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A rainha guerreira

A heroína Boudicca é tema de ciclo de cinema promovido por grupo de estudos do curso de História



Boadicea por Charles Gogin. Imagem retirada da página do Williamson Art Gallery & Museum.

O Grupo de Estudos sobre o Mundo Antigo Mediterrânico (Gemam) do curso de História da UFSM promove de 27 a 30 de março o 4º Telecine Clio: Ciclo de Cinema Barbaridade. Um de seus temas principais é o debate acerca de aspectos antigos e usos na contemporaneidade da imagem de Boudicca (ou Boadicea), uma rainha bretã que liderou uma rebelião contra o Império Romano durante a invasão da Grã-Bretanha, nos anos de 60 a 61 d.C.

 

A historiadora Tais Pagoto Bélo realizou um estudo em sua tese de doutorado sobre as representações femininas de Boudicca ao longo da história, em obras como charges, livros, poemas, peças de teatro e pinturas. Confira algumas curiosidades sobre a rainha guerreira:

 

1. Seus atos de guerra foram escritos por homens na Antiguidade

 

 

Escultura de Boudicca por Pedro Fernandez Ramos. Imagem retirada de Google Images.

 

Os atos de guerra da rainha foram descritos primeiramente por Tácito e Dião Cássio, escritores romanos que faziam parte de uma sociedade que não aceitava uma mulher como comandante de um exército. Portanto, seus relatos foram formulados incluindo o ponto de vista e interesse político de cada um, o que gera dúvidas sobre a veracidade dos registros.

 

2. A imagem da rainha guerreira é invocada, contrariada e redefinida desde sempre

 

 

Cena de Warrior Queen, 2003. Imagem retirada do Amazon.com.

 

Tácito retratou Boudicca como uma mulher devota, moral e equivocada. Já nos relatos de Dião Cassio, a rainha foi retratada física e psicologicamente masculina, e o escritor conta que ela tinha a voz, o tamanho e as armas de um homem. Conforme Tácito, era comum os bretões serem liderados por mulheres.

 

3. Nos séculos XVIII e XIX, ela é retratada como figura patriota e de resistência

 

Boadicea and Her Daughters, por Thomas Thornycroft e William Hamo Thornycroft, 1883. Estátua em Westminster Pier, Londres. Construída após a estátua da Rainha Vitória, as duas estátuas fazem um paralelo por o nome de Boudicca significar “vitória”. Imagem retirada da página spartacus-educational.com/00boudica1.jpg

 

Ao longo da história, houve muitas representações masculinizadas da personagem por escritores, que a retratavam como uma mulher selvagem, não sendo considerada “normal’ para a época. Somente a partir do século XVIII que Boudicca passou a ser retratada como uma figura patriota heróica, de inspiração para a literatura e a arte. Nos séculos seguintes, a guerreira foi considerada como uma figura de resistência a Roma e uma heroína do império britânico, sendo sua imagem comparada a da rainha Vitória.

 

4. Sufragistas usaram imagem de Boudicca como exemplo de força feminina

 

Sufragistas em manifesto.

 

No século XX, as sufragistas invocavam a imagem de Boudicca em seus discursos na luta pelo direito do voto, como também para sustentar a reivindicação de seus direitos. O movimento feminista surgiu no fim do século XIX, com uma série de ações protagonizadas por mulheres que lutavam pela igualdade política e jurídica, primeiramente reivindicando direitos iguais de cidadania (como o direito ao divórcio, educação, propriedades e posses de bens), com seu auge na luta sufragista pelo direito ao voto a todas as mulheres. A conquista do voto feminino começou na Rússia, em 1917, se intensificando em outros países durante os anos 1930 e 1940.

 

No Brasil, o direito ao voto ocorreu em 1933, durante o governo Vargas. Essa vitória também foi um passo importante para a mudança na condição de vida de todas as mulheres trabalhadoras, uma vez que para as burguesas a luta pelo voto deu a possibilidade de pertencimento às classes altas e condição de proprietárias sobre suas posses, enquanto para as proletárias essa luta por direitos se aliou à luta contra suas condições precárias de vida e trabalho.

 

5. Nos dias de hoje, a heroína é vista em documentários, filmes e seriados

 

Imagem retirada do site History Channel.

 

Como na série “A Rebelião dos Bárbaros”, do History Channel, que retratou a história dos povos que lutaram pela sua liberdade contra a sombra do Império Romano, onde sua resistência deu início a uma batalha que durou 700 anos e marcou o início da queda de Roma. O docudrama mostra o ponto de vista de grandes líderes como Átila, o Huno, Aníbal, Spartacus e Boudicca.

 

Repórter: Gabriela Pagel
Ilustração: Nicolle Sartor

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