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Assentamentos Orgânicos

Apesar das dificuldades, famílias de Júlio de Castilhos se destacam na produção de alimentos sem agrotóxicos



A discussão do uso de agrotóxicos no Brasil geralmente abarca dois pontos de vista: os grandes produtores e as companhias (boa parte delas multinacionais) alegam que, sem componentes químicos, como pesticidas e defensivos em geral, seria impossível manter a produção alimentar no Brasil. De outro lado, ecologistas e militantes pela reforma agrária defendem que os agrotóxicos são prejudiciais ao meio ambiente e à saúde humana. De acordo com o Dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, publicado em 2012 e atualizado em 2014,  70% dos alimentos consumidos no país contém agrotóxicos na sua composição.

 

Quando se fala em luta agrária no Brasil, é impossível não pensar nos assentamentos, sejam eles vinculados ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), a outros movimentos ou independentes. Talvez a última coisa que se pode pensar seria o uso de agrotóxico nesses locais, que geralmente pregam um modelo familiar e sustentável de agricultura. Mas eles usam, e em grande quantidade. É o que mostra um estudo dos pesquisadores da UFSM Mauro Sopeña, Nayara Pasqualotto e José Wizniewsky sobre o uso de agrotóxicos em assentamentos da reforma agrária no Rio Grande do Sul. O estudo foi publicado no periódico Monografia Ambiental (REMOA) da UFSM em 2016.

 

A pesquisa comparou dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que avalia toxicologicamente o uso de defensivos nos alimentos, com dados do Sistema Integrado de Gestão Rural da Assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária (SIGRA), que tem o mapeamento do uso de agrotóxicos por família assentada no Rio Grande do Sul. Os pesquisadores cruzaram esses dados em sete produtos: arroz, cenoura, laranja, maçã, morango, pimentão e pepino.

 

Ao fazer uso dos dados coletados nos anos de 2012 e 2013 pelo SIGRA, é perceptível que alguns alimentos possuem taxas elevadas de defensivos químicos, como o arroz, a cenoura e o morango. Porém, quando comparados os dois anos, há, em todos os casos, uma diminuição no número de famílias que usam defensivos químicos na sua produção. Os alimentos que aparecem com maior uso, os três já citados, são justamente os que, nos relatórios da ANVISA, aparecem como insatisfatórios e impróprios para o consumo.

 

Mas, por que famílias assentadas ainda usam esse tipo de substância nas suas plantações? Segundo o engenheiro agrônomo Eduardo Luft, que presta assessoria técnica ao assentamento Fazenda do Sobrano, em Pinhal Grande – RS, os defensivos são usados em grande escala nos assentamentos por uma questão financeira. Para evitar o uso, são necessários investimentos caros para que a produtividade, que sustenta essas famílias, se mantenha.

Para Luft, existe uma série de dificuldades políticas em se exterminar o uso dos agrotóxicos nos assentamentos. “Diferente de outros países capitalistas, como países europeus, o nosso país não possui uma política massiva de combate aos agrotóxicos. E, no Brasil, há uma política de valorização do agronegócio, em nome do Ministério da Agricultura, em detrimento da agricultura familiar, com o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Mas eu estou otimista. Já fizemos várias tentativas e muitas famílias estão trabalhando sem o agrotóxico. Continuamos tentando, mesmo sem o apoio governamental”, afirma o agrônomo.

 

 

Feira orgânica

Luft, no entanto, vem tentando uma alternativa. Ele trabalha junto com famílias de assentamentos de Reforma Agrária em Júlio de Castilhos, auxiliando tecnicamente na plantação sem agrotóxicos e na comercialização dos produtos. Os alimentos são vendidos por meio de encomendas em Santa Maria, organizados por uma Associação de Consumidores de Orgânicos. A luta de Luft e sua família hoje é para manter o trabalho com agricultura familiar e se manter financeiramente com isso, além de formalizar uma feira orgânica na UFSM.

 

Em 2014, quando trabalhava na Emater, Luft atendia famílias de assentamentos. Além do apoio técnico,  a equipe da Emater abriu o mercado de alimentação escolar  para essas famílias.  Com esse mercado estruturado, a produção aumentou e mais famílias começaram a receber a assistência. A partir de 2015, surgiu a ideia de trazer alimentos para Santa Maria e envolver a Universidade no assunto. São 10 famílias de Júlio de Castilhos, Tupanciretã e Santa Maria que participam do projeto. Com o apoio de alguns sindicatos urbanos, começou a organização dos consumidores na cidade e a venda direta das frutas, verduras e legumes orgânicos. Também está em processo de formalização uma feira de orgânicos na UFSM. “A gente está dando assessoria pra Universidade, participando de um grupo gestor, e estamos trabalhando a certificação dos agricultores para construir essa feira”, conta Eduardo.


O grupo “Associação de Consumidores de Orgânicos de Santa Maria” já passa dos 850 membros no Facebook. Na rede social, há explicações sobre como se associar e o calendário das entregas dos produtos, entre outras informações.  O pagamento da mensalidade da Associação cobre os valores de deslocamento, de apoio técnico e de planejamento da logística.  Para mais informações ou para se associar, acesse o grupo no Facebook

Reportagem: Daniela Sangalli, Mateus Martins de Albuquerque, Nadine Kowaleski e William Boessio
Infográficos: Nicolle Sartor

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