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Uma orquestra transformadora

Projeto desenvolvido por ONG na Antiga Reitoria leva aulas de música, dança e teatro para a periferia



VioloncelosO famoso pintor Leonardo da Vinci, do Alto Renascimento italiano, proferiu a frase que descreve muitas das facetas artísticas: “A arte diz o indizível; exprime o inexprimível, traduz o intraduzível”. Em Santa Maria, a ONG Orquestrando Arte, que utiliza espaços da Antiga Reitoria da UFSM, aposta nessa máxima.

A entidade surgiu em 2015 com intuito de atender demandas de assistência social e cultural. Lá a arte é utilizada como forma de inclusão social dos alunos. Para a assistente social Mírian de Agostini Machado, coordenadora da entidade, a vulnerabilidade não é apenas pré-condicionada pela renda familiar. “Às vezes eu posso ter dinheiro e viver dentro de uma casa em que não há nenhum olhar de cuidado”, afirma.

A entidade viabiliza a prática de várias habilidades artísticas como dança, teatro e música. No campo musical, são ofertadas aulas de pelo menos 20 instrumentos, como violino, violoncelo, flauta doce e piano. O projeto também tem orquestra própria, canto e coral. 

Quadro em madeira mostra mão e o nome do projeto "Orquestrando Arte"
Decoração em madeira produzida por estudantes durante oficina de luteria, destinada à confecção de instrumentos

Um dos diferenciais foi a oferta de oficina de luteria, que é a confecção de instrumentos. A oficina durou cerca de um ano e permitiu a criação de um violino, móveis e artigos de madeira. “A gente quer investir na luteria, mas não tem como pagar o salário do professor”, lamenta a coordenadora.

O grupo realiza apresentações dentro e fora da instituição, e conta com uma terapeuta ocupacional para auxiliar no controle da ansiedade dos alunos antes de cada espetáculo. 

 

Aprendizado mútuo 

Em primeiro plano, moça toca violino. Ao fundo, quadro com partituras escritas com giz
Professora Elen se descobriu como regente no Orquestrando com Arte

Quem faz as aulas acontecerem são os voluntários do projeto, como a professora Elen Janine Ortiz, coordenadora de coros e orquestras. A estudante de Música Licenciatura está no Orquestrando Arte deste de 2012 e é uma das mais antigas no projeto. 

Elen acompanhou as mudanças pelas quais a entidade passou e ressalta que entre elas está a própria descoberta como regente. “Teve a minha transformação enquanto pessoa, porque aqui a gente trabalha com realidades distintas e com sofrimentos que não são os nossos, mas que nos colocam em xeque para trabalharmos nossas questões”, observa. Ela também acompanha melhorias no comportamento de alunos, que chegaram, por exemplo, com fobia social e depressão, conseguiram se expressar por meio da arte e, atualmente, assumem papéis de liderança na comunidade.

O voluntário mais recente é Lenon Martins de Paula, formado em Jornalismo e músico. Para o instrutor de percussão, que também foi amparado na infância por um projeto cultural, é muito significativo estar “do outro lado” como professor. “Hoje me sinto privilegiado de poder retornar, dar aula para crianças e compartilhar conhecimento”, comenta. 

Formação cultural

Menina em pé faz gesto com as mãos para cima e empina os pés
ONG oferece aulas de dança, teatro e música na Antiga Reitoria

Os cerca de 130 participantes das atividades são alunos de 6 a 29 anos, encaminhados pela rede pública de educação e de saúde, pelo conselho tutelar, pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Infantil e pelo Centro de Referência de Assistência Social (CRAS).

A condição principal para ingressar no projeto é que o aluno esteja na fase regular dos Ensinos Fundamental, Médio ou Superior e tenha boas notas. “Até o Médio a gente exige que estude, independente da idade que chegarem aqui. Depois, se não quiser a faculdade, a decisão é de cada um. Mas o que a gente quer é que eles possam fazer também”, comenta a coordenadora Mírian. 

A concorrência para participar do projeto é grande. Por isso, não é tolerado faltar mais de três vezes sem justificativa. Para não perder a vaga, nesses casos, a família precisa comprovar os motivos da ausência. 

Há dois anos foi implementado um grupo de apoio pedagógico com o objetivo de auxiliar alunos com dificuldades escolares e sanar dúvidas de conteúdos diversos, como matemática, português e história. O espaço também oferece revisão de conteúdos para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O apoio está fixado há dois anos no projeto e os índices de aprovação escolar, que totalizam em 96%, mostram a eficácia da ação.

Elisângela Goulart Quintana conseguiu vaga para a filha Luisiane após assistir a uma apresentação na Escola Estadual Edson Figueiredo. Para a mãe, o projeto conseguiu orquestrar grandes transformações na vida da filha mais velha. “Eles estão transformando aquela Luisiane triste numa Luisiane feliz, com sonhos, com vontade de vencer, sem medo e sem frustração”, comenta. Elisângela reconhece a importância do projeto e da atuação contagiante e carinhosa dos voluntários. “É bonito de ver o trabalho deles”, enfatiza.

A mobilização da comunidade é essencial para fazer o programa funcionar. O orquestrando se mantém principalmente de doações de empresas e de colaboradores individuais. O grupo possui um brechó em parceria com a Escola Augusto Ruschi.



Repórter: Mirella Joels, acadêmica de Jornalismo

Fotógrafa: Nathalia Pitol, acadêmica de Relações Públicas

Editora de imagens: Giovana Marion, acadêmica de Desenho Industrial

Social media: Carla Costa, relações públicas, e Nataly Dandara, acadêmica de Relações Públicas

Editora de produção: Melissa Konzen, acadêmica de Jornalismo

Editor chefe: Maurício Dias, jornalista

 

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