No Brasil, apenas os estados do Piauí, Ceará, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte tem produção de sal marinho, o tipo preferido dos lares brasileiros. Mas esta produção está longe de ser equilibrada: enquanto o estado do Rio de Janeiro, onde se encontram as marcas de sal mais conhecidas nacionalmente, produz apenas 2,9% do sal consumido no país, o Sumário Mineral Brasileiro destaca que 94% da produção se concentra nas salinas potiguares.
A resposta para o sucesso do Rio Grande do Norte pode estar na teoria de um economista austríaco da primeira metade do século 20, Joseph Schumpeter. A proposta é resultado de um trabalho conjunto de pesquisadores de três dos quatros estados produtores: Marco Túlio Mendonça Diniz (UFRN), Fábio Perdigão Vasconcellos (UECE) e Márcia Barbosa Martins (UERJ) consideram que o desenvolvimento das salinas no Rio Grande do Norte acabou por utilizar a metodologia empreendedora de Schumpeter.
Professor da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Schumpeter foi um dos principais expoentes da Teoria do Empreendedorismo, que defende o capitalismo como uma forma de transformação econômica. Segundo essa teoria, a economia não deve ficar estática e sua mudança deve partir do produtor, não do consumidor.
Desde 1938, quando o IBGE passou a coletar dados acerca da produção de sal no país, o Rio Grande do Norte figura como o maior produtor do insumo. Como a produção era artesanal, o volume não era suficiente para atender o mercado nacional , que precisava se complementado com importações. Com a criação do Instituto Nacional do Sal em 1940, a produção nacional passou a ser protegida, com cotas estabelecidas, sistemas de financiamento e a proibição de construção e ampliação de salinas. A Comissão Executiva do Sal, que assumiu a regulamentação do setor em 1967, acabou com as cotas e permitiu a ampliação e venda das salinas para empresas estrangeiras.
O Rio Grande do Norte se beneficiou também pelo clima, que permitiu um aumento no tamanho das salinas – algo que não pôde acontecer nos outros estados. A expansão na produção favoreceu que o processo se tornasse mais moderno, com a chegada da mecanização e a instalação de um porto naval no Estado. O mercado potiguar acabou, não intencionalmente, cumprindo as cinco etapas empreendedoras descritas na obra de Schumpeter – o que, segundo os pesquisadores, explica seu predomínio de mercado ainda hoje.
A produção é tão intensa que em 2012 os Estados Unidos importaram sal do Rio Grande do Norte para ser utilizado no derretimento de nevascas intensas. Além disso, o estado é referência na produção de Flor de Sal, um tipo raro e refinado, usado em restaurantes especializados. Só a cidade de Mossoró, distante 280 quilômetros da capital Natal, produz até 8 toneladas de Flor de Sal por ano, um produto que pode chegar ao custo de 20 reais por cada 150 gramas.
A indústria salineira é de vital importância para o Rio Grando do Norte, e emprega mais de 70 mil pessoas, direta e indiretamente. A economia do estado também tem sido afetada com a situação econômica nacional. No ano de 2015, o valor da tonelada de sal baixou de 180 para 50 reais. A solução foi investir na exportação, principalmente para nações africanas: a Nigéria consome 60% das 400 mil toneladas exportadas anualmente pelo estado.
Embora o país africano seja o maior importador do sal potiguar, a demanda pelo insumo também tem crescido em países como Canadá e Estados Unidos. Uma saída está posta. Resta saber se o espírito empreendedor de Schumpeter protegerá o sal potiguar em tempos de economia desfavorável.
Reportagem: Mateus Albuquerque e Willian Boessio
Infográficos: Júlia Dotto e Mayara Souto