Dois semestres. Esse foi o tempo que o grupo Extremus: dança sobre rodas levou para montar seu espetáculo mais recente. A preparação consistiu em reuniões, avaliações e planejamentos, além dos ensaios nos tradicionais sábados à tarde.
Graduanda do curso de licenciatura em Dança, a monitora do Extremus Fabiana Mors elaborou um projeto de pesquisa chamado Processos criativos: metodologia para o ensino da dança em cadeira de rodas, que se baseava no desenvolvimento de oficinas sobre a construção de coreografias para a montagem de um espetáculo. Através da metodologia que a estudante utilizou, foram elaboradas coreografias nas quais os dançarinos estudantes se envolveram e ajudaram na construção, partindo das experiências e vivências de cada um com a dança. “Conheci caminhos de formação em Dança que me encantaram e, hoje, há um sentimento enorme que faz o coração bater mais forte. Assim, com toda a vontade, estou conduzindo meus olhares, ora dançando junto com o grupo, por vezes observando as vivências, mas sempre acompanhando e vivenciando momentos de muita alegria com os participantes”, conta Fabiana.
Para o espetáculo, os dezesseis dançarinos trabalharam com lendas, costumes e músicas da cultura sul-rio-grandense. “Nossas construções são coletivas, todos participam. A gente pegou inspiração em algumas apresentações tradicionais, como o pau-de-fitas, e a partir disso o grupo construiu a coreografia”, conta a professora Mara Rúbia.
Além de contribuir com a montagem da coreografia, o grupo define o nome para o espetáculo. Ao lançarem suas ideias, uma votação escolheu a melhor ideia. Foi então que, no dia 14 de dezembro de 2016, nasceu o Nas rodas da tradição, no Complexo Didático Artístico do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD), da UFSM, resultado do último trabalho do grupo e que você confere as fotografias ao longo desta matéria.
A História do Extremus
No início dos anos 2000 – não somente no Brasil, mas também a nível mundial – a informação e os grupos relacionados à dança para pessoas com deficiências eram muito escassos. Após um trabalho voluntário na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Santa Maria, Caren Bernardi, resolveu criar um projeto que oferecesse a vivência da dança para pessoas com deficiência física. Formada em ballet clássico, ela começou a ensinar dança, no Centro Social Urbano da cidade, para duas pessoas com lesão medular. Depois de um tempo, Caren entrou em contato com a professora de Educação Física da UFSM, Mara Rubia Antunes, para formalizar o projeto na Universidade e abrir espaço para que outros acadêmicos ingressassem. O projeto foi criado com muito amor; participar dele foi a realização de um sonho, principalmente porque fomos pioneiros na dança em cadeira de rodas na região sul”, lembra Caren.
Saiba mais sobre o projeto Extremus no Ensaio da 8ª edição impressa
Para a criadora do projeto, a importância de levar adiante a iniciativa é que, para além das barreiras arquitetônicas e atitudinais, a verdadeira inclusão social das pessoas com deficiência encontra entraves, principalmente no que se refere ao acesso à cultura e à arte. “Acredito que este projeto mostra à sociedade que as pessoas com deficiência podem ser artistas; mostra o talento e a capacidade de cada um”, comenta Caren.
Repórter: Júlia Goulart
Fotografias: Rafael Happke