Ao ouvir o termo “botox”, é normal que venha à mente um rosto estático sem expressões faciais. E, de fato, a toxina botulínica é capaz de suavizar a aparência das linhas de expressão, levantar os cantos da boca e deixar a pessoa com uma aparência mais jovial. Inclusive, segundo dados do último relatório da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (2016), o Brasil é o segundo país do mundo que mais usa a toxina botulínica, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
Mas, para além dos fins cosméticos, existem outras formas de utilizar a substância. Alguns exemplos são os tratamentos para movimentos involuntários excessivos, como espasmos musculares, doença de Parkinson, dor, enxaqueca, suor excessivo e, até mesmo, estrabismo. Basicamente, a toxina pode ser aplicada para qualquer tratamento que necessite da paralisação de um músculo ou glândula para ser realizado.
A estudante do Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas Bruna Xavier desenvolveu sua pesquisa de mestrado, dentro do Centro de Desenvolvimento de Testes e Ensaios Farmacêuticos (CTEFAR), sobre a avaliação de potência e teor da toxina botulínica.
Essa avaliação consiste no controle de qualidade das marcas que comercializam a toxina, já que existem outras além do Botox, mas todas com a mesma finalidade cosmética e terapêutica de uso profissional. Ela analisa se a quantia de toxina botulínica indicada na embalagem é realmente a que está presente no produto e se a substância não oferece riscos para a saúde do paciente, que vão desde a paralisia até o óbito.
Esse teste é necessário porque não há um padrão internacional, e cada marca utiliza a quantidade específica de unidades da toxina misturada com excipientes (diluidores para estabilizar e proteger a proteína). “As análises são baseadas em um padrão, mas cada empresa possui o seu próprio padrão. Por isso, 10 unidades de um produto não têm o mesmo efeito que 10 unidades de outra marca”, explica Bruna.
O diferencial proposto na dissertação, defendida no início do mês de agosto, é dar a opção para que o ensaio seja feito in vitro, ou seja, utilizando modelos celulares, ao invés de testes in vivo, realizados em camundongos. Baseado no conceito dos 3Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar), busca-se fazer a substituição, o aprimoramento e a redução do uso de animais em testes científicos.
Como funcionam os métodos alternativos?
Para a realização da pesquisa, dois tipos de ensaios in vitro são realizados e ambas as técnicas são combinadas com testes in vivo. Um deles é o físico-químico, que utiliza HPLC, uma máquina que faz a separação, avaliação e detecção das atividades estruturais da molécula. O segundo método consiste em cultivar células em uma garrafa para que se desenvolvam e se reproduzam. No dia do ensaio, uma quantia é retirada da garrafa, contabilizada e colocada para incubação por 24 horas. Depois é aplicada a toxina botulínica em cada célula e se observa o quanto inibiu das proliferação mesmas. Quanto mais inibe, maior a potência da toxina para seu uso cosmético e clínico, como, por exemplo, para o tratamento do câncer (ainda estão sendo realizadas pesquisas sobre o uso da toxina no tratamento do câncer de mama e de estômago).
Na atualidade, não é possível adotar apenas o método in vitro, porque o teste em camundongos é uma exigência da Anvisa. Por isso, Bruna elucida que realiza estudos com métodos alternativos para que possa sugerir novos procedimentos que sejam aplicados não em substituição, mas em conjunto. A expectativa, segundo a pesquisadora, é de que “no futuro, possa substituir o uso de animais.”
O método ainda está sendo aprimorado, já que é totalmente inovador no mundo da ciência relacionada à toxina botulínica. Porém, Bruna tem a previsão de que até o final de seu doutorado, em 2022, a técnica seja validada pelo laboratório como precisa e reprodutível.
Reportagem: Paola Jung, acadêmica de Jornalismo
Edição: Andressa Motter e Tainara Liesenfeld, acadêmicas de Jornalismo
Fotografia: Rafael Happke