Minha história de vida se confunde com a história da Universidade Federal de Santa Maria, porque a fábrica de meu pai, na década de 1950, ganhou a primeira concorrência para fabricar as portas e janelas dos prédios que seriam construídos no que, inicialmente, todos chamavam de Faculdade de Camobi e, depois, de Cidade Universitária.
Naqueles dias, eu era uma menina de cinco ou seis anos, que esperava ansiosamente a chegada dos domingos para acompanhar meu pai na visita às obras de Camobi, um lugar muito, muito distante de minha casa. Um bom percurso do trajeto era feito de caminhão, pelo meio do campo, porque o traçado das ruas ainda não existia, coisa que instigava minha imaginação.
Lembro que o primeiro prédio grande que vi erguerem foi o da Engenharia, como todos o chamavam. Claro que já existia a casinha branca, um pouco distante dali, onde funcionava o escritório, lugar em que meu pai conversava com o Dr. Mariano antes de começar suas atividades. Para mim, aquele primeiro prédio era um lugar faraônico, com muitos espaços abertos em que meu pai cuidadosamente fazia a medição sob meu olhar curioso, apreensivo e esperançoso pelo momento que se sucederia, quando eu sentava em uns bancos improvisados para lanchar. Era nesse momento que eu ouvia as previsões que ele fazia sobre tudo o que iria acontecer naquele lugar em cinquenta, cem anos, de como a cidade cresceria naquela direção, de como eu seria feliz estudando ali, de como ele se realizaria no dia da minha formatura, e no dia em que eu trabalhasse na faculdade, colaborando para mudar o mundo.
Meu pai morreu no início dos anos sessenta — não viveu as emoções anunciadas —, mas eu vivi.
Estudei nessa Universidade, me envolvi com a política universitária, viajei a Brasília com o pessoal do DCE para reivindicar em favor da Universidade, num tempo de atuação e contestação ingênua, mas que ajudou a me formar com responsabilidade, seriedade e espírito cidadão. Na UFSM, vivi os melhores anos da minha juventude, participei de projetos, atuei no Mobral, no Projeto Rondon, joguei vôlei, nadei, estudei muito, parti para a vida, e tempos depois (nos anos oitenta) voltei como professora. Fiz mestrado e doutorado. Mergulhei nas pesquisas da Gerontologia e viajei por muitos lugares, discutindo o envelhecimento. Atuei no ensino, na pesquisa, na extensão, e na administração, sempre acreditando que colaborava para a mudança do mundo, anunciada por meu pai.
Hoje estou aposentada, mas não desligada da instituição que me viu crescer, motivou minha caminhada e me fez o que sou. Interajo com grupos de pesquisa, frequento a Oficina de Fotografia do Espaço Alternativo, integro bancas de avaliação…. Continuo acreditando que é possível mudar o mundo através da educação, sonho com uma Universidade cada vez maior, e continuo reivindicando melhorias, hoje com mais foco, sedimentada nos ensinamentos de meus queridos professores do Centro de Ciências Pedagógicas.
Assim, não me resta outra palavra senão OBRIGADA, meus professores pelo que me ajudaram a ser e pensar, obrigada, UFSM, pelo que me ajudou a fazer e sentir!
*Carmen Maria Andrade é Doutora em Educação, Vida Adulta e Envelhecimento e professora aposentada da UFSM.
**Texto publicado originalmente na edição 8 da Revista Arco e repostado em razão dos 60 anos da Universidade.