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Grupo Migraidh da UFSM ensina português para imigrantes em rodas de conversa

Ensino da língua portuguesa já contemplou migrantes oriundos de Senegal, Paquistão, Palestina, Benin e Venezuela



Em meados de 2015, um grupo de senegaleses atendidos pela assessoria jurídica e documental do Grupo de Pesquisa, Ensino e Extensão Direitos Humanos e Mobilidade Humana Internacional da UFSM (Migraidh – saiba mais no box abaixo) manifestou interesse em melhorar a sua competência comunicativa em língua portuguesa. Com isso, sob a coordenação da professora Maria Clara Mocellin, do Departamento de Ciências Sociais, e estudantes Luís Augusto Bittencourt  Minchola (Direito) e Alessandra Jungs de Almeida (Relações Internacionais), surgiram as Rodas de Conversa, atividade de extensão que visa auxiliar migrantes da cidade de Santa Maria com a aprendizagem e a aquisição da língua portuguesa.

Ilustração horizontal e colorida de sete pessoas sentadas em uma roda. São cinco mulheres e dois homens, sendo três pessoas negras e quatro pessoas brancas. Acima, onze balões de fala: cinco são brancos e os outros tem bandeiras de países no interior: Brasil, Venezuela, Palestina, Paquistão, Senegal e Benin. O fundo é cinza.

Partindo da resposta a uma demanda específica, as Rodas de Conversa revelaram-se mais do que um espaço de ensino-aprendizagem de uma língua adicional, constituindo-se como um ambiente de interculturalidade e acolhimento. Ao longo de seus quase sete anos, já passaram pelo projeto – além de senegaleses – paquistaneses, palestinos, e, mais recentemente, beninenses e venezuelanos. Cada um deles tem a capacidade intrínseca de fazer-nos questionar diariamente a nossa prática extensionista e revisitar com frequência nossa resposta para a pergunta como eu olho para o Outro?

Nesse sentido, ressaltamos a tentativa de construção das Rodas de Conversa como um espaço interdisciplinar, marcado por integrantes do Migraidh oriundos das áreas de Ciências Sociais, Direito, Relações Internacionais, Psicologia e Letras, o que traz para o espaço diferentes perspectivas teóricas. Assim, a atividade renova-se a cada ano, sob os olhares de seus participantes, destacando-se nessas discussões a aproximação da prática das Rodas de Conversa com os pressupostos do Português como Língua de Acolhimento.

Relacionado, inicialmente, ao contexto do programa Portugal Acolhe,  o termo Português como Língua de Acolhimento refere-se ao ensino da língua para um público majoritariamente adulto em um contexto de migração internacional (1). Dentre as diversas implicações que essa característica determina, destaca-se o papel da língua para que o indivíduo possa acessar, com mais facilidade, outros direitos no país recebedor, tais como documentação, saúde, trabalho e educação, além de toda dimensão social e afetiva que é muitas vezes determinada pela capacidade – ou  não – de falar o idioma da comunidade na qual se está inserido. 

Tais especificidades sugerem, portanto, uma organização dos encontros especialmente direcionada para o contexto real de vida dos migrantes e para suas necessidades e objetivos mais imediatos.  Assim, as discussões, os materiais e os aspectos linguísticos trabalhados procuram abordar as experiências e desafios vivenciados no dia a dia, o que demanda uma atuação atenta e sensível por parte dos extensionistas. Muitas vezes, essa atuação estende-se, inclusive, para o auxílio em aspectos da vida prática, tais como: acompanhamento até a Polícia Federal ou imobiliárias, ajuda com gerenciamento de mudanças, orientação sobre matrícula em atividades escolares, e participação em celebrações e festividades religiosas.  

Tal direcionamento, como se percebe, ultrapassa o ensino-aprendizagem de uma língua adicional, e engloba a desconstrução de estereótipos, o estabelecimento de vínculos, e a construção de amizades e afetos. Assim, as diferenças que mundo afora, não raro, motivam exclusão e práticas xenófobas, resultam, nas Rodas de Conversa, na construção, dia após dia, de uma competência intercultural, direcionada para a compreensão do Outro na sua singularidade. Nas Rodas de Conversa, aprende-se que estar no mundo para enxergar, ouvir e aprender com a diferença é mais do que satisfazer uma exigência moral da vida em sociedade, é recuperar aquilo que também nos constitui enquanto sujeitos.

