Percebemos o mundo através dos cinco sentidos: a audição, a visão, o tato, o paladar e o olfato. Algumas vezes, nascemos ou enfrentamos situações que nos impedem de desfrutá-los. Quando isso acontece, nos deparamos com obstáculos. Contudo, a tecnologia avança para que todos consigam se comunicar, mesmo que não de uma forma tradicional.
Na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o desejo de estabelecer esta comunicação iniciou com as pesquisas sobre acessibilidade do professor e coordenador do curso de Licenciatura em Espanhol Marcus Vinicius Fontana, em 2010. A intenção de Marcus, que participou do projeto da Audioteca Virtual em sua graduação, era disponibilizar um curso básico online de língua espanhola para pessoas com deficiência visual na UFSM.
Assim, surgiu o “Além da visão”, em 2014, com a turma piloto, que recebeu alunos de todo o Brasil e até mesmo de Portugal. “Ao mesmo tempo em que eram alunos do curso, eles estavam ajudando a analisar, observar o que funcionava e o que não funcionava, e o grupo de pesquisa, com base nestas opiniões, se reunia, discutia e ia aprimorando o material até conseguir lançar uma turma efetivamente em 2015”, explica Marcus, que passou a coordenar o projeto.
Hoje existem duas turmas em andamento, uma que iniciou no segundo semestre do ano passado e outra que teve início no dia 20 de março de 2017. A lista de espera já garantiu a realização de mais uma edição do curso, com aulas previstas para começar em agosto deste ano.
As aulas
O curso básico possui duração de dois semestres. São apresentados textos de diferentes gêneros e, a partir deles, são discutidos conteúdos de vocabulário, parte gramatical e comunicativa. As aulas são encontros entre aluno e tutor que acontecem pelos meios digitais de comunicação, através de ligações pelo Skype e comunicação pelo WhatsApp.
Além do professor Marcus, existem sete tutores no projeto, desde alunos de graduação recém-formados, até alunos avançados no curso de Espanhol da UFSM. A professora de espanhol, recém formada pela Universidade, Scárlati Menezes, participa do projeto desde 2011 e hoje atua como uma das tutoras. Ela explica seu envolvimento com o projeto: “As minhas responsabilidades como tutora deste curso são atender meus alunos, ter disponibilidade de horários para fazer Skype e correção das tarefas, tirar dúvidas dos alunos por Skype, e-mail ou WhatsApp e marcar encontros por Skype a cada 15 dias para as conversas necessárias”.
Pura Charla
Alguns alunos acompanham o projeto desde a turma piloto. Para eles, foi criado um curso mais avançado, que diferente do “Além da Visão”, tem o objetivo de exercitar a conversação entre aluno e tutor: o “Pura Charla” (expressão espanhola que significa pura conversa, pura fala). Assim, o aluno recebe um tema e tem 15 dias para escutá-lo e responder a uma série de perguntas. No encontro via Skype o tutor desenvolve um diálogo sobre aquele tema e depois apresenta um feedback para o aluno.
O professor Marcus conta que, além do Pura Charla, os tutores estão começando uma experiência de grupo de conversação, já que em princípio acontecem apenas encontros individuais. Essa nova experiência seria o Pura Charla II. Marcus ressalta: “A gente tem alunos que viajam muito. Tem alunos que participam de campeonatos de xadrez e viajam para Argentina, Colômbia. Então eles tem que manter a fluência linguística para se comunicar. Esses alunos acabam continuando [no curso] e a gente vai produzindo e ampliando material para manter a conversação com eles”.
Para Marcus, a existência de um curso a distância de língua estrangeira para pessoas com deficiência visual em uma instituição como a UFSM é muito importante, porque repercute em outros lugares e fortalece a percepção de que todos têm o direito às mínimas condições de sociabilidade.
Repórter: Paola Dias
Ilustração: Filipe Duarte