Em fevereiro deste ano, um alto índice de mortandade de peixes foi registrado em uma barragem que ficava próxima a lavouras de soja na região de Dom Pedrito. Exames laboratoriais apontaram que a morte dos peixes foi causada devido ao uso de agrotóxicos proibidos nas plantações.Isso fez com que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi) interditassem 35 hectares das duas lavouras e os produtores fossem multados em 25 mil reais.
As análises apontaram a presença dos princípios ativos Atrazina (herbicida), que não é liberado para a cultura de soja, e Carbofurano (inseticida), que é proibido em todo o estado do Rio Grande do Sul. A detecção dessas substâncias só foi possível graças ao trabalho que o Laboratório de Análises de Resíduos de Pesticidas (LARP) da UFSM vem desenvolvendo há quinze anos.
O LARP tem um papel decisivo no controle do uso de agrotóxicos e de outras substâncias no estado e no país, e isso se dá através de uma parceria feita entre a UFSM e o Ministério Público para atender demandas de análises de órgãos como o IBAMA e o Ministério da Agricultura. Quando há alguma denúncia ou ação judicial que suspeite do uso irregular de agrotóxicos em lavouras, o termo de cooperação técnica permite que o laboratório receba as amostras para serem analisadas. “O Ministério Público não tem como condenar alguém sem que haja uma análise e comprovação antes. Esses resultados são cruciais para que se tome uma decisão”, relata o coordenador do LARP, professor Dr. Renato Zanella.
As análises detectam desde agrotóxicos até medicamentos veterinários e fármacos. As amostras podem ser das mais diversas: solo, água, frutas, vegetais, ração, alimentos processados ou até mesmo ar. Essa variedade faz do laboratório um dos mais renomados do Brasil na área de análise de resíduos e contaminantes. Em 2013, o LARP conquistou o reconhecimento do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO). Para Zanella, esse foi um grande passo que atesta a capacidade técnica garantida pelo sistema de qualidade do laboratório.
O LARP tem parceria com outros laboratórios e recebe amostras de vários lugares do Brasil para serem analisadas. Toda a demanda de trabalho requer uma grande equipe, coordenada pelos professores Renato Zanella, Martha Adaime e Osmar Prestes: cerca de 25 estudantes bolsistas também fazem parte do laboratório. Em sua maioria, alunos dos cursos de Química e Farmácia, além de estudantes de pós-graduação em Qúimica.
Os bolsistas têm a oportunidade de desenvolver pesquisas e métodos de análise diferenciados. “Por exemplo, para analisar resíduos em peixes, é preciso estabelecer um método. E esse foi o tema da tese de doutorado de um aluno nosso”, conta Zanella. Para ele, estar no laboratório é ver na prática tudo o que se aprende em sala de aula e estar diariamente em contato com a química analítica. Quem entra para a equipe recebe uma série de treinamentos:“eles veem como funciona um sistema de qualidade num laboratório. É uma experiência profissional bem interessante”.
A opinião também é compartilhada pelos estudantes: Lucila Ribeiro faz mestrado em Química e trabalha no laboratório há seis anos – desde o segundo semestre da graduação. “O laboratório tem uma ótima estrutura, equipamentos e materiais. A gente consegue avançar em pesquisas e agrega muito para o currículo no mercado de trabalho”.
Reportagem, Infográfico e Fotografia: Camila Hartmann e Vitória Londero