Edgar Allan Poe publicou seu primeiro livro em 1827. Com traços góticos e macabros, ali dava-se os primeiros passos para a literatura de horror. Mas o que é literatura de horror? Segundo os escritores do gênero, é aquele tipo de texto que trabalha com elementos do macabro e do obscuro, como Frankstein de Mary Shelley ou O bebê de Rosemary de Ira Levin. O horror conquista seus espaços pouco a pouco dentro da literatura dos dias de hoje. Nomes como Stephen King, trazem os holofotes para o gênero. Além disso, as adaptações cinematográficas destes filmes trazem novos leitores para a literatura de horror.
Duda Falcão é escritor e também editor da Argonautas Editora. Desde 2009, ele escreve contos e romances sobre o universo do terror e o que o permeia – como a literatura fantástica, por exemplo. Seu primeiro romance foi publicado em 2012 e se chama “Protetores”. Já seu primeiro livro de contos, “Mausoléu” foi publicado em 2013, com o selo de sua editora.
Duda esteve na UFSM para participar do I Ciclo de Estudos “O Profissional do Livro e o Mercado Editorial”, em abril deste ano. A Revista Arco entrevistou o Duda sobre a sua trajetória na literatura de horror e sua paixão pelo macabro.
Como começou o teu interesse pela literatura de horror?
Meu interesse começou muito cedo. Desde que eu comecei a ler história em quadrinhos eu já tinha esse interesse e fazia minhas próprias histórias. Comecei a ler Edgar Allan Poe e Drácula quando eu tinhas uns 12, 13 anos e daí tive minhas primeiras influências para escrever. A primeira história longa que eu escrevi foi na escola, para a minha professora, e foi uma experiência muito bacana pois eu gostei de ouvir a opinião dos meus colegas. Quando eu tinha 17 anos eu escrevi o meu primeiro conto, chamado “Mausoléu”. Anos depois eu li esse conto e transformei ele em livro, que lancei em 2013, sendo ele uma rearticulação do texto.
Quantas histórias você já publicou?
Em 2005 eu comecei a publicar algumas coisas. Em 2009 publiquei alguns contos e em 2012 saiu meu primeiro trabalho, que foi “Protetores”. É uma história mais longa, sobre caçadores de entidades sobrenaturais, que se organizaram para caçar vampiros, lobisomens e fantasmas na cidade de Porto Alegre. Esse livro está esgotado na editora já. Em 2013 eu publiquei “Mausoléu” que é uma coletânea de 36 contos que eu vinha escrevendo desde 2009, todos eles com temática de horror, mas tem alguma coisa ali de espada e feitiçaria. Mas meus textos sempre acabam tendo um elemento do extraordinário, do macabro, do estranho, que faz com que minhas histórias entrem na temática do horror. Esse ano eu estou lançando “O Treze”, que é uma coletânea de 13 contos mais longos que os do “Mausoléu”. Nesse livro novo eu mantenho a minha linha do horror, com influências de autores como Edgar Allan Poe e Howard Phillips Lovecraft.
Como é o seu processo de escrita?
Eu sigo diversos passos para escrever. O processo de escrita começa pelos textos que eu leio, coisas que eu vejo e escuto e todas as coisas culturais que estão ao meu redor e na sociedade. Depois disso eu começo o meu trabalho de escrita e de diversas revisões, o de enviar o texto para alguém ler e exorcizar esse texto de todas as maneiras possíveis até chegar o momento da publicação.
Quais são as particularidades da escrita de horror?
Nós temos dois pilares do horror, sendo um deles o escritor Edgar Allan Poe. O que ele escrevia, que o tornou tão diferente, foi que ele investiu em contos – e, para muitos, foi quem inventou a narrativa curta – mas o que define bem são as palavras macabro, estranho, extraordinário, escuro. O livro do Edgar, “Histórias Extraordinárias”, é uma tradução para o livro que deveria se chamar “Contos do grotesco e do arabesco”. A palavra que melhor define o Poe é grotesco. A palavra vem de “gruta”, que é um lugar escuro e sombrio, e o grotesco casa com essa ideia porque ele é algo bem difícil de definir. O segundo pilar é o Lovecraft, que escreve o que costumamos chamar de horror cósmico. Ele misturou o horror com a ficção científica e colocou o homem numa posição do universo de pequenez. O homem é ínfimo comparado às coisas que o universo pode proporcionar. O homem percebe o quanto ele é nada perante esse universo gigantesco.
Como é o espaço na literatura brasileira para a escrita de horror?
Existem autores brasileiros do gênero desde 1955, ano de publicação do livro “Noite na Taverna” do Álvares de Azevedo. Ele é um livro romântico-byroniano mas que tem características pontuais do horror. Desde aí temos um lance de horror no Brasil. Pouco se fala sobre essa literatura aqui. Um dos principais nomes, que surge na década de 1960, é o Rubens Francisco Lucchetti, que publicou cerca de 1500 trabalhos, sendo boa parte deles pertencentes ao gênero do horror. O principal título dele é “Noite diabólica”. O Brasil teve uma grande tradição nas décadas de 1950, 1960 e 1970 de quadrinhos de terror. Eles foram muito fortes e trouxeram autores como Júlio Shimamoto, um grande ilustrador e roteirista.
O maior problema é que o mercado não está olhando muito para esses autores de terror. Agora, talvez, com as editoras novas, como a Darkside – que vai lançar autores brasileiros como César Bravo – e a Avec, que lança meu segundo livro, eu acredito que as portas para o horror comecem a ficar um pouco mais amplas para quem gosta e escreve esse gênero.
E quem não conhece o gênero horror, deve começar lendo o quê?
Tem vários livros legais, que até podemos associar com o cinema. Quem nunca viu, por exemplo, o filme “Eu sou a lenda”? O livro é um clássico tanto do horror quanto da ficção científica, e é um ótimo livro para se ler. Talvez ele não seja um grande clássico do horror, mas é um bom livro para se iniciar nessa caminhada. Eu diria que o livro de contos “Sombras da noite”, do Stephen King, é um livro fantástico,por ter todos esses elementos do horror que eu já citei. O Lovecraft é um autor que publicou muitos contos separados em revistas, quando ele ainda era vivo. No Brasil saíram diversas edições dos contos dele, reunidos. Então procurem pelo Lovecraft, qualquer coisa dele. Todas as obras dele deveriam ser lidas, na verdade. E, obviamente, que o Edgar Allan Poe também, ele é um gênio.
Reportagem: Jocéli Bisonhim Lima
Fotografias: Rafael Happke
Infográficos: Nicolle Sartor