De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia, as manchas são um dos motivos mais frequentes na procura por tratamento dermatológico. Dentre elas está o melasma: pigmentos amarronzados (que são a melanina) que provocam um tipo de alteração na cor natural da pele, criando algumas manchas mais escuras que a pele normal. Ainda que o melasma não tenha cura e provoque uma mudança na estética facial, ele não apresenta riscos à saúde. Os melasmas podem estar relacionados a hormônios sexuais, medicamentos ou a exposição ao sol, e são mais comuns nas mulheres. Apenas 10% dos casos de melasma ocorrem em homens.
Essas manchas – além de serem permanentes – podem ter origem no DNA. Segundo pesquisa apresentada na Universidade Estadual Paulista (Unesp), a origem dos melasmas faciais pode estar na herança genética de algum ancestral, recente ou do passado. A pesquisa coletou amostras de DNA de 119 mulheres em idade fértil e a partir desse material, foi analisada a ancestralidade genética – africana, indígena e europeia, que são as que em sua maioria compõem a população brasileira – , ou seja, os traços genéticos que são comuns no indivíduo e nos indivíduos dos quais ele herdou o DNA. Essa característica pode se manifestar mesmo após várias gerações.
Para a pesquisa, foram selecionadas mulheres com e sem melasma, todas apresentando algum grau de miscigenação. A miscigenação se caracteriza por misturas étnicas, que consequentemente formam indivíduos de diferentes tons de pele. Cerca de 90% dos casos de melasma ocorrem em indivíduos de fototipos intermediários. A intensa miscigenação populacional do Brasil, que gerou grande número de indivíduos com esse fototipo, e a localização geográfica de alta incidência de radiação ultravioleta (RUV) favorecem o desenvolvimento da doença no país. Estima-se que, entre 15 e 35% das mulheres brasileiras adultas sejam acometidas pelo melasma.
O que determina cada tom de pele é a localização, quantidade e tamanho dos melanossomos, algo como uma “bolsinha” que armazena a melanina (pigmento que dá cor à pele). A pele negra possui melanossomos grandes e não agregados, que se distribuem por todas as camadas da pele. Já a pele caucasiana possui melanossomos mais concentrados e menores. Os melanossomos de negros africanos são, em média, maiores que os melanossomos de asiáticos e caucasianos, ainda que existam variações mesmo dentro desses grupos populacionais.
Segundo dados da Clinical Drug Investigation (Investigação de Drogas Clínicas, em tradução livre), periódico que pesquisa estudos farmacológicos, foram observados índices de até 40% das mulheres e 20% dos homens acometidos por melasma no sudeste asiático. Um estudo publicado pela Academia Europeia de Dermatologia analisou a ocorrência de melasma no sudeste e sul brasileiro e revelou predominância dos casos em pacientes de fototipos III (34,4%), IV (38,4%) e V (15,6%). Dos pacientes analisados, 86,9% pertenciam aos fototipos III e IV.
Nesse contexto, a pesquisa apontou uma associação entre o componente ancestral genético africano e melasma facial em mulheres brasileiras de fototipos III, IV e V. Sendo a hereditariedade um dos fatores que dão origem ao melasma, as mulheres de tons de pele tipo III, IV e V estão inseridas no grupo de risco de ocorrência da doença.
Reportagem: Carolina Escher, Maria Helena, Nicoli Saft
Infográficos: Nicolle Sartor
Fotografias: Divulgação