Quem primeiro conhece Estevan Mocca por seu trabalho artístico dificilmente imagina que por detrás dos traços fortes e das escolhas visuais marcantes esteja uma personalidade tímida e introspectiva. Aos 27 anos, prestes a se formar em Artes Visuais pela UFSM, Mocca transita entre diferentes gêneros artísticos, como a pintura e a fotografia. Mas são os retratos que chamam atenção particular.
Marcados por uma leitura subjetiva do artista sobre o cotidiano da pessoa que vai ser representada, os retratos de Mocca carregam muito mais do que alegorias de um outro. Na arte, Estevan abandona a timidez e assume o protagonismo atrevido do artista, deixando marcas de si nas representações do mundo que o cerca. A forma com que se expressa, desenhando, grafitando ou fotografando, faz com que ele seja uma sinfonia de graves e agudos.
“Acredito que todas as minhas ilustrações são uma espécie de autorretrato, seja na utilização de símbolos e signos, seja pela questão da composição e visão cromática. É o meu olhar sobre outras pessoas. Trabalho com a estilização do mundo real e com a transmutação do mesmo para o universo onírico pessoal. A desbanalização do cotidiano banal.”
Os retratos de Mocca estão longe de qualquer ideia de mimese, não são convencionais ou fiéis à aparência física da pessoa retratada. A cada encomenda que recebe, o artista explora um mundo de sentidos além do visível, do concreto.
“Meu trabalho realmente não é uma cópia real da pessoa. É a minha visão dela no meu universo, ele é amplo e multifacetado, e a arte contemporânea exige esse desdobramento do artista”.
Mocca se insere no trabalho retratado, a ponto de se auto reconhecer naquilo que acabou de produzir. Para isso, estuda a pessoa a ser representada, busca conhecer seu universo particular e cria as bases para a obra. No plano da interpretação individual, Estevan também se permite desbravar o desconhecido.
“O meu trabalho é bem aberto à interpretação das pessoas. Se elas veem nos retratos alguma coisa que eu não vi, acho bacana. Gosto da ideia de que cada pessoa possa ter a sua percepção, não ficar presa na minha.”
Uma das marcas de Mocca nos retratos é a tatuagem que leva impressa em seu próprio rosto. Enquanto cria o universo visual de estranhos, é a si mesmo que Estevan explora nos retratos. Por trás da simbologia de Mocca, encontramos traços fundamentais de suas percepções sobre o mundo: a criança que descobriu como superar a sua timidez extrema através da expressão artística. Estevam aprendeu com o avô que a fotografia poderia ser uma de suas maiores fontes de comunicação com o outros.
“Eu comecei como artista quando era criança, com meu vô. Ele me ensinou a desenhar, e era fotógrafo também. Duas vertentes bem fortes do meu trabalho. Até por essa vivência que tive com ele, que foi muito significativa para mim.”
No seu ateliê particular, o som do traçar do pincel e lápis de cor é uma sinfonia quase inaudível e metafórica para sua inibição. A timidez que demonstra no contato com desconhecidos contrasta com a expressividade artística, que apresenta para o mundo o seu “eu interior” como uma mistura complexa e desequilibrada de um intenso atrevimento conectado com o seu modo de ver o mundo.
Reportagem: Julia Nadine Schapowal e Lenon Martins de Paula
Fotografia: Rafael Happke
Vídeo: Estevan Mocca