A preservação de documentos e livros de uma instituição de ensino é uma ferramenta importante para eternizar o conhecimento. Através das produções acadêmicas, é possível saber muito sobre a cultura e os costumes de uma determinada época, assim como entender o avanço científico ao longo dos anos. As bibliotecas são um desses locais considerados guardiões do saber humano, que abrigam muitos volumes e às vezes até raridades. A Biblioteca Central Conde de Porto Alegre, da Universidade Federal de Santa Maria, é fiel depositária da instituição e abriga grande parte do material produzido por alunos e professores, além das produções externas – ao todo, atualmente, são quase 370 mil exemplares.
O interesse pela conservação e transmissão de informações é um hábito humano bastante antigo: vem desde os tempos dos escritos em pedra e se estende até o formato digital, mas foi mesmo durante a Revolução Francesa que essa preocupação se disseminou. Independentemente do suporte em que o material está, os arquivos servem de base para comprovar fatos históricos, conforme aponta a professora do Departamento de Documentação do curso de Arquivologia da UFSM, Sônia Elisabete Constante. A conservação das publicações da Biblioteca Central, ainda mais se tratando de um número tão grande, é um cuidado constante dos responsáveis pela administração. Conforme a Diretora, Lizandra Veleda Arabidian, a preservação é importante principalmente para preservar a memória da instituição.
Iniciativas para a preservação
A informação e o conhecimento que estão difundidos nos livros, artigos e demais publicações, só podem ser disponibilizados caso estejam em bom estado de conservação. É essa discussão que baseia a disciplina de Conservação Preventiva de Arquivos, ministrada pela professora Sônia, que tem como objetivo mapear os fatores de degradação das publicações, assim como os cuidados para preservação. Aliando a teoria com a prática, são feitos trabalhos em lugares que necessitem recomendações para a conservação. A partir da escolha do acervo, os estudantes verificam sua situação, identificam os fatores que podem prejudicar a preservação e desenvolvem, no final, recomendações de ações que viabilizem “programas de prevenção que assegurem a salvaguarda do patrimônio documental”, afirma Sônia. Pensando na boa manutenção dos diferentes acervos da Biblioteca Central da UFSM, a professora criou o projeto “Da teoria às práticas: diagnóstico de conservação de acervos da Biblioteca Central da UFSM”.
Um dos acervos contemplados pelo projeto foi a Coleção Teses e Dissertações, que abriga mais de 20 mil publicações. O material, de acordo com a Diretora, é um dos mais solicitados e está em constante crescimento. O trabalho resultou em um artigo que aponta o diagnóstico do acervo – as condições de armazenamento do material, do prédio e do mobiliário, questões referentes à segurança e às condições ambientais – e os recursos disponíveis para a realização de ações preventivas.
A coleção está acomodada há mais de cinco anos em um local que, conforme a Diretora, não é adequado: o segundo andar da Biblioteca foi criado para ser um salão de estudos e apresenta várias dificuldades para a boa conservação do acervo. A pesquisa realizada pelos alunos do projeto mostrou problemas que prejudicam e deterioram o material com o tempo. As dificuldades são estruturais e também ambientais: o espaço não foi projetado para suportar o peso que hoje está sobre ele; o excesso de iluminação externa e a falta de ventilação também são um agravante, já que as janelas não têm filtros nem cortinas e algumas estão emperradas. O fato de o ambiente não ser climatizado gera mudanças bruscas de temperatura e umidade – cujo índice elevado, que chega a 70% em média na cidade, já não é favorável.
Para minimizar esses impactos, a direção da Biblioteca criou um projeto que vem sendo implantado desde 2010, para ampliar o espaço do acervo da Biblioteca Central. Um dos objetivos é transferir o acervo de Teses e Dissertações para o subsolo, que é climatizado. Hoje os livros ocupam toda a capacidade do local; por isso, é só depois da transferência desse material para o novo espaço que foi construído que a coleção de teses e dissertações será deslocada. “O objetivo é realizar esse trabalho ainda neste ano”, conta Lizandra. A principal dificuldade é movimentar o acervo com a biblioteca funcionando normalmente, por isso a ideia é fazer o serviço durante o período de recesso escolar, ainda este mês. As infiltrações que haviam surgido no início da obra estão sendo sanadas e o local vai estar apto a receber os livros em breve.
Essas mudanças, de acordo com a professora Sônia, vão proporcionar um ganho de espaço para o acondicionamento dos materiais. A retirada da produção científica de um local não climatizado para outro em boas condições de armazenamento diminui as chances de degradação do acervo por interferência de agentes biológicos ou ambientais.
Projetos como esse, que estabelecem programas para a conservação dos acervos permitem aos usuários da Biblioteca Central acessar os livros e teses por mais tempo e em melhores condições de uso. Além disso, a Coleção Teses e Dissertações está disponível em um banco digital, que pode ser acessado vitrualmente. A Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFSM (BDTD) da UFSM tem mais de três mil publicações com texto integral no TEDE, um programa distribuído pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). Para acessar, clique aqui. A UFSM se destaca ainda por estar entre as quinze instituições de ensino brasileiras que mais disponibilizam teses e dissertações via IBICT.
Reportagem: Camila Hartmann e Vitória Londero
Fotografias: Diego Fabian Pimentel