flores Para Todos são a agregação de renda para os produtores, visto que em sua maioria são horticultores – produzem hortaliças e frutas – e não possuem como produto principal as flores. A introdução das espécies no campo possibilita ao trabalhador rural a não dependência de importações das plantas – o que elevaria o custo do produto para a comercialização. Além disso, as equipes do projeto auxiliam na conservação do solo e da água para gerar uma produção sustentável. 

Nas escolas do campo, o Flores Para Todos tem como intuito agregar  ao currículo escolar as atividades ligadas à produção rural, o que configura uma maneira de os alunos obterem conhecimento e transferi-lo aos familiares. As flores cultivadas nas escolas não visam à comercialização, como no caso dos produtores rurais, mas sim serem objeto de estudo para os alunos – para que eles conheçam os processos de manejo e colheita. Além disso, as flores também são utilizadas como decoração em datas especiais,como em formaturas e no Dia das Mães.

Características das flores cultivadas 

Para Lilian Osmari Uhlmann, professora do Departamento de Fitotecnia da UFSM e coordenadora da equipe PhenoGlad do campus Santa Maria, as similaridades entre as culturas do gladíolo, da statice, do girassol de corte e da dália são: 

– Cultivo a céu aberto. Não precisam de um ambiente controlado, como uma estufa;

– Propagação (proliferação) e manejo fáceis;

– Baixo custo de produção, pois utilizam utensílios e ferramentas que os produtores possuem na propriedade, e não precisa de custo adicional com novos instrumentos.

– Ótima aceitação pelos consumidores;

– Apresentam ciclos curtos. Lilian comenta que o ideal é entre setenta a noventa dias para começar a colher as flores. 

A coordenadora também elencou, a pedido da Arco, características específicas do processo de produção de cada uma das flores cultivadas pelo projeto. Confira a seguir:

Gladíolo

Fotografia horizontal e colorida de um gladíolo rosa claro. Detalhe do cacho de clores com cinco flores. Ao fundo, em desfoque, folhagem verde.
Gladíolos do projeto.
Fotografia horizontal e colorida de um gladíolo amarelo, com o centro em laranja. Eles está centralizado. A fotografia é em detalhe do cacho de flores. Na flor superior, ao centro, abelha amarela e preta. O fundo é desfocado, com folhagens e campo verdes.

– Presente em todas as oito fases do projeto. É a principal espécie cultivada;

– Também chamada de Palma de Santa Rita. Era utilizada com frequência na época do Dia de Finados, mas hoje em dia não é usada somente para essa data específica;

– Propagação vegetativa através de bulbos. Pode ser plantada direto na terra, com espaçamento adequado;

– Produz apenas uma haste floral ( parte que sustenta as flores);

– Pode ser cultivada durante o ano todo no Rio Grande do Sul, já que a região possui as quatro estações do ano definidas entre si.

Statice

Fotografia vertical e colorida de um buquê de statices roxas e brancas. O buquê é cheio e arredondado. As flores são pequenas e formam círculos. O fundo é uma parede branca.
Arranjo de statices

– Implantada a partir da sexta fase do Flores para Todos;

– Proliferação através de sementes. “O produtor precisa produzir a muda na bandeja, como se faz com hortaliças como o tomate. Depois, ela é transplantada para a terra”, afirma Lilian;

– Pode ser colhida em maços. Além disso, a espécie pode ser secada após o cultivo, o que permite que seja conservada por até um ano;

– A statice continua brotando mesmo após a primeira colheita. Por isso, realizam-se várias colheitas;

– Dentre as quatro espécies, é a que necessita de menos irrigação. Caso ocorram chuvas frequentes e/ou intensas no período de colheita, pode haver prejuízos para o produtor rural;

– A produção durante o inverno torna-se difícil, devido às baixas temperaturas. O período com resultados mais satisfatórios é a partir de setembro e outubro.

Girassol de corte

Fotografia horizontal e colorida de uma plantação de girassol de corte. No centro da imagem, em primeiro plano, três flores de girassol grandes em destaque. O fundo é desfocado.
Plantio de Girassol de corte.

– Começou a ser implementada a partir da sétima fase;

– O girassol de corte possui durabilidade maior do que aquele cultivado para produção de sementes. Após ser colhido, permanece bonito de uma a duas semanas dentro de um vaso;

– Propagação através de semente, como a statice;

– Produz apenas uma haste;

– A haste é cortada para ter em torno de 70 centímetros de comprimento, a fim de se adaptar da melhor forma dentro dos vasos;

– Como a statice, o girassol de corte tem dificuldades de produção durante o inverno.

