Desde 2013 na UFSM, o português Leonardo Charréu dedica parte de sua jornada acadêmica para apresentar aos alunos do Departamento de Artes Visuais as características da ilustração científica, um campo pouco conhecido mesmo por quem convive com a rotina de produção de conhecimento nas Universidades.
A representação visual de animais, plantas, modelos experimentais e estruturas biológicas são exemplos de aplicações dessa técnica que, no contexto científico, auxilia os pesquisadores a comunicar suas ideias de forma mais concreta e eficiente. O campo da ilustração, no entanto, ainda não está plenamente conceitualizado: a reflexão sobre a função ou sobre o processo de produção dessas imagens é pouco explorado e a compreensão de sua importância para o campo de pesquisa é reduzida.
Charréu destaca que a ilustração muitas vezes não é totalmente reconhecida, sendo percebida como acessória na construção da explicação científica. “Muitos pesquisadores universitários fazem projetos de pesquisa bem volumosos em nível de orçamento, mas, mesmo assim, não têm consciência da importância de contratar o ilustrador científico para o desenvolvimento de seus trabalhos”, defende.
A produção da ilustração científica vai muito além do talento de desenhar. Embora os atributos artísticos sejam ferramenta fundamental para o ilustrador, a pesquisa empírica e o conhecimento aprofundado dos objetos de pesquisa que serão representados nas figuras é essencial.
Apesar do potencial da ilustração científica como técnica de trabalho no campo das Artes Visuais, a ausência de um debate mais profundo sobre a representação visual como estratégia de divulgação do conhecimento científico prejudica o desenvolvimento de um mercado de trabalho mais consistente. Charréu, contudo, considera fundamental criar esse espaço dentro da própria Universidade. “A nossa ideia é expandir a ilustração científica para as outras áreas do campus, outros departamentos”, afirma.
Para o professor português, os artistas devem se dedicar a áreas da produção cultural, produção científica, ilustração de livros infantis. Enfim, precisam estar preparados para diferentes possibilidades de trabalho. “Os jovens artistas hoje precisam diversificar as suas competências, afinal de contas, se lançar no mundo da arte não significa estar dentro de um ateliê fazendo pintura a óleo. Essa é uma ideia romântica que já não corresponde ao que é ser artista”, explica Charréu.
Ilustrações luso-brasileiras
Coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ilustração Científicas (Nepic), Leonardo Charréu orienta dez alunos de diferentes áreas acadêmicas, todos em busca do objetivo de estabelecer a ilustração como força potencial no mundo científico.
O Nepic aposta nas exposições como uma estratégia de divulgação do seu trabalho. Com a compreensão de que o conhecimento científico precisa ultrapassar os limites da Universidade, a equipe do professor Charréu busca continuamente a ampliação do acesso da população às ilustrações, enfatizando temas diferenciados, que possam estimular a curiosidade das pessoas.
O grupo já realizou três exposições em Santa Maria “Para além da exposição inaugural, realizada em dezembro de 2013 e que tinha como tema a ornitologia (estudo dos pássaros), fizemos, em setembro de 2015, duas exposições, com ilustrações de aves de rapina e falconídeos e com a botânica do jardim da nossa Universidade como temáticas.” Leonardo Charréu conta que as exposições também vão acontece em Portugal. Uma delas, encerrada em fevereiro de 2016, levou o trabalho “Falconídeos e Aves de Rapina da Falcoaria Real de Salvaterra de Magos, Portugal” para a região de origem desses animais, em Salvaterra de Magos, Portugal. Após, em agosto de 2016, as ilustrações santa-marienses aportam na Casa do Brasil, antigo palácio que servia de residência a Pedro Álvares Cabral em Portugal. Nela, o grupo vai falar sobre a botânica da UFSM.
Reportagem: Amanda Iung, Bruno Steians e Luis Fernando Filho,
Ilustrações: Leonardo Charréu