“Se tem algo que o poder teme é a memória, essa que destrói muros e constrói abraços, que traz luz, dignidade e esperança”. Essa frase é de autoria do antropólogo mexicano Israel Espinosa sobre relembrar o Massacre de Tlatelolco que ocorreu no México no dia 2 de outubro de 1968.
Cinquenta anos depois, a memória da tragédia é resgatada pelo projeto Referências Cruzadas, fruto de uma parceria entre artistas e estudantes do México, Uruguai, Brasil e Argentina. O grupo da UFSM, coordenado pelo professor de Artes Visuais Lutiere Dalla Valle, representou o Brasil nessa exposição realizada no Centro Universitário Cultural Tlatelolco, no México, entre março e abril de 2018.
Todos os países participantes do Referências Cruzadas possuem um coordenador docente de uma instituição pública. Segundo o professor Lutiere, o programa surgiu a partir da vontade de articular ações de intercâmbio cultural entre os quatro países participantes, de forma a fortalecer e qualificar os processos de formação, atuação e pesquisa nas áreas das artes.
A criação das obras foi realizada a partir das fotos cedidas pelo Centro Histórico e Cultural de Tlatelolco da Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM). Cerca de 90 fotografias históricas do massacre foram disponibilizadas para que os alunos da UFSM, membros do Laboratório Artes Visuais e I/Mediações – LAVI/M, pudessem realizar intervenções artísticas. Cada aluno ficou responsável por escolher até cinco imagens para realizar as interferências. Alguns se mantiveram na atuação digital e outros preferiram imprimir as fotos para fazer modificações manuais. Os trabalhos foram impressos no México e expostos pela professora Mabel Larrechart, docente da UNAM. Dentre as universidades da América Latina que participam, o único grupo composto por estudantes é o da UFSM.
O tema serviu para promover uma reflexão sobre a atualidade. “Nos mobilizou a pensar sobre a questão histórica em relação ao que vivenciamos atualmente em nosso país, nossas angústias e frustrações frente aos escândalos políticos, aos fatos que estamos vivenciando”, enfatiza Lutiere. Ele explica que os estudantes pesquisaram e se dedicaram para elaborar as obras através de suas próprias percepções, e levaram em conta suas vivências e o contexto em que estão inseridos.
Reportagem: Mirella Joels
Imagens: Projeto Referências Cruzadas
Box: Pollyana Santoro