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Clube do livro digital

Isabella Lubrano conta como sua paixão por livros a levou a criar uma empresa de comunicação



O Youtube é uma grande empresa de comunicação que emprega diversas pequenas empresas: os canais. As temáticas desses canais variam de beleza e entretenimento até literatura. Os “youtubers”, denominação dada aos donos desses canais, cativam um público específico que irão dar audiência para os seus vídeos. E é atrás dessa audiência que o Youtube vai quando contata esses youtubers para dedicarem sua vida à ele.

 

Este tipo de empreendedorismo do Youtube já existe há alguns anos e agora está chegando ao mundo dos canais literários, uma comunidade comandada pelos “Booktubers”: pessoas apaixonadas por livros e que resolveram falar sobre eles na internet.

 

É neste contexto que se encaixa Isabella Lubrano, formada em Jornalismo e Direito, dona do canal Ler Antes de Morrer. Com mais de 50 mil inscritos e vídeos-resenhas semanais, Isabella criou uma empresa de comunicação, que funciona como um clube do livro virtual, na qual influencia, a cada vídeo postado, a próxima leitura de seu público.

 

Nesta entrevista ela irá contar sobre sua história com a literatura, como iniciou o canal e também a relação com a sua audiência.

 

 

Você pode começar contando como surgiu a ideia do canal e por que 1001 livros.

Meu canal no YouTube surgiu como uma continuação do meu blog que também se chama Ler Antes de Morrer. Este blog surgiu lá pelo ano de 2010, como uma ferramenta para treinar redação. Eu fazia as faculdades de Direito e Jornalismo simultaneamente e não tinha possibilidade de estagiar. Então, como eu gostava muito de ler, resolvi criar um blog sobre literatura e alimentá-lo como uma espécie de atividade extracurricular.

 

A proposta do meu blog era mais ou menos a mesma do canal – ler e resenhar mil e um livros. Eu me inspirei na lista do livro “1001 Livros Para Ler Antes de Morrer”. No entanto, logo desisti de seguir a ordem de leitura dessa lista, e resolvi ler os livros que me dessem vontade e que eu achasse importantes. Assim, incluí muitas obras da literatura brasileira.

 

O canal no YouTube só surgiu alguns anos depois, em 2014, quando eu já estava formada nas duas faculdades e estava trabalhando como produtora da TV Gazeta de São Paulo. Por isso, resolvi experimentar gravar as minhas resenhas em vídeo. O resultado foi muito melhor do que eu imaginei, tive uma audiência bem maior do que as minhas resenhas em texto. Depois de umas quatro ou cinco resenhas experimentais, decidi investir no meu canal no YouTube profissionalmente. E assim sigo até hoje.

Ser jornalista de ajuda de alguma forma na produção dos vídeos? E você tenta trazer aspectos jornalísticos para suas resenhas?

Sem dúvida minha formação como jornalista me ajuda a produzir e gerenciar as estratégias do meu canal. Quando comecei a gravar meus vídeos, em 2014, eu já tinha experiência com edição e roteirização para TV, e também estava passando por treinamento em locução com uma fonoaudióloga. 

 

Mas não foi só isso. A faculdade de jornalismo me ensinou Teoria da Comunicação, Comunicação Comparada, Gestão em Comunicação. A maioria dos estudantes de jornalismo fazem essas matérias nas coxas, mas eu sempre fui uma aluna aplicada e observadora. E mesmo depois de me formar, continuei fazendo cursos e me especializando em gestão de mídias sociais e canais no YouTube.

 

Por isso, hoje me sinto muito confortável para pensar e planejar as estratégias de crescimento do meu negócio. O Ler Antes de Morrer não é um hobby, não é um diário de leitura virtual e de forma nenhuma é uma obra do acaso. Ele é uma empresa de comunicação.

Você está atualmente na resenha de número 81, o que você aprendeu durante todas essas leituras e gravações?

Aprendi muita coisa. Em primeiro lugar, hoje sou capaz de editar um vídeo em poucas horas – antigamente, eu demorava dias inteiros para isso. Também aprendi atalhos para escrever meus roteiros, maneiras de falar que ficam mais interessantes no vídeo, estratégias de gestão de redes sociais. Mas é claro que não foi só isso. Estes são só os aspectos técnicos da minha profissão, que eu estou conseguindo aprimorar.

