Há mais de três anos, o evento Batalha dos Bombeiros tem reunido os jovens de todas as regiões de Santa Maria que desejam contribuir com a divulgação da cultura periférica da cidade. Com o objetivo principal de fortalecer a cultura do Hip Hop, o Coletivo de Resistência Artística Periférica (Co-Rap) organiza a ação que acontece toda sexta-feira da segunda semana de cada mês na Praça dos Bombeiros, centro da cidade.
A Batalha dos Bombeiros possui como característica a rima de improviso, sem equipamentos de som. A proposta é ambientar os participantes na raiz do Hip Hop e possibilitar que façam parte do evento apenas aqueles que desejam ouvir as apresentações.
Um microfone e uma caixa já fazem diferença. “Porque eu estou falando aqui e você está lá. Entende? É um circulo e ninguém é mais que ninguém. Está todo mundo ali, sintonizado, para fazer a coisa acontecer. Então, pensamos em manter isso. Já teve vezes em que perguntaram ‘Ah, por que não tem caixa? Está muito baixo. ’ Mas quem está participando tem que falar alto e pedir para o pessoal fazer silêncio. E as pessoas que estão ali precisam colaborar com isso. A nossa ideia tem como base a cidadania: um escuta o outro. E vamos mantendo nessa raiz (do Hip Hop) sem equipamento. ’’, complementa a integrante do Co-Rap Gabriela Painnes Da Silva, conhecida como Gabit Box.
Entre os temas rimados pelos participantes estão a violência, a pobreza, as abordagens policiais, a cidade e a vivência de cada um deles. Não há um método que determine definitivamente quem é o melhor ou não. Durante a batalha, os participantes devem desenvolver suas rimas e ganhar a aprovação do público. Ao fazer isso, eles não estão apenas provando a si próprios que são capazes, também estão conseguindo chamar a atenção para questões sociais a serem discutidas e que, com a ajuda da música, podem ser propagadas por todos os lugares.
POR DENTRO DA BATALHA DOS BOMBEIROS
Antes do inicio da Batalha, os integrantes do Co-Rap abrem as inscrições para quem deseja participar da competição. Tudo acontece ali mesmo, na praça, enquanto todos se encontram. Por ordem de chegada, são aceitos oito indivíduos que vão duelar entre si após a realização de um sorteio.
No primeiro momento, devem acontecer quatro batalhas, cada uma com duas etapas. A principio, não são realizados desempates. Com base no cronômetro do mediador da Batalha dos Bombeiros, cada participante tem 40 segundos para apresentar sua rima durante o duelo. Apesar de não ter equipamento de som, os participantes recebem o acompanhamento musical de beat boxes, jovens que imitam o som de batidas musicais.
Após a apresentação, o público escolhe quem rimou melhor e esse é classificado para a próxima fase. Apenas quatro participantes são classificados. Na segunda fase, o procedimento é o mesmo. Entretanto, podem ser realizados mais rounds entre cada batalha no caso de empate. E na fase final, os dois participantes escolhidos pelo público batalham pelo prêmio da noite: uma camiseta customizada da Batalha dos Bombeiros.
Sobre a importância de fazer parte do evento, o participante Pedro Ennes, conhecido como PDR do Pulso Periférico, destaca: “É uma fita tri massa, porque é onde a gente consegue dar a nossa ideia, sobre o que a gente aprende com a periferia, a vida e o cotidiano. Porque nós reunimos uma gurizada que vem para o centro para beber e falamos: ‘Parem de beber. Parem de fumar. Parem de usar drogas'”.
Para esses jovens, a Batalha dos Bombeiros representa mais do que um simples evento. É a divulgação de uma realidade e, acima de tudo, o fortalecimento de identidades. Afinal, a cultura do Hip Hop é apenas uma ferramenta de luta para aqueles que dela precisam.
Rima sobre a Batalha dos Bombeiros, de Vagner B – Negão
E hoje, eu to aqui,
Para falar pra você
Que faz dez, nove ou oito anos que eu estou no CO-RAP.
Para mim,
Estar aqui é só alegria
Com os meus manos, os meus amigos, os meus camaradas.
Porque vários já tentaram me derrubar na rua
Mas eu não deixei,
Porque meu santo é mais forte
Estou aqui com os de verdade,
estou fazendo a minha rima
Pode ser tudo que é estilo que se apresenta,
mas o rap mora no coração.
Proceder,
Consciência para frente.
Repórteres: Arianne Teixeira de Lima e Eduardo Molinar
Fotos: Marcelo de Franceschi