Boa parte das pessoas, mesmo aquelas com escolaridade de nível superior, não entendem o suficiente de economia para terem opiniões fundamentadas sobre o que de fato acontece no Brasil. Jargões e linguagem difícil costumam ser utilizados pelos ‘entendidos’ da área para explicar os fatos e acabam confundindo ainda mais os brasileiros. Pensando nisso, o professor José Maria Alves da Silva, da Universidade Federal de Viçosa, escreveu o livro Análise Macroeconômica e Avaliação Governamental, lançado pela Editora da UFSM em dezembro de 2014. O objetivo do autor é que tanto estudantes da área de economia quanto de outros campos possam ampliar sua visão sobre o assunto e ter argumentos fundamentados para analisar os governos.
A apresentação do livro traz uma epígrafe do economista britânico Joan Robinson que sintetiza a proposta do autor: “É importante estudar economia para não se deixar enganar pelos economistas.” O professor Alves da Silva diz que “para avaliar um governo é preciso olhar para diversas variáveis macroeconômicas e verificar se o que se está fazendo para melhorar o comportamento de uma não está prejudicando outra, e assim por diante”.
Por exemplo, será que a luta contra a inflação não está deixando o governo cego para o crescimento do desemprego? Será que a tentativa de aumentar o PIB não está ignorando a qualidade de vida das pessoas?
O livro traz conceitos e variáveis como taxa nominal de câmbio e Índice de Desenvolvimento Humano, cujo entendimento é importante para poder compreender e analisar a situação atual do país, no que diz respeito ao âmbito econômico (veja quadro na página seguinte). O conteúdo difere das formações ortodoxas de economia em sua abordagem, tratamento conceitual e analítico e busca fugir do que é normalmente ensinado nos bancos acadêmicos. Análise Macroeconômica e Avaliação Governamental também tem como objetivo fornecer educação política e contribuir para a construção de cidadãos, e não apenas de profissionais para o mundo dos negócios. Um dos pareceristas* que aprovou a publicação do livro confirma que o professor Alves da Silva cumpriu o seu propósito: “A obra reúne um conjunto de aspectos que fornece visão detalhada do funcionamento das relações econômicas a partir de uma perspectiva conceitual e aplicada, fornecendo, assim, compreensão prática dos fenômenos econômicos mesmo àqueles que não dominam as complexas teorias.”
* Por uma política da Editora UFSM, o nome dos pareceristas que analisam as obras não deve ser divulgado.
OS DESAFIOS DO LIVRO
Segundo o professor Alves da Silva, o desafio de escrever o livro foi o mesmo de quando se entra em sala de aula para iniciar os alunos nos meandros da ciência: tornar fácil o que é difícil e, no caso dos seus alunos, sempre buscando que eles adquiram conhecimento o suficiente para serem aptos a embarcarem na área da pesquisa científica.
Essa obra, porém, busca ser acessível não só para estudantes de economia e áreas afins, mas também para profissionais de outros campos que almejam ampliar seu conhecimento. O autor assegura que “o leitor que se dedicar a compreender e dominar os conceitos apresentados pelo livro certamente sairá mais exigente, avaliativo e vai poder criticar a postura econômica dos governos baseado em fundamentos teóricos”.
A REFORMA CURRICULAR DOS CURSOS DE ECONOMIA
Nos anos 80, acontecia no Brasil um movimento pela reforma curricular dos cursos de economia do país, e o professor José Maria Alves da Silva foi um participante ativo dessa movimentação. Contudo, ele explica que, na sua visão, a partir disso, houve um retrocesso muito grande, pois “a reforma acabou por retirar as poucas coisas boas que havia no currículo da época da ditadura, que era mais crítico e mais focado nas realidades brasileiras e latino-americanas”. O professor critica o ensino atual de economia, chamando-o de “pasteurizado”, pois é baseado somente em manuais norte-americanos que estão na moda no momento. No entanto, o cenário parece estar lentamente mudando.
O professor José Maria também acredita que a teoria desses autores norte-americanos não representa mais a economia do mundo real, nem suas crises e as origens delas. Segundo ele, novos autores estão surgindo com novas ideias e abordagens que trabalham a “economia real” contemporânea, que sinalizam para um futuro promissor da ciência econômica. “Se essa profecia se cumprir, meu livro estará na direção correta”, finaliza o professor.
Reportagem: Gustavo Martinez