Apesar de não serem vistas com tanta frequência no ambiente urbano, as cobras causam medo em muitas pessoas. Mas o que poucos sabem é que um número mínimo de serpentes é peçonhenta. No Rio Grande do Sul, existem cerca de 80 espécies, das quais somente 13 são capazes de causar acidentes graves em humanos.
As serpentes peçonhentas se dividem em dois grupos: no primeiro estão a jararaca e a cascavel, que pertencem à família Viperidae; o outro é composto pelas corais verdadeiras, da família Elapidae. Cada espécie habita áreas específicas do Brasil. Em Santa Maria, é possível encontrar quatro espécies: a jararaca-pintada – que tem até 70 centímetros de comprimento e é comum no ambiente urbano -, a cruzeira – de maior porte, com até 1,80 metros, encontrada mais raramente em áreas campestres – a jararaca, vista apenas na encosta dos morros – e a coral verdadeira.
Como identificar uma peçonhenta
O formato triangular ou achatado da cabeça da serpente não dá garantia absoluta de que ela seja peçonhenta. As jararacas e as cascavéis têm uma característica que permite, a certa distância, ter certeza de que elas são peçonhentas: um orifício chamado fosseta loreal, localizado entre o olho e a narina. A estrutura é termorreguladora, ou seja, faz com que as cobras percebam o calor das presas. “As serpentes que têm essa estrutura no corpo, sem dúvida, são peçonhentas”, destaca a professora Sonia Zanini Cechin, do Departamento de Ecologia e Evolução do Centro de Ciências Naturais e Exatas da UFSM.
No entanto, as corais verdadeiras são peçonhentas e não têm fosseta loreal. Elas podem ser identificadas pelos anéis coloridos – geralmente pretos, vermelhos e brancos ou amarelos – que percorrem todo o corpo do animal, inclusive o ventre.
Veneno de cobra mata?
Segundo a professora Sonia, o número de mortes por acidente ofídico – causado por cobra – no Brasil é pequeno, quando comparado, por exemplo, com acidentes de trânsito. “Tem um tempo de atendimento e medidas que podem ser tomadas para evitar que o acidente se torne grave e cause sequelas graves como amputação, ou, num caso extremo, o óbito”, explica.
Ao ser picada por jararaca ou cascavel, a pessoa tem até seis horas para tomar o soro antiofídico. No caso de ataque de coral verdadeira – considerada a serpente mais perigosa do país – o tempo recomendado é de, no máximo, duas horas. Os acidentes causados por essa espécie, contudo, são raros: representam cerca de 0,7% das ocorrências com serpentes no país, enquanto aproximadamente 90% são provocados por jararacas.
O soro antiofídico, mecanismo mais eficaz contra o veneno de serpentes, é distribuído pelo Ministério da Saúde ao Centro de Informações Toxicológicas (CIT) localizado na capital de cada estado. O CIT é responsável por repor as ampolas do medicamento nos hospitais municipais credenciados.
A professora Sonia destaca que existem vários tipos de soro e, quanto mais específico for, mais efetivo o resultado. Por isso, é importante identificar a serpente que causou a picada tirando uma fotografia ou levando o animal até o hospital.
Prevenção de acidentes
Desde 1992, Sonia coordena o projeto de extensão chamado Prevenção de acidentes com animais peçonhentos, que ensina a manusear, identificar as serpentes e agir em caso de acidente ofídico. Até hoje, mais de 50 mil pessoas participaram das oficinas do projeto. Recentemente, funcionários do Aeroporto, da Brigada Militar e da Base Aérea foram atendidos. Além disso, desde o início do ano, as oficinas acontecem frequentemente no espaço do Jardim Botânico, para as inúmeras escolas que o visitam.
A professora Sonia destaca que as serpentes têm grande importância no equilíbrio ambiental. Elas consomem presas dos mais variados tipos, como peixes, anfíbios, lagartos e ratos – estes últimos, transmissores de diversas doenças em humanos.
Além disso, diversos componentes presentes no veneno originaram medicamentos de amplo uso, como é o caso do Captopril, medicamento de uso oral para hipertensão arterial, descoberto a partir do veneno da jararaca. Outro exemplo é a utilização do veneno de cascavel para produção de um cicatrizante para humanos portadores de úlceras crônicas e como cola cirúrgica. “Esses são apenas alguns exemplos da importância desses animais e de por que devemos conservá-los”, destaca a professora.
Repórter: Andressa Motter, acadêmica de Jornalismo
Ilustradora: Yasmin Faccin, acadêmica de Desenho Industrial
Fotógrafo: Conrado Mario da Rosa, Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Animal – UFSM
Editor chefe: Maurício Dias, jornalista