 

O Migraidh e a luta pelo direito humano de migrar

 

Diante da urgência e da complexidade do tema das migrações internacionais, o Migraidh surge em 2013 sob a coordenação da professora Giuliana Redin, do Departamento de Direito. Pautado sempre pelo reconhecimento do migrante como sujeito pleno de direitos, em 2015 o Migraidh firma convênio com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e torna-se o representante da Cátedra Sérvio Vieira de Mello na UFSM (2), assumindo um compromisso com a promoção de conhecimento e de ações voltadas à atenção integral de refugiados e imigrantes, o que se reflete nos eixos de sua atuação.

Na pesquisa, o Migraidh engloba seis diferentes linhas, nas áreas de Direito (linha Proteção e Promoção dos Direitos Humanos de Migrantes e Refugiados no Brasil, coordenada pela professora Giuliana Redin); Ciências Sociais (linhas Fluxos Migratórios Internacionais, Projeto Migratório e Alteridades, coordenada pela professora Maria Clara Mocellin, e Múltiplas Cidadanias e Processos Migratórios, coordenada pela professora Maria Catarina Chitolina Zanini); Comunicação (linha Comunicação Midiática e Migrações Transnacionais, coordenada pela professora Liliane Dutra Brignol); Psicologia (Psicanálise e Migrações: efeitos clínico-políticos dos deslocamentos, coordenada pela professora Marluza Rosa); e Letras (linha Estudos de Política de Línguas, coordenada pela professora Eliana Sturza). 

O coletivo também firma seu comprometimento com a agenda da Cátedra Sérgio Vieira de Mello a partir da promoção do diálogo com a comunidade e de atividades de educação em Direitos Humanos, como as duas edições do Curso de Capacitação de Servidores Públicos, promovidas, respectivamente, nas datas de junho de 2017 e dezembro de 2021; elaboração e defesa de notas técnicas; participação em congressos sobre a temática das migrações;  promoção de oficinas para sensibilização sobre o contexto migratório; publicações de divulgação gratuita (3); e diversas participações em outros espaços, tais como cursinhos populares, escolas e mesas de discussão em eventos e debates produzidos por outros cursos da UFSM.

Além de atividades voltadas à educação da comunidade para a temática das migrações, o Migraidh também consolida sua atuação através de um programa de extensão, denominado Assessoria a Imigrantes e Refugiados. Coordenado pela professora Giuliana Redin, o programa engloba assessoria jurídica e documental, atendimento psicológico clínico (promovido a partir de um convênio com o Núcleo de Psicanálise do curso de Psicologia da UFSM), acolhimento e ensino de língua portuguesa. A diversidade em termos de pesquisa e extensão evidencia o caráter dinâmico e interdisciplinar do campo das migrações e reafirma o princípio fundamental do Migraidh: o compromisso com a atenção integral ao sujeito migrante a partir da sua subjetividade, orientado pelo entendimento do ato de migrar como um direito humano.   

 

(1) Para familiarizar-se com o tema, sugere-se a leitura: GROSSO, Maria José dos Reis. Língua de acolhimento, língua de integração. Horizontes de Linguística Aplicada, v. 9, n. 2, p. 61-77, 2010. Disponível em <https://doi.org/10.26512/rhla.v9i2.886>
(2) Para informações sobre a Cátedra Sérgio Vieira de Mello, consultar:  https://www.acnur.org/portugues/catedra-sergio-vieira-de-mello/
(3) A mais recente publicação do grupo Migraidh (REDIN, Giuliana (org.). Migrações Internacionais: Experiências e desafios para a proteção e promoção de direitos humanos no Brasil. Santa Maria: Editora UFSM, 2020l)  pode ser adquirida gratuitamente no site da editora da UFSM através do endereço eletrônico: https://editoraufsm.com.br/migracoes-internacionais-530.html 

Expediente:

Texto: Roberta Petry – licenciada em Letras-Português e Literaturas da Língua Portuguesa pela UFSM e participante do MIGRAIDH;

Design gráfico: Joana Ancinelo, acadêmica de Desenho Industrial e voluntária;

Mídia social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Alice Santos, acadêmica de Jornalismo e voluntária; Rebeca Kroll, acadêmica de Jornalismo e bolsista; e Martina Pozzebon, acadêmica de Jornalismo e estagiária

Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista

Edição Geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas

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