Quando se fala em abelhas, geralmente se lembra dos ferrões e do mel. Mas as abelhas são mais do que insetos operários produzindo um alimento energético ou distribuindo picadas. Cientistas estimam que as abelhas são responsáveis por cerca de 80% da polinização mundial. Este é um processo importante na formação de frutos em plantas, uma vez que o transporte de pólen de uma flor para a outra gera a fecundação das flores e começa o desenvolvimento dos frutos e sementes.
Por isso, a preservação das abelhas e o cuidado com elas é um tema que já vem sendo muito discutido e pesquisado. Com a extinção destes insetos, além do mel, que seria perdido, haveria uma drástica diminuição na quantidade e qualidade de frutos e sementes, afetando a produção mundial de alimentos. Neste sentido, um estudo realizado em universidades de Minas Gerais indica que a dieta é um fator diretamente ligado ao tempo de vida das abelhas africanizadas. Dentre as diferentes dietas testadas, duas apresentaram o menor nível de mortalidade das abelhas: uma solução composta por açúcar granulado e uma composta por açúcar granulado e suco de limão.
As dietas associadas ao aumento da longevidade das espécies, que representaram uma variável afetando o tempo de vida das abelhas, foram determinadas sob condições laboratoriais. Os pesquisadores selecionaram nove dietas diferentes: mel, açúcar granulado, açúcar granulado + ácido tartárico (encontrado em frutas como uva e abacaxi), açúcar granulado + suco de limão, Gludex (adoçante natural), frutose, açúcar de doces, melaço e caldo de cana.
As abelhas foram separadas em grupos de 10 e colocadas em gaiolas de PVC com 15 cm de altura x 10 cm de largura. Os insetos foram observados 26 vezes a cada 12 horas, o que equivale a um total de 312 horas de experimento. As abelhas que foram alimentadas com caldo de cana e melaço tiveram uma taxa média de sobrevivência muito baixa (em torno de 35 horas), por isso, essas dietas não são recomendadas. Entre as outras dietas, durante as primeiras 72 horas, não houve nenhuma diferença significativa, A partir daí, puderam ser detectados picos de mortalidade entre as abelhas a cada 24 horas de observação.
A primeira dieta a ser descartada foi a baseada em Gludex. O adoçante foi considerado inapropriado pelos pesquisadores, uma vez que causou a mortalidade das abelhas, em comparação às outras dietas. Após 288 horas de experimento, as abelhas passaram a rejeitar a alimentação baseada em açúcar de doce e frutose, o que causou queda acentuada no seu tempo de vida durante o último período de tempo, reduzindo muito sua taxa média de sobrevivência.
Ao fim, o experimento indicou que a dieta composta de açúcar granulado enriquecido com suco de limão foi a mais eficiente, com uma taxa média de sobrevivência de 166.44 horas. Entretanto, segundo os autores, “duas dietas diferentes, de acordo com o período de tempo do experimento, são recomendadas em experimentos laboratoriais com abelhas adultas: a dieta composta de açúcar granulado enriquecido com suco de limão é recomendada durante as 192 primeiras horas. A partir daí, a dieta de açúcar granulado é recomendada. O uso destas duas dietas garante uma taxa maior de sobrevivência para as abelhas”.
Os resultados ainda revelam que os picos de mortalidade das abelhas se ajustaram ao ritmo circadiano, um período de aproximadamente 24 horas, que funciona como uma espécie de “relógio biológico”, sobre o qual se baseia o ciclo biológico de quase todos os seres vivos. Assim, as maiores taxas de mortalidade entre as abelhas ocorreram durante o dia, entre as 7h00 e as 19h00.
Os pesquisadores ainda concluem que “a mortalidade de um dado número de abelhas vivendo na mesma gaiola deve influenciar a mortalidade das outras”. Há, assim, uma sincronização social dos ritmos de atividades entre as abelhas. Quando isoladas, as abelhas individuais trabalham, descansam e morrem em determinado ritmo de tempo. Quando fazem parte de uma colônia, as abelhas adaptam-se ao ritmo social e trabalham, descansam e, mesmo, morrem em sincronia com a colônia.
Reportagem: Matheus Santi
Infográficos: Nicolle Sartor