O principal objeto de estudo da paleontologia são os restos de seres vivos do passado que foram preservados até os dias de hoje – os fósseis. Como não se tropeça em uma fonte de informação pré-histórica todo dia, localizar e coletar fósseis para estudo não é uma tarefa fácil. Para entender como funciona esse processo, fomos até o Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia/Universidade Federal de Santa Maria (CAPPA/UFSM), em São João do Polêsine, e conversamos com o paleontólogo Leonardo Kerber. Confira o que descobrimos:
Não há uma fórmula exata para localizar, coletar e preparar um fóssil. No geral, existem cinco etapas nesse processo: prospecção, coleta, transporte, preparação e curadoria.
Prospecção
Tudo começa na análise do mapa geológico da região em busca de áreas formadas pelas rochas sedimentares, que por seu processo de formação contribui para a conservação dos fósseis. Mas há um problema: seria inviável econômica e ambientalmente remover camadas de solo e vegetação para chegar até os fósseis. Por isso, os paleontólogos fazem pesquisas e identificam os afloramentos fossilíferos na superfície através do Google Earth, saídas a campo e relatos de moradores.
Após a indicação de que em determinado local há indícios de afloramento, os pesquisadores caminham e buscam os vestígios pré-históricos através do tato e observando o solo, para confirmar e posteriormente coletar o material encontrado. Normalmente apenas parte do fóssil está exposto, o que dificulta o trabalho. É corriqueiro voltar para casa sem descobertas. No entanto, quando algo é encontrado, começa uma nova etapa: a coleta.
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Coleta
A coleta é a fase mais “suja” de todo esse processo. Para retirar o bloco de rocha que será levado para o laboratório, os pesquisadores escavam em volta do achado com uma margem de segurança variável estabelecida para não danificar o fóssil. Quando o bloco é isolado da rocha circundante, se aplica um envoltório de gesso para evitar tanto a quebra, como também proteger o material durante o transporte.
Transporte
Quando o bloco de gesso com o fóssil é totalmente destacado do resto da rocha, inicia-se a etapa do transporte. A forma de transporte varia muito de acordo com o tamanho do achado, já que pedaços menores, com fósseis pequenos, podem ser transportados facilmente com o carro. Em outras situações o bloco pode chegar a pesar algumas toneladas, sendo necessário o uso de maquinaria pesada, como guindaste e caminhão. No CAPPA, por exemplo, há um bloco que não passou pela porta do laboratório. A solução foi montar a estrutura de trabalho na garagem, onde o material está depositado. Ao chegar no laboratório começa uma nova etapa: a preparação.
Preparação
A preparação consiste em separar o fóssil da rocha. Inicialmente o envoltório de gesso é aberto na parte superior. Então inicia-se um processo lento e cuidadoso, em que os pesquisadores usam ferramentas como espátulas, marteletes e talhadeiras para desprender o fóssil da rocha. Durante essa etapa é aplicado sobre o fóssil a resina Paraloid diluída em acetona que penetra e endurece o material para evitar a quebra.
Devido ao cuidado para não danificar o fóssil, esse procedimento pode levar meses ou até anos para ser concluído. Ao contrário do imaginário popular, os cientistas não ficam debruçados sobre o bloco durante todo o dia até que o trabalho esteja concluído. No CAPPA/UFSM, por exemplo, os paleontólogos dividem a atenção com a pesquisa e com o aprendizado dos pós-graduandos que frequentam o laboratório.
Curadoria
Cada fóssil é numerado e catalogado no livro Tombo, que por questões de segurança possui uma versão online também. Os dados anotados vão desde o local e data de quando o fóssil foi coletado, até o nome dos coletores do material. Nessa fase, denominada curadoria, o fóssil é armazenado em um local apropriado de maneira organizada para que em caso de estudos posteriores sua localização seja fácil.
Os fósseis são colocados em caixas de acrílico etiquetadas. Essas caixas vão para uma estante dentro de um armário deslizador. Como o fóssil não tem mais material orgânico nem tecido mole, não é necessário o controle da temperatura na sala onde são armazenados, apenas um desumidificador de ar atua na ventilação do local. No CAPPA/UFSM há uma sala especialmente destinada para esse fim.
Confecção de réplicas
Outra parte do processo de conservação envolve a confecção de réplicas, que você pode conferir no vídeo com explicação do paleontólogo Flávio Pretto do CAPPA/UFSM.
Repórter: Felipe Backes
Foto:Rafael Happke e divulgação CAPPA/UFSM
Colaboração: Flávio Pretto