Na década de 70, emergiu nos guetos de Nova York uma nova forma de cultura: o Hip-Hop. Foi nas ruas de bairros como o Bronx, Brooklyn e Harlem que foram dados os primeiros passos da dança de rua, grafitados os primeiros muros, criadas as rimas dos MCs e mixadas músicas por DJs. Estes bairros eram considerados periféricos na época, sendo habitados principalmente por negros. Por isso, a cultura do Hip-Hop é associada a cultura negra estadunidense até hoje.
Através dos passos de locking, popping e b-boying, os breakers – como são chamados os bailarinos de street dance – conquistaram espaço e visibilidade na sociedade, tornando a dança algo além de uma expressão cultural. A dança acabou tornando-se um meio de expressar a voz e visão de mundo daqueles que, aos olhos da sociedade, são considerados minorias sociais.
Os primeiros grupos de dança de rua do Brasil, surgiram na década de 80. O local de encontro para as batalhas de b-boys eram as estações de metrô e ruas de São Paulo, sendo o público na sua maioria, negros da periferia paulista. No Rio Grande do Sul, a dança de rua chegou em Porto Alegre alguns anos depois, sendo o bairro Restinga de Porto Alegre um dos locais de difusão dessa cultura. Em Santa Maria, os primeiros passos foram dados na década de 90, nas ruas e praças da cidade.
O grupo de dança “Ritmo de Camobi” é um grupo que utiliza a dança como forma de expressão e socialização. Fundado pela coreógrafa Jéssica Loss, juntamente com alunos da Escola Antônio Gonçalves Amaral e jovens da comunidade camobiense, o grupo atualmente conta com cerca de 35 bailarinos, sendo estes crianças e adolescentes. Para permanecer no grupo, todos os bailarinos devem frequentar escolas e possuir boas notas. O grupo também funciona como uma ferramenta de inserção cultural e social, ensinando os alunos sobre a cultura do hip hop e o que esta representa.
“Acredito que a dança pode se tornar um fator de inclusão social para jovens da periferia, por muitas questões. A dança é uma prática que não necessita de muitos investimentos financeiros, possibilitando para os jovens um espaço criativo de troca de informações, de trabalho em equipe, de incentivo, de cobranças de responsabilidades, de apoio as dificuldades e acima de tudo um local em que uma equipe inteira luta pela mesma causa. Em resumo, para além do aprendizado, a dança possibilita a inserção em espaços multiculturais diversos.” comenta a coreógrafa Jéssica.
A cultura hip-hop, de uma maneira geral, é vista com certo preconceito pela sociedade. As vestimentas dos bailarinos são moletons, capuz, calças largas e blusas soltas, sendo classificadas como “roupa de marginal”. “Existe uma série de estereótipos e estigmas que os bailarinos desse estilo de dança, vem lutando diariamente para desmistificar. Além disso, posso afirmar que as danças urbanas vem cada vem mais se inserindo em espaços clássicos, tais como teatros. Isso nos ajuda a criar uma visão mais artística e menos marginalizada, já que normalmente associam o estilo hip-hop como algo da periferia e das ruas”, conta Jéssica.
Reportagem: Jocéli Lima
Fotografias: Rafael Happke