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Multiletramentos: possibilidades para o ensino de língua portuguesa



A participação da UFSM na produção de curso remoto e de glossários com o objetivo de auxiliar professores do Ensino Fundamental em atividades didáticas alinhadas à Base Nacional Comum Curricular

Inovação é a palavra-chave para descrever o período da pandemia do novo coronavírus quando o assunto é educação. O impedimento da aplicação do ensino tradicional devido aos protocolos de distanciamento social fortaleceu outras propostas como a educação remota. As adaptações necessárias durante o contexto não foram necessariamente fáceis e, com certeza, têm ressignificado a relação entre alunos e professores. Porém, a comunidade docente da área – tanto escolar, quanto acadêmica – já se engajava na busca por diferentes alternativas no que se refere ao aperfeiçoamento das práticas educacionais.

Na UFSM, o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ensino de Linguagem (NEPELIN), vinculado aos cursos de Licenciatura em Letras e coordenado pela professora Francieli Matzenbacher Pinton, tem promovido para a comunidade interna e externa atividades que contemplam o tripé ensino, pesquisa e extensão. Por meio disso, o grupo busca inspirar professores da rede básica de ensino a refletir, ressignificar e se apropriar de uma visão crítica dos objetos teórico-práticos do âmbito educacional. Foi assim que recentemente aconteceu o curso remoto “Multiletramentos na BNCC do Ensino Fundamental: possibilidades para o ensino de Língua Portuguesa”, com o intuito de oferecer uma reflexão sobre pesquisas relacionadas à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e à Pedagogia dos Multiletramentos – que se refere à aprendizagem conectada ao uso de diferentes recursos semióticos e uso dos novos meios de comunicação.

BNCC e novas possibilidades de ensino

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo do Conselho Nacional da Educação (CNE) que define o conjunto de aprendizagens essenciais para todos os alunos das etapas e modalidades da Educação Básica. Esse documento está em fase de implementação nas escolas e apresenta em sua fundamentação pedagógica a teoria dos Multiletramentos que, em alguma medida, ainda é desconhecida pela maioria dos professores.

A pedagogia de multiletramentos, termo criado na década de 1990 por um grupo de acadêmicos da New London Group, refere-se principalmente a dois grandes aspectos: a multiculturalidade e a multimodalidade. O primeiro aspecto diz respeito à diversidade de produções culturais letradas em efetiva circulação social, considerando um conjunto de textos híbridos de diferentes campos caracterizados por um processo de escolha pessoal e política. O segundo aspecto corresponde à construção de significados a partir da combinação de diferentes recursos semióticos, por exemplo, gestos e escrita. A temática dos multiletramentos é recorrente nas pesquisas do NEPELIN, por exemplo, as dissertações de Jeniffer Streb Silva e de Gabriela Pereira, bem como a tese de Cleiton Reisdorfer.

O curso remoto “Multiletramentos na BNCC do Ensino Fundamental: possibilidades para o ensino de Língua Portuguesa”, resultado da dissertação em andamento de Rosana Maria Schmitt pelo Programa de Pós-Graduação em Letras, promovido também pelo NEPELIN, aconteceu entre outubro de 2020 e janeiro de 2021. Inicialmente a proposta previa a oferta de 25 vagas para professores de língua portuguesa em formação inicial e continuada. Entretanto, a adesão foi de mais de 300 inscritos em poucas horas de inscrição, e o grupo resolveu ampliar as vagas. O curso foi organizado em seis módulos, que totalizam 60 horas/aulas, distribuídas em encontros síncronos e assíncronos. Além disso, foram disponibilizados compartilhamentos em fóruns e atividades didáticas ao final de cada módulo. Dentre as temáticas abordadas, os ministrantes promoveram a análise crítica da BNCC e a reflexão acerca dos fundamentos da pedagogia dos multiletramentos e das práticas de linguagem a serem desenvolvidas no contexto escolar, como leitura, análise linguística/semiótica, produção textual e produção oral.

A atividade foi coordenada pela professora Francieli Matzenbacher Pinton e ministrada por Ana Paula Regner, Camila Steinhorst, Caroline Teixeira Bordim, Francieli Matzenbacher Pinton, Gabriela Eckert Pereira, Jéniffer Streb da Silva, Luciane Carlan da Silveira, Paula Luza, Romário Volk, Rosana Maria Schmitt, Taís Vasques Barreto e Verônica Lorenset Padoin, integrantes do grupo.

