“O caminho do progresso não é rápido nem fácil”. Essa frase é de Marie Curie, cientista francesa e primeira mulher a ganhar um prêmio Nobel de Física. Na vida acadêmica, também destacou-se por ter sido pioneira em lecionar na Universidade de Paris. Oitenta e quatro anos depois de sua morte, no dia 9 de agosto de 2018, Marie Curie foi eleita a mulher mais influente de todos os tempos pela BBC History Magazine, o que mostra que conquistar o espaço das mulheres tem sido uma luta árdua, mas que proporciona mudanças significativas na história.
Na UFSM, o percentual de egressas do curso de Física nas áreas de Licenciatura (diurno) e mestrado foi de 50%, percentual significativo se comparado aos cenários nacional e mundial. Esses dados são de uma pesquisa publicada em 2018, em comemoração aos 50 anos da criação do curso de Física na UFSM. O estudo “O cinquentenário da física na UFSM: uma análise de gênero dos egressos“ revelou que a disparidade de egressas do gênero feminino em relação aos homens nos cursos da área das exatas tem diminuído.
No entanto, globalmente a área da Física ainda é pouco explorada pelas mulheres, tanto no ensino como na pesquisa. Na graduação em Física, por exemplo, a atuação do público feminino é de apenas 25%. Em relação ao Brasil, os números não diferem muito: a parcela de mulheres na Física representa 24% dos total de alunos no curso.
Dificuldades de permanência no curso
Vivian Escobar decidiu pela Física ainda na escola, durante o ensino médio, gostava principalmente da parte prática da matéria. Almejava um dia ser docente porque se identificava com a área de ensino. Apesar de o curso de Física – Bacharelado da UFSM ter duração de quatro anos, Vivian o concluiu em seis, e relata: “entrar no curso de Física é mais tranquilo, o difícil é se formar”.
Aliar a vida acadêmica à vida pessoal não é uma tarefa fácil. Vivian sente que abdicou da vida pessoal nos momentos em que se dedicou à pesquisa. Um dos motivos que fazem a Física ser um curso de alta dificuldade, segundo a egressa, é a área da pesquisa acadêmica, que demanda publicações rápidas e precisas por conta da grande concorrência. Além disso, Vivian afirma que já passou por situações difíceis por ser mulher.
“Mesmo que trabalhe por horas e horas, na física experimental, minha área de formação, nem sempre se encontram resultados satisfatórios para publicação”, afirma Vivian, que estudou Física por dez anos na UFSM, concluindo, inclusive, o pós-doutorado.
Após o pós-doutorado, Vivian não prosseguiu com a carreira na Física e atualmente trabalha no ramo gastronômico.
Mulheres docentes na Física
Vivian entende que as mulheres têm a capacidade de levar o lado mais humano para a área das exatas. “Acredito que, se as futuras professoras souberem dosar o lado humano dentro da área das exatas, será um ambiente bem mais leve para estudar, com menor desgaste psicológico”, comenta a ex-aluna da UFSM.
Em contrapartida, Vivian afirma que o aumento de mulheres graduadas não reflete no quadro de professores. O número de mulheres docentes ainda é pequeno se comparado ao número de homens que lecionam no curso da UFSM. Atuando desde 2011, a professora Cristiane Muenchen é uma das nove mulheres, de um total de 37 docentes, que fazem parte do Departamento de Física.
Cristiane concluiu sua graduação em Licenciatura Plena – Física no ano de 2002 na UFSM. Realizou, também na Universidade, mestrado em Educação e doutorado em Educação Científica e Tecnológica na Universidade Federal de Santa Catarina. A ex-aluna afirma ter sentido dificuldades no início do curso, por este exigir muito tempo de estudo, mas hoje reconhece a conquista de ser docente do curso de Física e é muito feliz trabalhando nessa área. A docente menciona que, antigamente, o termo cientista era visto como uma palavra majoritariamente masculina e, para ela, a significativa presença das mulheres nos cursos de Física é um exemplo de progresso e uma colaboração para ressignificar este conceito.
Apesar das poucas mulheres docentes, os números da pesquisa representam um grande avanço. “É preciso refletir que mesmo com todas as mudanças no papel da mulher ainda há muito preconceito de gênero na sociedade”, comenta a professora.
Reportagem: Mirella Joels, acadêmica de Jornalismo
Edição: Tainara Liesenfeld, acadêmica de Jornalismo
Ilustração: Pollyana Santoro, acadêmica de Desenho Industrial