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“Eu sou um imigrante”

Campanha britânica chama atenção para a xenofobia na Europa



Desde o surgimento da espécie humana, acredita-se que na África, o homem move-se ao redor do mundo. Durante os anos, seja em busca de melhores condições de vida, fuga de guerras ou crises políticas, religiosas e econômicas, os seres humanos foram povoando lugares e atravessando fronteiras. No entanto, essas fronteiras não são simples de serem ultrapassadas. A dificuldade de adaptação à língua e à cultura local, os trâmites legais para permanência, ou a própria reação dos moradores nativos faz com que a estadia dos novos moradores seja dificultada.

 

Apenas no ano passado, a Organização das Nações Unidas estima que 1,5 milhões de refugiados tenham atravessado o Mar Mediterrâneo para chegar à Europa e fugir de crises e guerras, principalmente vindos da Síria, Afeganistão e Iraque. Na travessia precária, com embarcações superlotadas e em péssimas condições, 3.210 imigrantes morreram ou estão desaparecidos. A busca por condições melhores de vida enfrenta, além da difícil fuga da terra natal, a falta de destino certo para chegar. Após cruzar o Mediterrâneo, os migrantes se arriscam em longas caminhadas para entrar em fronteiras, a maioria fechada por grades, muros e exército, de países europeus. Acredita-se que essa é a maior crise migratória da história.

 

O Reino Unido é um dos principais destinos dos imigrantes, devido a sua história de recepção de povos, desde  a Idade Antiga, com celtas, romanos, dinamarqueses, entre outros. Segundo dados britânicos, há um imigrante para cada oito britânicos. O período 2014-2015 foi recorde de chegada, com 636 mil imigrantes. No novo país, o imigrante que recebe asilo e proteção legal tem o direito de usufruir dos direitos básicos de todos os cidadãos, como direito à saúde, à liberdade de expressão e ao trabalho. Em alguns casos, o imigrante tem direito, inclusive, à nova nacionalidade. No entanto, a difícil aceitação por parte dos moradores pode se refletir em agressões verbais e físicas.

 

Pensando nisso, em 2015, a Organização Não Governamental britânica “Xenofobia, Não” começou uma campanha de comunicação anti-xenofobia, denominada “Eu sou um imigrante”. O principal objetivo da campanha foi dar visibilidade a trajetórias de imigrantes que contribuem diariamente para o bem-estar da população.

 

A proposta é mostrar a identidade dos imigrantes que vivem no país, e mostrar seu pertencimento à sociedade britânica. Um dos slogans principais da campanha foi Immigrants are part of the fabric of our society. It’s time to celebrate, not vilify, em tradução livre “Imigrantes são parte da nossa sociedade. é tempo de celebrarmos, não de desprezá-los”. Os pôsteres da campanha foram colocados em pontos de ônibus, estações de metrôs e trens do país todo, com foco na capital Londres, destino de muitos imigrantes. Além disso, a campanha também foi divulgada em redes sociais como Twitter e Facebook.

 

Os pôsteres e banners da campanha possuem rostos de imigrantes com frases como “Eu sou uma imigrante. Sou professora e ensino seu filho a ler e a escrever” e “Eu sou imigrante. Sou cirurgião cerebral e já salvei mais de 2000 vidas”. Com essas frases, a campanha busca mostrar a importância dos imigrantes para a sociedade, quebrando o estereótipo da falta de formação e de que essas pessoas não oferecem contribuições para a sociedade. Além dos pôsteres, no site da ONG as pessoas podiam criar seus próprios pôsteres e reproduzi-los em suas redes sociais, usando a hashtag #iamanimmigrant.

 

Um dos cartazes da campanha do Reino Unido

 

A campanha foi objeto de pesquisa da professora da ESPM-SP, Denise Cogo, e da doutoranda da ESPM-SP, Viviane Riegel. Após analisar como os imigrantes são representados no material divulgado, as pesquisadoras concluíram que a campanha veiculada pela ONG “Xenofobia, Não” é um contra-discurso em torno da atual situação migratória do Reino Unido. Segundo as autoras, a campanha oferece espaços para mostrar o papel dos imigrantes na sociedade, com o  objetivo de enfrentar os discursos xenofóbicos tanto da população britânica quanto dos setores governamentais do país. Além disso, “ela combate a generalização e responsabilização dos imigrantes pelos problemas econômicos e sociais do país, mostrando que as crises existentes não têm sua raiz no processo migratório” afirmam elas.

 

A campanha também serve para chamar a atenção para as políticas migratórias do governo britânico que têm se concentrado na questão quantitativa – quantos imigrantes podem receber, quantos valores mínimos para a permanência destes no país, etc.

 

Nos banners da campanha foram utilizados imigrantes de diversas nacionalidades, mas com um maior foco em europeus – visto que o fluxo migratório destes para o Reino Unido é maior. Há um padrão estético nas imagens, sendo ele ocidental, branco e laico, com poucos rostos negros ou étnicos. Também não há a utilização de elementos culturais das etnias de origem dos imigrantes, como roupas ou adereços.

 

No Brasil

De acordo com a Polícia Federal, até abril de 2015 o Brasil abrigava quase dois milhões de imigrantes em território nacional. De 2000 a 2010 o número de imigrantes no Brasil subiu cerca de 87,6%. Esses dados mostram que o brasileiro, além de ser descendente, em sua grande maioria, de imigrantes, é também um país formado por eles.

 

Pensando nisso, o Ministério da Justiça lançou no ano de 2015 as campanhas “Para os refugiados, o Brasil é uma oportunidade de viver” e “Brasil, a imigração está no nosso sangue”, com o objetivo de informar e sensibilizar a população a respeito da xenofobia, do preconceito e da intolerância a imigrantes. Essa ação é parecida com a realizada no Reino Unido, tendo como foco painéis e cartazes no centro das cidades e as redes sociais, com o uso das hashtags #EuTambémSouImigrante e #XenofobiaNãoCombina, além do site Eu sou imigrante.

 

As campanhas aconteceram no ano de 2015, como parte do esforço governamental para o acolhimento de estrangeiros que moram no Brasil e sofrem preconceito diariamente. Ela soma-se à Medida Provisória 697, que liberou R$15 milhões ao Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), visando reforçar a política de assistência a refugiados e estrangeiros.

 

Reportagem: Andressa Foggiato e Jocéli Lima
Fotografias: Divulgação

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