Frank Ejara nasceu em 1972 na cidade de Andradina, no interior de São Paulo, e está envolvido com a Street Dance desde os 11 anos de idade, quando as danças urbanas foram introduzidas no Brasil a partir do lançamento dos filmes americanos Beat Street (1984) e Breaking Dance (1984). Desde então, Frank sempre esteve envolvido com a cultura Hip Hop, participou do primeiro grupo profissional de Street Dance no Brasil – DMC Tour, desenvolveu detalhado estudo nos estilos das danças urbanas (Popping, Locking e Breacking) e, aos 20 anos, fundou sua própria companhia de dança, a Discípulos do Ritmo.
O dançarino vem realizando pesquisas sobre todos os elementos da Cultura Hip Hop e, principalmente, aqueles que dizem respeito às Danças Urbanas. Hoje, a companhia tem sete espetáculos que já excursionaram por todo o Brasil, Estados Unidos e alguns países da Europa, oportunidades conseguidas pela Moovaktion, de Paris, que agencia sua carreira internacional.
Frank ministra workshops por todo o Brasil em eventos como o Passo de Arte, Fitness Brasil, Meeting Hip Hop, Festival de Joinville e cursos no exterior na França, Inglaterra, Holanda e Itália, onde prepara a nova geração e fornece aprimoramento e conhecimento a dançarinos profissionais.
Confira abaixo a entrevista de Frank Jara para a Arco:
Como começou sua ligação com a dança? E por que optou pelas danças urbanas?
Eu comecei a dançar por causa da minha mãe, aprendi meus primeiros passinhos de dança quando tinha de 7 a 8 anos de idade. Minha mãe não levava a dança como profissão, porém dançava socialmente em festas, baladas, etc. Então eu sempre estive envolvido com música por causa dela, ela sempre teve bons discos e eu sempre escutava e dançava com ela como forma de brincadeira. Na verdade, eu não escolhi as danças urbanas, eu acredito que as coisas acontecem naturalmente e vem até a gente, acredito que elas me escolheram. Assim, como eu já estava envolvido com a música negra americana desde a infância, quando as danças urbanas e a cultura hip hop chegaram ao Brasil, em 1984, eu me envolvi com a cultura de forma natural.
Ouvi você citar o ano de 1984 e me lembrei do filme de danças urbanas daquela época, o Beat Street. Em entrevistas, você disse que esse filme mudou a sua vida. De que forma isso aconteceu?
Tem dois filmes que são de 1984, um é o Breaking Dance e o outro é o Beat Street. Esses dois filmes representam a chegada das danças urbanas aqui no Brasil e pelo resto do mundo, então toda a primeira geração de bailarinos de Street Dance no Brasil começaram por causa desses filmes e eu fui um deles. Eu dançava antes desse filme, mas não Street Dance.
Como se deu sua especialização e aprofundamento teórico nos estilos Locking, Popping e Breaking das danças urbanas, já que na época não se tinham estudos nem dançarinos que praticassem essa cultura?
Eu acredito que isso tenha relação com o perfil de cada um, porque eu sempre fui uma pessoa interessada em saber, conhecer e ler sobre o assunto. A dança para mim foi, por muito tempo, um hobby, nunca passou pela minha cabeça ser um profissional da área. Foi em 1996, quando eu assisti a uma companhia de dança profissional americana chamada de Ghetto Original, que eu descobri que trabalhar com dança era o que eu realmente queria fazer. Então, a partir daquele dia, meu pensamento mudou, eu procurei estudar muito sobre os estilos de danças, nomenclatura, passos básicos, procurei vídeos em VHS e busquei revistas americanas que falassem sobre dança- o que me fez um autodidata em inglês. Foi todo um processo de três anos para eu me preparar. Em 1999, eu criei minha própria companhia de dança chamada os Discípulos do Ritmo.
De onde veio a inspiração para o nome da companhia, Discípulos do Ritmo?
Eu participo de todos os elementos da cultura Hip Hop, porque além de dançarino eu faço Rap, arrisco como DJ, trabalho com som, etc. Eu tinha escrito uma música no início dos anos 90 que se chamava Discípulos do Ritmo, que falava nós, da cultura Hip Hop, somos discípulos do ritmo, porque o ponto principal de todas as formas de arte da cultura têm o ritmo envolvido. Então, quando comecei a pensar em ter uma companhia de dança, esse nome veio a minha memória e acabou ficando.
Você e sua companhia de dança montam muitos espetáculos que são apresentados por vários lugares do Brasil e também fora do país, entre eles o Ta limpo!, que foi um marco para a carreira de vocês. O que esse espetáculo representa e por que esse nome?
O Ta limpo! foi o primeiro espetáculo da companhia, montado em 2001, e não foi uma criação minha, mas sim resultado de um intercâmbio. Naquele ano, o coreógrafo alemão Storm procurava um grupo brasileiro para ele coreografar e pediu material dos grupos do Brasil para saber em que nível estávamos. Já fazia dois anos que a gente treinava, nós estávamos preparados, então ele decidiu fazer o espetáculo com a gente. Assim, ele veio ao Brasil e montou em três semanas o espetáculo Ta limpo!, que fala de um momento na vida de vários dançarinos do Street Dance em que se tem um trabalho corriqueiro, mas o sonho é viver da dança. Ele representa seis faxineiros de uma empresa que estão o tempo inteiro dançando- quando entra a trilha sonora- então toda a coreografia usa elementos de limpeza que se associam à dança.
Com esse espetáculo, várias coisas aconteceram na Discípulos do Ritmo, porque um empresário francês viu a nossa apresentação e ficou com vontade de trabalhar com a gente. Assim, começamos a trabalhar com uma empresa de Paris, a Moovaktion, que cuida de vários artistas de dança na Europa, e com o apoio dela começamos a viajar pelo mundo.
Falando em dança como profissão, para ti como é o mercado brasileiro na área?
A minha opinião tem incomodado muita gente há muitos anos. Na verdade, eu acho um absurdo, quando se fala em danças urbanas, que todo mundo só veja uma maneira de ganhar dinheiro com a dança, que é dando aula. Então, isso para mim é o maior erro de todos, porque com isso temos cada vez mais pessoas despreparadas na sala de aula: a pessoa dançou só dois anos e já está dando aula, porque quer viver da dança.
Existem outros mercados que precisam ser explorados, precisamos montar núcleos de criação e espetáculos, por exemplo. Hoje, não temos grupos organizados trabalhando com danças urbanas nas artes cênicas, e isso é um mercado artístico. Logo, eu posso afirmar que os bailarinos de danças urbanas não vivem artisticamente, mas vivem de pedagogia, de dar aula. E o que precisamos é de mais grupos com espetáculos, para esquentar o mercado que está muito fraco, e a culpa é toda nossa.
Em média quantos espetáculos vocês fazem por mês?
Somos uma companhia independente, sem fomentos, sem grandes patrocinadores e que vive de cachê, então é tudo muito oscilante, uma hora temos muitos shows outra hora menos, tudo depende da procura.
O que os interessados em participar da tua companhia devem fazer?
Aí vem a notícia ruim, porque eu não faço audição. Trabalhar numa companhia de dança é como trabalhar em uma família, a gente viaja muito, fica dois, três dias fora, às vezes meses. Então eu nunca fiz audição. Sempre convivi com vários dançarinos e, depois, somando o talento dessa pessoa ao caráter, eu convido para participar da companhia.
Reportagem: Jéssica Loss
Fotografias: Facebook do Frank, Arthur Sanches e Divulgação
Infográfico: Nicolle Sartor