Os periódicos científicos são uma das principais formas de divulgação e de consolidação das pesquisas que desenvolvem a ciência de um país. Rankings internacionais de avaliação de publicações científicas utilizam critérios como o número de vezes em que os artigos são citados em outros periódicos. No Brasil, onde a maior parte da ciência é realizada em universidades, centros e institutos públicos de pesquisa, a produção de artigos científicos tem crescido nos últimos anos. De acordo com um estudo feito pelo jornal Folha de São Paulo, de 2001 a 2011, o Brasil subiu da 17ª para a 13ª posição mundial em quantidade de artigos publicados. No entanto, esse aumento na produção não foi acompanhado de um aumento no impacto das pesquisas realizadas no país, justamente por causa do baixo índice de citações dos artigos brasileiros na produção mundial. Em 2014, o número de publicações também cresceu: foram 715 artigos publicados no país, 45 a mais que em 2013, o que aumentou em 1,4% o impacto científico, segundo divulgação feita pelo Brasil Post de um relatório publicado pela Nature, considerada a revista científica de maior prestígio no mundo.
O Brasil, portanto, vem tentando aumentar a produtividade na área científica para melhorar o impacto no cenário mundial. Uma das apostas é a operacionalização na seleção dos artigos publicados nos periódicos. Os editores da Revista de Sociologia e Política (UFPR) coletaram, de 2013 a 2016, dados sobre o processo de avaliação dos manuscritos que são submetidos ao periódico. Um dos métodos de seleção utilizados pela revista é o Desk Review, que consiste em decisões tomadas a partir de uma análise preliminar feita pelos editores, que podem recusar os artigos sem enviá-los para avaliação dos pares e, portanto, sem emissão de pareceres.
De acordo com os dados levantados pelos editores da Revista de Sociologia e Política, o índice de recusa preliminar no periódico, por meio do método Desk Review, cresceu nos últimos anos. Enquanto isso, o número de pareceristas convidados para a avaliação por pares e a quantidade de pareceres emitidos para as recusas diminuíram.
Outros periódicos brasileiros também utilizam o Desk Review como método de seleção de artigos. Entre eles, a Ciência Florestal (UFSM), que possui qualis A1 na área de planejamento urbano e regional e demografia, segundo os critérios de classificação utilizados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O editor-chefe da Ciência Florestal, Elio José Santini, afirma que o método é necessário porque enxuga o volume de trabalhos que percorrem os trâmites. Ele defende também que, assim, a seleção fica mais eficiente e com maior credibilidade. A editora da Revista do Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mariana de Lima, também acredita que o método é eficiente se for baseado em questões normativas. A seleção mais utilizada na revista é avaliação dos pares duplo-cego, mas ela conta que o Desk Review é usado às vezes, principalmente para detectar problemas graves com relação às normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), imagens de baixa qualidade e conteúdos que não se encaixam na área da revista. No entanto, nesse caso, a recusa não é definitiva. “Normalmente, caso o/a autor/a esteja dentro do prazo da chamada e se encaixe realmente no escopo da revista, ele/ela volta a postá-lo com as correções das normas”, completa.
A Revista de Sociologia e Política também utiliza alguns critérios para a avaliação em Desk Review, como aderência da proposta dos artigos à temática da revista; estrutura e divisão empregadas; e objetividade na descrição da metodologia e na apresentação dos dados empíricos. Após a avaliação, se pelo menos dois editores decidirem pela recusa, o artigo é recusado. Outro apontamento feito pelos editores é a queda no tempo de tomada de decisões que o Desk Review proporciona, tornando o processo de avaliação mais uniforme. Em uma publicação no blog SciELO em Perspectiva, que reúne os resultados dessas análises, dois editores do periódico, Adriano Codato e Lucas Massimo, ressaltam a importância da emissão de pareceres que contenham explicações pormenorizadas sobre o motivo da recusa dos artigos, mesmo com a utilização do Desk Review. “Por mais sistemático e rigoroso que seja o nosso processo de análise preliminar, não possuímos ainda recursos financeiros, estrutura material e pessoal disponível para fornecer esse grau de detalhamento a todos os autores. Esperamos em breve poder fazer isso”, afirmam ao blog.
Reportagem: Iander Moreira Porcella e Camila Jardim
Gráficos: Bruna Dotto