 

Na minha vida pessoal, também estou aprendendo muito. Os grandes mestres da literatura não são “mestres” por acaso. Eles tinham algo a dizer. Graças ao meu trabalho, tive a oportunidade de ler autores como Kafka e Tolstói, Cervantes e Saramago. Sem falar que me reconciliei com autores que, durante o Ensino Médio, foram meus pesadelos, como José de Alencar e Guimarães Rosa. Aprendi que eles são artistas, e a arte é transformadora. As grandes obras de arte literárias têm a capacidade de nos mostrar facetas da vida que nós, pessoas comuns, ignoramos.

 

“As grandes obras de arte literárias têm a capacidade de nos mostrar facetas da vida que nós, pessoas comuns, ignoramos.”

 

 

De que forma falar sobre aquilo que se leu altera ou afeta a construção da leitura em si?

Você já deve ter ouvido algum professor falar que não basta só assistir às aulas ou ler os livros – para aprender de verdade, a gente precisa também escrever resumos ou explicar a matéria para os amigos. Em outras palavras, o seu professor estava tentando te fazer entender que o aprendizado não vem só das atividades passivas, mas também das ativas.

 

Com as minhas leituras, ocorre o mesmo processo. Quando eu leio um livro, tenho algumas impressões e formo as primeiras opiniões. Mas é só quando eu começo a fazer anotações e quando escrevo as resenhas em si, que eu realmente sinto que entendi alguma coisa a respeito daqueles livros.

 

Escrever resenhas não é fácil. Exige reflexão, criatividade e capacidade de fazer conexões. Este esforço, no entanto, compensa: eu aproveito a leitura muito melhor. Chego mais perto da experiência que os autores desejariam que seus leitores tivessem.

Você resenha todos os livros que lê? Algumas te causam maior dificuldade que outras? Como você resolve isso?

O lado ruim do meu trabalho é que não posso mais ler livros só por distração, sem a obrigação de fazer uma resenha. Não tenho mais tempo para isso.

 

Eu me comprometo a resenhar um livro diferente por semana, o que é uma missão muito difícil! Nem sempre estou com cabeça para “decifrar” um grande clássico. Por isso, de vez em quando escolho alguns títulos mais fáceis, como best-sellers “A menina que roubava livros”, “A sombra do vento” e “O pequeno príncipe”. É um jeito de deixar o canal mais variado e dar uma descansada na cabeça.

A sua relação com a literatura mudou depois do canal? Se sim, de que forma?

Acho que a única coisa que mudou é que deixei de frequentar livrarias. Hoje, não tenho mais “comichão” por comprar livros, porque as editoras e autores independentes mandam para mim muito mais coisa do que eu sou capaz de ler. 

 

Hoje, começo a ver os livros como “algo que ocupa espaço” e que preciso dar um jeito de dar de presente para os amigos, de sortear, ou simplesmente de doar, porque não cabem mais na minha estante!

 

Tirando isso, minha relação com a literatura não mudou. Continuo achando que é a melhor companhia antes de dormir, ou no transporte público; continuo achando que livros são os melhores presentes que a gente pode dar ou ganhar; e continuo achando que, nos dias de tristeza, eles são os melhores amigos para a alma.

Como é a relação com a audiência do canal? Eles fazem com que a sua visão de determinado livro mude ou te incentivam a ler uma obra específica?

Já dei chance para muitos títulos ou autores por causa dos conselhos dos meus seguidores! O pessoal que acompanha meus vídeos é muito participativo e bem educado. Tenho muita sorte, porque quase nunca aparecem aqueles “haters” chatos que infestam a internet. 

 

Hoje em dia, não consigo mais responder a todas as mensagens, como antigamente. Mas procuro ler o máximo possível, porque os leitores me dão muitas dicas e me ajudam a identificar defeitos nos meus vídeos. Sem dúvida nenhuma, o meu canal seria muito pior se não fossem as sugestões e críticas que a audiência me faz.

 

Confira um dos vídeos feitos por Isabella no seu canal 🙂

 

Reportagem: Luana Mello
Fotografias e Vídeo: Isabella Lubrano

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