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Desvendando os crustáceos

Pesquisador da UFSM é premiado por estudo sobre estrutura corporal de caranguejos



Como algumas espécies de caranguejos utilizam suas garras? Elas são usadas de maneira eficiente? O estudo dessas questões rendeu ao doutorando do Programa de Pós Graduação em Biodiversidade Animal da UFSM, Alexandre Palaoro, uma premiação internacional. O prêmio de mil dólares é concedido anualmente pela The Crustacean Society (TCS), dos Estados Unidos, para ser investido em pesquisas. Alexandre recebeu o prêmio por desenvolver pesquisas sobre as modificações que ocorrem no corpo dos crustáceos e transformam a estrutura morfológica e funcional deles em mecanismos de defesa e luta.

 

O trabalho vencedor analisa como os armamentos de três espécies de crustáceos se desenvolvem, se transformando em uma estrutura forte e eficiente. Esse armamento – que pode ser uma pata ou uma garra – é usado pelo crustáceo para brigar e competir diretamente com outro macho pela atenção de uma fêmea.

 

O armamento estudado por Alexandre é o quelípodo dos crustáceos, primeiro par de pernas que forma uma grande pinça. O quelípodo pode desempenhar várias funções, como o auxílio na alimentação, ornamentação (chamar atenção da fêmea) ou luta (armamento). Ocorre que algumas espécies o utilizam mais para algumas funções do que para outras. O desafio de Alexandre é identificar quais modificações corporais são comuns em todas as espécies e quais modificações são específicas de cada função especializada do caranguejo.

 

 

As espécies estudadas só ocorrem na América do Sul e são a Aegla abtao, Aegla denticulata e Aegla longirostri. As duas primeiras são chilenas e a última é brasileira. Para chegar aos resultados, ele emprega duas técnicas. A primeira reúne medições lineares e de área – chamada de morfometria linear ou clássica – como, por exemplo, comprimento do corpo do animal e área do músculo que fecha o quelípodo. Pela outra técnica utilizada, chamada de morfometria geométrica, consegue separar o que é relativo ao tamanho da estrutura e o que é relativo à forma (por exemplo, se há modificação da forma do quelípodo na espécie para deixá-lo mais vistoso, ou mais compacto e robusto).

 

O projeto premiado integra o trabalho de doutorado do pesquisador que investiga, de modo mais amplo, a agressividade desses animais. Ele analisa que decisões um crustáceo toma durante a luta com outro crustáceo, quais são as adaptações morfológicas necessárias para ser bom em uma luta e quais são os gastos energéticos dessa luta. A pesquisa de Alexandre está na fase final da coleta de dados e parte do dinheiro do prêmio foi investido em despesas de viagem para recolher os caranguejos no Chile.

 

O pesquisador aponta que esse estudo não tem um impacto direto e imediato na sociedade. No entanto, observar as respostas que os animais desenvolveram no decorrer da evolução auxilia no desenvolvimento de ações para resolver problemas do dia-a-dia das pessoas. “A morfologia funcional é um ramo interessantíssimo para ser estudado, pois a natureza é muito criativa na hora de desenvolver soluções para problemas”, pontua.

 

A agressividade e as decisões que um crustáceo toma durante uma luta com seu oponente são investigados na pesquisa de Alexandre Palaoro

 

O quelípodo


A estrutura do quelípodo nem sempre é simétrica, podendo um deles ser bastante diferente do outro tanto na forma quanto no tamanho. Segundo Alexandre, essa diferenciação ocorre por adaptações dos animais na natureza que faz com que um dos quelípodos se especialize em determinada função. Os caranguejos conhecidos como “chama maré” tem um dos quelípodos eminentemente maior que o outro. O menor é utilizado principalmente para alimentação e escavar tocas e o maior é utilizado tanto para armamento quanto para ser uma estrutura vistosa (ornamento).  

 

Reportagem: Gabriele Wagner
Infográficos: Vitória Rorato

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