O oxigênio é a substância química mais importante para a humanidade. Ele tem como função mais óbvia, no processo da respiração, a oxigenação celular dos seres vivos. Mas você já pensou em outras utilidades para esta substância? Alunos do Colégio Técnico Industrial de Santa Maria (CTISM) criaram um triciclo que se movimenta utilizando energia limpa, o ar comprimido.
O desafio foi lançado em 2015 pelo professor do Laboratório de pneumática, Sergio Adalberto Pavani, que buscava utilizar os materiais ociosos do laboratório. O então estagiário Lucas Cereta, do Curso Técnico em Mecânica, deveria construir um veículo movido a ar comprimido, estocando a energia em garrafas de refrigerantes. Segundo Pavani, os desafios tecnológicos foram muitos e o projeto, em todas suas etapas de experimentação e construção, demandou quase seis meses até o primeiro teste.
O veículo, que não exige propulsão humana, atualmente é capaz de andar 750 metros, a 10km/h. Ele funciona como uma antiga máquina à vapor, porém a energia é o ar comprimido: ao invés dos combustíveis que abastecem os tanques dos automóveis, neste caso a fonte é o ar. O triciclo trabalha com rodas, 36 garrafas PET, pedal, freio, correia de bicicleta e uma estrutura de aço.
O veículo funciona através de um cilindro pneumático (igual ao dispositivo que abre e fecha a porta dos ônibus) que foi ligado ao pedal de uma bicicleta. Uma haste, acionada pelo ar, faz com que o pedal se mova. Um sistema mecânico (o compressor) aumenta a energia do ar, que é estocado em 36 garrafas de refrigerante de 2 e 3 litros. O ar comprimido sai das garrafas, passa por um conjunto de válvulas que controlam a força e a velocidade. A direção, assim como a dos primeiros automóveis, é uma barra vertical.
Cereta conta que ao longo do processo de invenção do carro surgiram problemas. “A maioria deles foi em razão da falta de orçamento, o que nos obrigou a adaptar os equipamentos que o laboratório já possuía”, lembra. Isso proporcionou ao estudante um aumento de experiência na área de conhecimento técnico mecânico: “a cada problema resolvido ou contornado era mais conhecimento adquirido”.
Já existem experiências semelhantes na produção de veículos a partir de fontes de energia sustentáveis. Porém nenhum deles utiliza garrafas PET como reservatório para o ar – e é aí que reside o diferencial deste projeto e que amplia a sustentabilidade da iniciativa, já que une duas ações que objetivam não degradar o meio ambiente: a produção do veículo em si, que não polui, já que seu combustível (o ar comprido) pode ser adquirido através de compressores elétricos ligados por meio de painéis solares. E, em segundo lugar, o armazenamento em garrafas PET reutilizadas.
Este veículo pneumático serve como protótipo de um meio alternativo de transporte, tendo em vista que ainda hoje, quando se fala em locomoção, somos dependentes dos combustíveis fósseis. O triciclo “atualmente é uma ideia ainda pouco viável, mas o projeto vem com o intuito de demonstrar que um dia pode se tornar possível”, conta Cereta.
Atualmente, Lucas cursa Engenharia Mecânica no campus da UFSM em Cachoeira do Sul. Mesmo não estando mais presente no laboratório do CTISM, os planos para o futuro da invenção não param por aqui. A ideia é desenvolver uma estrutura nova, substituir e acrescentar equipamentos a fim de aumentar o percurso traçado pelo veículo. Segundo o professor Pavani, na França essa tecnologia já é mais desenvolvida e permite um percurso de 80km. “Note que a ida e vinda do centro de Santa Maria até a UFSM é de aproximadamente 20 quilômetros e isto permitiria 4 viagens completas”, observa ele.
Reportagem: Camila Hartmann e Vitória Londero
Fotografias: Divulgação
