Situada a 27 quilômetros de São Miguel das Missões, no noroeste do Rio Grande do Sul, a aldeia TekoáKo’enju tem 236 hectares de terra que foram doadas pelo Governo do Estado. Situada na beira do rio Inhacapetum, afluente do Piratini, a aldeia se acessa através de uma estrada de chão. Lá, vivem cerca de 500 indígenas da etnias Mbyá-Guarani que, para sobreviver, dependem das rendas provenientes da venda de artesanato.
Essa foi a comunidade escolhida por Nadine Ribeiro para a construção de seu trabalho de conclusão de curso, defendido no fim do ano passado. Nadine se formou em Jornalismo, pela UFSM, no começo deste ano. Fora as relações pessoais – Nadine nasceu em Santo Ângelo e, quando criança, participava de ações em aldeias indígenas em Ijuí – Nadine explica que a primeira razão pela escolha dessa comunidade foi a falta de visibilidade midiática. “Queria que meu trabalho contribuísse com algo, muito mais do que ser somente minha arte, minha visão de mundo”, reitera.
A jornalista captou material suficiente para a produção de um livro-fotografia. Atualmente, a ideia é que esse objetivo possa ser concretizado a partir de um financiamento coletivo para que o trabalho possa circular, mesmo que em pequena tiragem. Além disso, Nadine pretende montar uma exposição.
Mas o mais interessante na proposta da jovem jornalista é que as fotografias puderam ser utilizadas pela própria comunidade para autofinanciamento, bem como para reforço da memória da aldeia. Nadine utilizou os registros fotográficos para confeccionar cartões postais, que agora são vendidos pelos Mbyá-Guarani. A comunidade tem retornos concretos que são fundamentais no sustento das pessoas que nela vivem. “Eu fiz um trabalho no qual utilizei da imagem deles, da boa vontade deles de me receberem no ambiente em que vivem… Eu tinha de levar um retorno imediato”, ressalta.
Percepções próprias sobre o trabalho
Até alcançar o produto final, foram seis meses de trabalho. Segundo a jornalista, no início foi difícil estabelecer um contato, devido à dificuldade na comunicação, uma vez que o cacique falava pouco português e o guarani é uma língua bastante distinta ao português. Em segundo lugar, destaca, “porque a forma de agir e se comportar é algo que se desenvolve com o tempo, e de uma forma diferente em cada projeto”. O trabalho foi desafiador também no sentido do que, dentro do universo da comunidade, ele visava enquadrar. “Sempre me encantou a fotografia de pessoas. É muito difícil fotografá-las, porque quase sempre elas se tornam personagens perante as lentes, um desafio conseguir captar a essência de alguém”, diz.
O orientador do trabalho, professor Rondon de Castro, explica que o desafio era que a estudante buscasse compartilhar a vida da comunidade sem interferir. “O trabalho da Nadine foi um mergulho no universo indígena. Ela não só buscou a imagem, ela compartilhou momentos com os indígenas, deixou-se ser vista e sentida, até sua presença não causar muito impacto. São momentos do cotidiano, colhidos sob a ótica da curiosidade jornalística e de grande importância para todos”, explica.
Na aproximação com a aldeia, saltou aos olhos da jornalista a forma como, na comunidade, as coisas são decididas: de forma horizontal, através de assembleias. Outra coisa foi a demonstração de afeto, tanto dos adultos com as crianças, bem como as demonstrações de carinho entre elas mesmas. “O afeto, o carinho, o cuidado de um com outro é algo que até parece meio utópico, porém essencial nas relações humanas”, afirma. Outra percepção da jornalista foi sobre a relação da comunidade com a natureza. “É como se a terra fosse uma persona real. O povo guarani se baseia no mundo dos sentidos, porque eles pensam através do que sentem”, conta.
Reportagem: Germano Molardi
Fotografia: Nadine Ribeiro