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Estudando a morte

Equipamento possibilita que sejam feitas necrópsias menos invasivas ao corpo humano



 

A necrópsia de um cadáver, normalmente, é feita pela abertura de três cavidades no corpo: crânio, tórax e abdômen. Ela é exigida quando alguém morre por causas naturais ou falta de assistência médica, doença sem explicação, rara ou morte violenta ou suspeita. Os médicos legistas analisam o estado dos órgãos internos do cadáver através desses três cortes, buscando identificar ou confirmar a causa da morte.

 

O método da necrópsia pode ser considerado invasivo por conta dos três cortes realizados e seus tamanhos. Pensando nisso, a empresa Siemens criou o Magnetom 7T MRI, o primeiro equipamento de ressonância magnética para corpo inteiro, que usa indução eletromagnética e fornece melhor resolução. Através do uso deste equipamento, é possível analisar o cadáver por diagnóstico de imagem, sem ser necessário realizar cortes no corpo como em uma necrópsia convencional.

 

A primeira unidade deste equipamento na América Latina está localizada em uma construção subterrânea na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), no laboratório Plataforma de Imagem na Sala de Autopsia (Pisa), sob o comando do professor e patologista Paulo Saldiva. O principal uso do equipamento é em estudos de cadáveres recebidos pelo Serviço de Verificação de Óbitos da Capital (SVOC), que é mantido pela USP e realiza cerca de 14 mil necrópsias por ano relacionadas a mortes por causas naturais.

 

Um dos objetivos de Saldiva é utilizar o equipamento para ajudar as pessoas vivas. Com ele, seria possível compreender doenças e avançar em seus diagnósticos. Há enfermidades que não podem ser estudadas com seres humanos vivos, devido ao grau de risco na extração de tecidos ou órgãos. Com o Magnetom 7T fica mais fácil de estudar estes casos e localizar pontos exatos de tecidos que precisam ser retirados. No caso do estudo em cadáveres, a máquina possibilita que não sejam necessários os cortes e a procura manual por possíveis causas da morte. Além disso, a máquina realiza o diagnóstico de imagem em até 30 minutos liberando o corpo em pouco tempo para a família.

 

O projeto criado por Saldiva se chama Brazilian Imaging and Autopsy Study (Bisa), em tradução livre Estudo Brasileiro de Autópsia por Imagem, e consiste em estudos comparativos entre a necrópsia convencional e a ressonância do Magnetom 7T.  Com consentimento dos familiares, o corpo é submetido à ressonância magnética e posteriormente à necrópsia convencional. Assim, os pesquisadores poderão comparar os resultados dos dois procedimentos e avaliá-los. A grande dificuldade está em convencer as famílias dos pacientes mortos da importância dos estudos em cadáveres para a saúde das pessoas vivas. Além disso, as pesquisas também ajudarão a dar uma causa mais exata da morte, colaborando com o controle da qualidade hospitalar.

 

O equipamento

O Magnetom 7T custa em torno de 7 milhões de dólares. Ele é um equipamento que oferece mais sensibilidade e detalhamento para medidas estruturais e funcionais do organismo humano através da ressonância magnética – a tecnologia que permite identificar propriedades no corpo de uma maneira menos invasiva. A ressonância funciona através de “fotografias” do corpo, nítidas o suficiente para o médico ter uma excelente visão do interior do organismo humano. A sigla 7T no nome significa que o aparelho opera com 7 unidades de Tesla (unidade de medida do campo magnético). Isso faz com que a resolução das imagens feitas por ele sejam 5,4 vezes superiores à de equipamentos com 3 Tesla, e 21 vezes superior aos equipamentos normalmente utilizados em hospitais, de 1,5 Teslas.

 

Os equipamentos de 7 Tesla ainda não estão liberados para serem utilizados em fins clínicos, mas já estão presentes em centros de pesquisa do mundo todo, como no Pisa (USP). O Magnetom 7T foi obtido através do Programa Equipamentos Multiusuários (EMU) da FAPESP, que visa adquirir equipamentos de última geração que sejam úteis para um amplo número de pesquisadores brasileiros. Inicialmente, cerca de 20 projetos serão beneficiados com a utilização da máquina, que está em funcionamento desde março de 2015.

 

Reportagem: Andressa Foggiato e Jocéli Lima
Infográficos: Nicolle Sartor

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