O método de ensino, tanto nas escolas quanto nas universidades, mudou drasticamente nos últimos anos. Com a inclusão da tecnologia no dia a dia dos estudantes, o ensino linear e somente dentro da sala de aula não funciona mais. Cada vez mais os professores são obrigados a transformar o seu modo de ensinar, incluindo o uso de multimídias nas atividades escolares, buscando a inclusão digital. E é sobre isso que a Revista Arco conversou com Ronaldo Mota, reitor da Universidade Estácio de Sá. Motta é professor aposentado da UFSM e ex-Secretário Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Ele esteve em Santa Maria no dia 8 de março para participar da aula inaugural do Centro de Tecnologia e do Centro de Ciências Naturais e Exatas da UFSM.
Como as novas tecnologias tem impactado a nossa sociedade?
Vivemos dilemas de uma sociedade onde a informação vai estar disponível instantaneamente, de um modo acessível e gratuito. O ser humano nunca viu isso, nunca se deparou com esse nível de realidade. Isso impacta todos os campos, todos os setores, todas as pessoas, inclusive o campo educacional.
Em relação ao campo educacional, como vai se dar a relação com a tecnologia?
As mudanças na educação, por causa da tecnologia, serão muito fortes. Elas ainda não ocorreram. O educando não é mais o mesmo, porque há uma força demandando transformações, que não vem da escola, não vem do professor, não vem daqueles que fazem as políticas educacionais. Elas vêm de quem estuda, porque esse estudante não é mais o mesmo de anos atrás, ele demanda uma maneira específica de estudar. Curiosamente essa maneira é específica mas deve ser plural, porque cada pessoa tem a sua maneira de aprender. Você tem que desenvolver um modelo educacional que atenda a todos os tipos de pessoa, porque cada pessoa tem um DNA próprio de aprendizagem. Então você vai ter que customizar trajetórias individuais e é muito difícil fazer isso.
“Você tem que desenvolver um modelo educacional que atenda a todos os tipos de pessoa, porque cada pessoa tem um DNA próprio de aprendizagem.”
Como que os educadores podem superar este desafio da educação plural?
Os educadores hoje em dia tem que ser tolerantes. Tolerantes no sentido de que a educação é algo em constante construção, sendo tolerantes porque eles vão trabalhar em interfaces onde o educando sabe muito mais que ele. Portanto ele vai ter que desenvolver um sistema educacional e um processo de aprendizado, onde a parte que tipicamente sabia – e que sabe mesmo – do ponto de vista do conteúdo aprenda com o educando, que sabe do ponto de vista da mídia e isso não pode representar para o educador nenhum tipo de conflito. Ele não é menos educador por não saber mexer nisso, na verdade ele se torna mais educador quando desenvolve essa capacidade de compreender. Isso tudo são transformações de grande escala.
Como a universidade deve se adaptar a esse contexto?
É uma tarefa difícil, porque por si só a universidade não se transforma. Eu acho que ela vai passar por algumas crises para que consiga se transformar. Mas são crises positivas e de constatação de que você tem um público que demanda abordagens bastante distintas das tradicionais. Então a universidade vai ter que se reinventar sobre si mesma, em uma dinâmica muito acelerada, tendo que se adaptar.
Reportagem: Jocéli Bisonhim Lima
Fotografia: Agência de Notícias UFSM