Refletir sobre o processo de implantação de novos fluxos de comunicação na UFSM me lembrou de uma pequena história, dessas que povoam a memória de muitos e modificam a vida de outros tantos. As palavras de Eduardo Galeano deflagram a urgência de compreendermos o que nos cerca, ao mesmo tempo que apontam para nossa incapacidade de visualizarmos o todo. Realizar essa reflexão nos campos da comunicação e da educação é fundamental para respondermos a pergunta: o que se faz na Universidade? Compartilho o texto de Galeano para provocar cada leitor a sair do lugar daquele que tudo conhece e ir em direção ao lugar de quem precisa aprender a olhar.
Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.
Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
Me ajuda a olhar!* (GALEANO, Eduardo. Livro dos Abraços. Porto Alegre: L&PM, 2000)
Assim como “Diego”, que tem o entendimento da dimensão do mar, mas precisa de ajuda para compreender toda a sua magnitude, buscamos fazer a comunicação na UFSM. Partimos de um legado que faz da nossa instituição pioneira: a primeira do interior, a que iniciou o processo de expansão com o campus avançado em Roraima e consolidou a ação com os campi de Frederico Westphalen, Palmeira das Missões e Silveira Martins, a que dá exemplo nas políticas de investimento na assistência estudantil e a que procura, desde sua fundação, comunicar através de veículos de comunicação públicos e educativos.
A Agência de Notícias, janela da Universidade para o mundo, a Rádio Universidade AM e a TV Campus foram algumas das iniciativas da instituição para se deixar ver e focar o olhar nas atividades desenvolvidas na UFSM. Os recursos oriundos das novas mídias, com o advento da internet, também se fizeram presentes no cotidiano da comunidade acadêmica, investindo-se cada dia mais na qualidade dos conteúdos postados nesta grande rede de comunicação.
O que parecia já consolidado e sem possibilidades de ampliação passou, nestes dois últimos anos, por um avanço na maneira de encarar o processo comunicacional na Universidade. Foi assumido, deste modo, o desafio de colocar em prática novos veículos que levem a informação e que atendam uma Universidade renovada em seus cinquenta anos. Mas o que há de pioneiro na produção de uma revista científica e cultural, considerando que outras iniciativas semelhantes já circularam pelos campi da Universidade? A novidade está no acolhimento do desafio da prática: sair do lugar cômodo de reação aos fatos e passar ao lugar de produtores de acontecimentos. O novo está na vontade de mostrar a UFSM por inteiro, mesmo que nossos olhos não alcancem a dimensão do mar de conhecimento produzido nesta instituição.
O leitor terá a oportunidade de ver uma revista que nasce a partir de um planejamento editorial arrojado e bem alinhado às expectativas e exigências do campo científico e cultural. Com este novo veículo de comunicação, esperamos, encorajados pelo pedido do menino de Galeano, ajudar a olhar a nossa Universidade.
Redação: Elisângela Mortari, coordenadora da Coordenadoria de Comunicação da UFSM e membro do Conselho Editorial da Revista Arco