A indústria do cinema já produziu inúmeros filmes sobre dinossauros. A franquia de Jurassic Park, Jurassic World, o desenho animado e live-action de Flintstones, além da animação infantil Em busca do vale encantado, tratam desse tema.
Os pesquisadores do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (CAPPA) contam que esses filmes são muito importantes para despertar o interesse no mundo da ciência em jovens e crianças. Mas você sabia que esses filmes apresentam erros sobre a estrutura dos animais, os períodos históricos e a coleta de fósseis?
O CAPPA listou alguns deles. Confira:
Representação dos animais
Alguns filmes erraram nas medidas e colocaram animais diferentes do seu tamanho real, além de adicionar penas e elementos que não são cientificamente comprovados:
1) Os pterossauros (aqueles répteis voadores que, a propósito, não são dinossauros) eram animais de constituição frágil e ossos muito finos e leves. Tudo isso para poder levantar vôo. Essa constituição frágil, e a leveza necessária para que o animal pudesse voar tornariam impossível que pterossauros pudessem carregar pessoas em vôo (mesmo que por poucos centímetros), como mostrado em cenas de Jurassic Park 3 (onde os heróis se vêem presos em uma gaiola com Pteranodon), e em Jurassic World. Seria o equivalente a um urubu levantar uma pessoa – nada verossímil.
2) O Dilophosaurus representado em Jurassic Park é muito menor do que o animal de verdade, que chegava a medir 6 metros de comprimento. No filme, o animal é representado menor do que uma pessoa.
3) Ainda sobre Dilophosaurus, no filme, o animal é representado com um colarinho ao redor do pescoço. Nenhum fóssil sugere a presença dessa estrutura, e os diretores do filme provavelmente se inspiraram no lagarto-de-gola atual (Chlamydosaurus kingii), que de fato possui essa característica. Ainda, ao contrário do que se vê em Jurassic Park, não existe nenhuma evidência de que o Dilophosaurus expelisse aquela substância pegajosa que eles “cospem” nos olhos das pessoas – é pura ficção científica.
4) O Mosasaurus (o grande predador aquático) que aparece em Jurassic World é representado com um tamanho muito maior do que o maior espécime que já foi descoberto do gênero, que tem cerca de 17 metros de comprimento.
Preparação dos fósseis
O manuseio e coleta de fósseis também é diferente de como mostram alguns filmes: não se usam apenas pincéis e também não é possivel criar um dinossauro a partir do DNA de um mosquito.
5) Em Jurassic Park, os fósseis são expostos nas rochas apenas com uso de pincéis, enquanto que na realidade são necessárias várias ferramentas bem menos delicadas, como martelos e picaretas. Os pincéis só entram em cena durante a preparação mais detalhada, normalmente quando o fóssil já está seguro em um laboratório.
6) Recriar dinossauros a partir do DNA recuperado de mosquitos preservados em âmbar, como mostrado em Jurassic Park, não é possivel. Apesar de o âmbar (que é a resina vegetal fossilizada) preservar fósseis de maneira excepcional – há registros de insetos, penas, folhas, e até lagartixas inteiras em âmbar, a estrutura química do DNA não resiste tanto à passagem do tempo. O DNA acaba se degradando completamente em algumas centenas de milhares de anos. Os fósseis dos quais os cientistas extraem o DNA de dinossauros no filme têm 70 milhões de anos, ou até mais (nenhum registro de DNA resistiria tanto tempo).
Correção cronológica
Algumas obras cinematográficas pecaram em como colocar animais que pertenceram a diferentes períodos juntos em cena.
7) Apesar do nome, a maioria dos dinossauros de Jurassic Park viveu durante o período Cretáceo, não Jurássico. Algumas exceções são o Brachiosaurus, Dilophosaurus e Stegosaurus, que são, sim, Jurássicos.
8) Os dinossauros foram extintos dezenas de milhares de anos antes do surgimento dos primeiros humanos. Desse modo, todas as representações de homens-das-cavernas convivendo com dinossauros, como por exemplo na série The Flintstones, são conceitualmente erradas.
9) Diferente do que aparece no filme Jurassic Park 3, o Tyrannosaurus e o Spinosaurus nunca entraram em confronto, já que eles viveram em momentos e lugares diferentes.
10) A animação “Em Busca do Vale Encantado” retrata diversos filhotes de dinossauros (e um pterossauro) em uma aventura em busca do vale que dá nome ao filme. Diversos desses dinossauros, contudo, viveram em períodos de tempo distintos, separados por milhões de anos. Desse modo, é impossível que tenham convivido. Ainda, apesar de termos evidências de que, em algumas espécies de dinossauros, os filhotes vivessem em pequenos bandos (cuidados por adultos), não há nenhuma evidência de que animais de diferentes espécies – filhotes ou não – cooperassem dessa maneira.
Colaboração CAPPA/UFSM
Edição: Júlia Goulart
Foto: Divulgação