CT utiliza metodologia de ensino inspirada em proposta do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT)
Os cursos de Engenharia Aeroespacial e Engenharia Química da Universidade Federal de Santa Maria apostam, desde o segundo semestre de 2017, em um processo de formação em que os estudantes são protagonistas e os professores são colaboradores. Com uma metodologia que incentiva a articulação de conhecimentos práticos para o desenvolvimento de projetos, os universitários já criaram um túnel de vento e um drone.
A metodologia de ensino adotada pelas duas engenharias chama-se CPIO (Concepção, Projeto, Implementação e Operação) e tem como objetivo realizar atividades relacionadas à profissão desde o primeiro ano de curso. O CPIO promove o avanço progressivo dos estudos a partir de quatro disciplinas extraclasse obrigatórias, com 60 horas. Em cada matéria, os universitários desenvolvem um projeto em grupo e são avaliados a partir de diferentes aspectos, como Concepção e Introdução ao projeto.
A proposta surgiu a partir de uma sugestão do coordenador de relações universitárias da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), Paulo Lourenção, de uma metodologia sintonizada com as demandas atuais do perfil de engenheiros. Trata-se do CDIO (Conceive, Design, Implement and Operate), proposta criada pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (Massachusetts Institute of Technology).
“O método deu certo no MIT. A partir daí, outras universidades americanas foram implementando e formando uma rede internacional de colaboração que se espalhou, promovendo congressos sobre o assunto e mantendo uma página na web acerca do método”, comenta o professor André Luís da Silva, coordenador do curso de Engenharia Aeroespacial.
A UFSM adotou a metodologia do MIT de forma adaptada, pois só atendeu completamente a dois dos doze padrões – Introdução à Engenharia e Experiências de Projeto e Implementação. Conforme o professor André Luís, os outros dez “standards” estão em discussão para que sejam inseridos no novo Projeto Pedagógico do Curso.
Nas aulas extraclasse, os universitários propõem projetos e os desenvolvem, obrigatoriamente, em grupo, sob a supervisão do coordenador da disciplina ou de outro professor. As matérias oportunizam a liberdade do estudante tomar o protagonismo em sua formação. Trata-se de uma abordagem de ensino-aprendizagem centrada no discente, na qual o docente é um colaborador.
O professor Flavio Meyer, responsável pela adoção do CDIO na Engenharia Química, explica que esse tipo de atividade motiva os estudantes e contribui para o empenho nas disciplinas. “O curso é muito abrangente e requer conhecimentos em diversas áreas, e, em função disso, acaba se tornando difícil. Nosso objetivo é motivar o aluno para que ele não desista”, argumenta.
Compartilha de visão semelhante o professor Marcelo Zanetti, do curso de Engenharia de Telecomunicações e colaborador da Engenharia Aeroespacial. Ele aponta que os currículos da área são enormes, com matérias focadas e pouco relacionadas. “É comum que o aluno se interesse mais por certas disciplinas, enquanto que outras são encaradas como meros obstáculos que desmotivam os alunos. Isso resulta em evasão, principalmente no primeiro ano. Assim, é louvável o pioneirismo do curso de Engenharia Aeroespacial na adoção do CDIO”, comenta.
Diferenças entre CDIO e métodos tradicionais
Mais que um método, o CDIO pode ser compreendido como uma estrutura a partir da qual se organizam projetos pedagógicos de curso. São integradas diversas ações de ensino e aprendizagem que contribuem para formação de engenheiros e para a capacitação de docentes e técnicos das instituições.
Conforme o coordenador do curso de Engenharia Aeroespacial, nos métodos tradicionais, o currículo é fragmentado em disciplinas e ciclos de formação: básico, profissionalizante e específico. Para integração dos conhecimentos, existe o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Para aprendizado extra classe, as Atividades Complementares de Graduação (ACG’s) são oferecidas. Para complementação profissional, o aluno faz o estágio obrigatório ao final do curso.
Já o CDIO, por outro lado, busca desenvolver uma formação integrada, por meio da articulação das disciplinas desde o início da faculdade e de experiências de concepção, projeto, implementação e operação de produtos, processos e serviços de engenharia desde o começo da formação. “Assim, o aluno tem a oportunidade de desenvolver, de forma gradual, suas habilidades profissionais, intelectuais, humanísticas e sociais, desde o início”, pontua o professor.
O estudante Kenedy Matiasso, do 6º semestre de Engenharia Aeroespacial, relata que, nos projetos CDIO, os acadêmicos são os principais responsáveis pelas estratégias, métodos, hipóteses e resultados. “Ao meu ver, a metodologia se mostra uma ferramenta extremamente interessante para fixarmos os conteúdos e aprendermos a resolver problemas reais de uma forma divertida e motivadora.”
Resultados obtidos com a nova metodologia
Desde a introdução no Centro de Tecnologia, o CPIO contribuiu com a projeção de equipamentos didáticos para o próprio curso, como um drone, motor de reação, software de análise de elementos finitos e túnel de vento. Somente para o projeto de túnel de vento foram criados os seguintes experimentos: balança aerodinâmica, gerador de fumaça, modelos de teste e medição de pressão. Também são realizados treinamentos em softwares, como o de mecânica dos fluidos e o de modelagem e projeto de sistemas dinâmicos.
“Desse modo, a motivação é ainda maior, pois é um contato diferente que temos com a engenharia e, com certeza, contribui muito para a qualidade do ensino. Acredito que desde a chegada desse método, passamos a olhar com outros olhos para a engenharia como um todo”, comenta o estudante Matheus Silva, do 4º semestre de Engenharia Aeroespacial.
O universitário Kenedy Matiasso, também da Engenharia Aeroespacial, reforça a flexibilidade do método ao permitir que os estudantes invistam em habilidades direcionadas aos seus interesses específicos de formação. Neste sentido, ele e outros colegas projetaram um drone, em fase de prototipagem que em breve poderá se tornar produto comercial.
No primeiro semestre de 2019, alunos do CT venceram a competição internacional do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em São José dos Campos. Naquela oportunidade, apresentaram um satélite educativo de pequeno porte, chamado de “CanSat”.
Já em setembro deste ano a UFSM recebeu a segunda edição do Congresso Aeroespacial Brasileiro, que teve a participação do presidente da Agência Espacial Brasileira, Carlos Augusto Teixeira de Moura, e do ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes.
Para o CT, a principal vantagem é a troca de conhecimento entre as instituições, visto que o CDIO possui uma rede de troca de experiências e aprendizagem contínua. Além do mais, é um “selo de qualidade” que demonstra os mais avançados padrões de ensino e aprendizagem internacionais na formação universitária. “Até o momento, o curso de Engenharia Aeroespacial ainda não ingressou na rede internacional. Entretanto, caso a UFSM venha a ser formalmente cadastrada, os alunos do CT terão este “selo internacional”, que os distinguirá quando forem buscar oportunidades no exterior”, destaca o professor André Luis da Silva.
Repórter: Pablo Iglesias, acadêmico de Jornalismo
Ilustração e animação: Renata Costa, acadêmica de Produção Editorial
Mídias Sociais: Nataly Dandara e Nathalia Pitol, acadêmicas de Relações Públicas
Editora de Produção: Melissa Konzen, acadêmica de Jornalismo
Editor Chefe: Maurício Dias, jornalista