De modo geral, houve uma participação expressiva de professores da educação básica que se esforçaram para concluir sua formação remota durante o período letivo e pandêmico. O relato da participante Anna Cervo, professora de Língua Portuguesa, traduz sua experiência com o curso: “Com a possibilidade dessa formação, me despi dos ‘preconceitos’ em relação à BNCC por conta da promessa de análise crítica a ser realizada. De início, já gostei dos artigos sugeridos! Me detive, nessas primeiras leituras, à estrutura da BNCC e penso que, se bem estudada, questionando seu processo de constituição, podemos conseguir realizar um trabalho interessante em sala de aula”.

Além disso, o curso contribuiu para o empoderamento docente e proporcionou reflexões sobre os objetos e práticas de ensino.  “No contexto acadêmico, penso que existem duas grandes contribuições: o empoderamento autoral das professoras que elaboraram o material, especialmente da Camila Steinhorst, graduada em Letras pela UFSM, e da Taís Barreto, mestranda em Estudos Linguísticos; e a divulgação científica no contexto da educação básica”, afirma a professora Francieli, coordenadora do grupo e do projeto de extensão.  

Glossários produzidos pelo NEPELIN

Para os organizadores do curso, o documento da BNCC precisa ser lido criticamente a fim de que se possa construir atividades que realmente contemplem a agência e a voz dos estudantes. Nesse sentido, com o objetivo de atender às possíveis necessidades dos professores em formação continuada, foram elaborados os Glossários de termos técnicos-científicos do componente curricular Língua Portuguesa e de Gêneros e Suportes textuais.

Os glossários têm por objetivo auxiliar o processo de elaboração de atividades didáticas com foco nos campos de atuação e nos gêneros textuais propostos pela BNCC, como fanfics, trailer honesto, fotoblogger, vídeo-minuto, poemas, artigos de opinião, entre outros. A ideia é que o professor possa acessar uma rápida definição do gênero e, por meio do QR Code, visualizar um exemplar do gênero e/ou suporte textual. “Esses materiais visam auxiliar o professor em sua prática docente, já que o documento cita inúmeros gêneros textuais, especialmente emergentes, que podem ser explorados em sala de aula”, conforme destaca Rosana Schmitt.

No contexto educacional, o professor ainda pode disponibilizar o Glossário de Gêneros e Suportes para que os alunos pesquisem definições, acessem os QR Codes e visualizem os diferentes exemplares de gêneros. A professora Francieli complementa que os materiais podem ser entendidos como material paradidático, pois  os estudantes podem elaborar seu próprio glossário a partir de exemplares de gêneros produzidos pela turma.

“A elaboração do glossário objetivou auxiliar o professor que está na escola, contribuindo para o seu processo de formação continuada. Acredito que publicações como esta são significativas para a Educação Básica, especialmente para o ensino de Língua Portuguesa, já que dialogam de forma produtiva e crítica com o contexto escolar”, comenta Taís Barreto, mestranda em Estudos Linguísticos.

“Penso que o glossário tem muito potencial, porque reúne gêneros de diversas esferas de atividade e exemplos para que o professor possa se apropriar desse conteúdo, sem ter que pesquisar muitas horas. Acredito que essa publicação ajuda ainda mais aquele professor que tem uma carga horária altíssima de aulas e não possui condições adequadas de trabalho, ou seja, tempo hábil para o processo de planejamento pedagógico”, complementa Camila Steinhorst, que também destaca o processo coletivo e colaborativo.

A expectativa do grupo é de que sejam disponibilizadas versões impressas para o acervo das bibliotecas escolares. Além disso, os organizadores esperam promover em breve outra edição do curso remoto para ampliar a troca entre professores. Outra proposta futura do NEPELIN é organizar um curso para os estudantes da rede pública com foco nos gêneros textuais emergentes propostos pelas BNCC.

Para o grupo de organizadores e ministrantes, a atividade foi, além de tudo, um lembrete sobre o papel da universidade: “A reflexão sobre a BNCC, proposta pelo grupo, neste contexto pandêmico, tem proporcionado aos professores e professoras repensar suas práticas, acessar textos teóricos e metodológicos e, especialmente, compartilhar saberes com seus pares que estão inseridos em diferentes lugares do Brasil. A diversidade desses saberes fortalece a proposta do grupo de professores que organizaram e ministraram os módulos neste curso. Ademais, reforça o compromisso da UFSM com a formação de professores da Educação Básica”, conclui a professora Francieli Matzenbacher Pinton.

Expediente

Repórteres: Esther Klein, acadêmica de Jornalismo e bolsista; e Natália Menuzzi, acadêmica de Jornalismo

Ilustradora: Renata Costa, acadêmica de Produção Editorial e bolsista

Mídia Social: Nathalia Pitol, acadêmica de Relações Públicas e bolsista

Editor: Maurício Dias, jornalista

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