Dália

Fotografia horizontal e colorida de uma dália rosa. A flor está em detalhe e tem várias pétalas finas, com as menores ao centro e as maiores nas extremidades. O fundo é verde.
Dálias do projeto.
Fotografia horizontal e colorida de uma dália branca. A flor tem várias pétalas finas, sendo as menores no centro e as maiores nas extremidades. O fundo é verde.
– Entrou na oitava fase do projeto;
– Proliferação vegetativa, por meio de raízes tuberosas. Pode ser plantada diretamente na terra, como o gladíolo;
– No desenvolvimento da haste floral, precisa de uma quantidade considerável de água;
– É preferível o cultivo no verão, visto que as altas temperaturas ajudam a dália a se desenvolver de forma satisfatória para a colheita;
– Após a colheita, a planta continua brotando;
– Usada bastante como planta de jardim.

Experiência dos produtores rurais e das escolas

Durante alguns períodos da pandemia, o projeto precisou diminuir as visitas no campo para assessorar os agricultores. Assim, a equipe PhenoGlad disponibilizou vídeos no YouTube como forma de auxiliar os produtores, que também contaram com o auxílio da Emater. “Existe toda uma conexão e suporte de ambas as partes”, destacam Maria Carvalho e Diesser  Mota, que trabalham com agricultura familiar e ingressaram, há três anos, no projeto Flores Para Todos. Além das quatro espécies, os produtores rurais cultivam também frutas, verduras e legumes.

Vanessa de Morais Tolledo é supervisora escolar da Escola Municipal de ensino fundamental Nossa Senhora de Fátima em Cachoeira do Sul. Antes de a escola ser parte do Flores Para Todos, já tinha um projeto sobre identidade rural, iniciado em 2015. O intuito é realizar um trabalho diferenciado, de acordo com a realidade no campo, para que alunos e comunidade valorizem o local no qual estão inseridos e que possam desempenhar diversas atividades para gerar renda extra. “Esta é a importância do Flores Para Todos para a escola: o projeto apresenta essas possibilidades aos alunos e suas famílias”, afirma Vanessa.

A supervisora escolar ressalta a boa recepção e adaptação do projeto, tanto pelos alunos quanto pelos professores. Como exemplo, ela apresenta o “Gladionário”, que é um dicionário sobre gladíolos produzido pelos estudantes de sexto a nono ano da escola. O trabalho mostra os termos científicos, o manejo e a experiência dos próprios alunos em relação ao cultivo da flor. Agora, na oitava fase, a escola também começou a plantar statice e dália.

Fotografia vertical e colorida da capa do Gladionario. No centro, fotografia vertical de um cacho de gladíolo rosa claro. No centro superior, sobre cilindro bordô, em branco e caixa baixa, o título "Gladionário", e "- o dicionário dos gladíolos -". O fundo é branco.

PhenoGlad Mobile

O aplicativo para dispositivos móveis, PhenoGlad Mobile, tem o nome derivado de fenologia – relações entre os processos ou ciclos biológicos – e de gladíolos, que é a principal flor do projeto. A ferramenta possibilita aos produtores programar o plantio do gladíolo para que a colheita seja em uma data específica.

“Por exemplo, se eles querem cultivar para o Dia de Finados, então, pelo aplicativo, eles conseguem saber o dia certo que as flores precisam ser plantadas. Isso é específico para cada município do Rio Grande do Sul e também de Santa Catarina, que são os dois locais em que o app está disponível”, comenta Lilian. O PhenoGlad Mobile necessita de uma série de informações para funcionar, como o clima, o local e os dados meteorológicos. A engenheira agrônoma relata que o aplicativo está em construção para ser utilizado em outros estados.

Expediente:
Reportagem: Eduarda Paz, acadêmica de Jornalismo e voluntária;
Tratamento de imagem: Noam Wurzel, acadêmico de Desenho Industrial e bolsista;
Mídia Social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Alice Santos, acadêmica de Jornalismo e voluntária; Rebeca Kroll, acadêmica de Jornalismo e voluntária; Martina Pozzebonn, acadêmica de Jornalismo e estagiária;
Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;
Edição Geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas.
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