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Coreia do Sul, de Tigre Asiático ao País do Soft Power

Como o K-Pop se tornou um dos gêneros mais ouvidos na atualidade e ajudou a popularizar a cultura oriental



Como o K-Pop se tornou um dos gêneros mais ouvidos na atualidade e ajudou a popularizar a cultura oriental

Conhecida como um dos Tigres Asiáticos, em função do rápido crescimento econômico baseado no modelo exportador de eletrônicos e veículos, a Coreia do Sul hoje é sinônimo de K-Pop. Engana-se quem pensa que o fenômeno está ligado apenas à música. Incentivado pelo governo, o gênero ajudou a difundir um lado diferente da cultura oriental e é responsável por 7% do turismo local, o equivalente a 800 mil visitantes, conforme o Ministério da Cultura, Esporte e Turismo daquele país.

O termo K-Pop, abreviação de “Korean Pop”, em português, pop coreano, designa a música popular como um todo e pode misturar estilos como hip hop, R&B, dance music e rock. É o sétimo gênero mais ouvido nas plataformas de streaming como Spotify, Deezer e Apple Music, segundo pesquisa Music Listening 2019 da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI). Além disso, o gênero permitiu a elevação de 17,9% da indústria musical sul-coreana, em 2018, conforme o relatório Mais Vendidos e Artistas Globais do Ano, também da IFPI. A mesma pesquisa aponta que países como Peru, Canadá, França e Turquia registraram, no ano passado, mais de 100 milhões de streamings de artistas sul-coreanos.

A expansão do produto cultural sul-coreano foi apoiada por estratégias públicas, chamadas de soft power. Nos anos 1990, a criação de políticas externas sul-coreanas deu início a uma série de interações culturais no âmbito continental e, posteriormente, global. Naquele período, o K-pop começou a emergir com grupos inspirados na música ocidental e o governo de Kim Dae-jung sancionou, em 1999, uma lei para destinar 1% do orçamento à indústria cultural.

Soft Power e retorno econômico

A gradativa inserção do K-Pop se caracteriza como uma estratégia do soft power. O objetivo é disseminar a cultura, a educação e o idioma, a fim de influenciar ou despertar o interesse dos fãs estrangeiros. Essas estratégias tiveram sucesso pelo fato de grandes empresas de entretenimento investirem na produção e promoção da música folclórica K-pop e de romances e filmes sul-coreanos, que se tornaram populares em todo o mundo.

Mais que um estilo de música, o K-pop é uma fórmula econômica. Em 2017, foram registradas vendas de US$ 4,7 bilhões, o equivalente a R$ 17 bilhões. O negócio, projetado como um produto de exportação, fez com que a indústria da música do país ocupasse o 29º lugar no mundo em 2005 e, 13 anos depois, em 2018, chegasse a 6ª posição. Os dados são da IFPI, que também mostram um crescimento de 47% na receita de streaming da música local só no último ano.  

O grupo sul-coreano Bangtan Sonyeondan (BTS) – em português Meninos à Prova de Balas -, símbolo do gênero, tem uma arrecadação anual de mais de US$ 3,6 bilhões, que corresponde a R$ 12 bilhões. Com dois álbuns na lista dos dez mais ouvidos – Love Yourself Answer e Love Yourself Tear -, a boyband com sete integrantes foi, segundo o IFPI, o segundo artista que mais vendeu em 2018 – atrás apenas do rapper Drake. 

O incremento no turismo local é resultante da ascensão da banda. As exportações associadas ao BTS – de roupas, cosméticos ou produtos alimentícios – são responsáveis por mais de US$ 1 milhão em lucros. 

A estudante Ana Catarine da Cunha Massirer, 18 anos, do curso de Relações Públicas,  considera o gênero como “a indústria de entretenimento mais inteligente da atualidade”. Para a Kpoper – termo usado para designar os fãs do estilo -, as habilidades de marketing, música e dança alcançam popularidade mundial, apresentam ao mundo o som sul-coreano, compartilham a cultura e o desenvolvimento tecnológico. Ana se interessa pelas sensações diferentes apresentadas pelas músicas, pelas interpretações a partir das danças e pelas produções. “Elas ficam na sua cabeça o dia todo. A música e a arte ultrapassam a barreira linguística”, afirma. 

 

Escândalos e estagiários do K-Pop

Neste ano, as notícias mostraram que alguns artistas do K-Pop estão envolvidos em escândalos sexuais. Os cantores Jung Joon-young e Choi Jong-hoon, ex-integrante da FT Island, foram condenados a seis anos pelo envolvimento no estupro coletivo de duas vítimas. Jung também terá de responder por ter gravado, com câmeras escondidas, vídeos sexuais de abusos e agressões, como noticiou o jornal O Destak. Outro caso envolve Seungri, ex-líder da Big Bang, associado a casos de abuso sexual, incentivo à prostituição e gravação ilícita, segundo matéria do El País.

O abuso relacionado ao K-Pop é uma das preocupações da pesquisadora Anemarg Lazzarotto, 21 anos. Ela faz bacharelado em História e quer investigar, a partir de dados de 1990 a 2019, como a indústria do entretenimento acolhe o ‘estagiário’, nome dado ao músico e/ou dançarino em processo de treinamento. Entretanto, a estudiosa quer saber sobre outros tipos de danos, os associados à adoção de padrões por meio, por exemplo, de cirurgias plásticas.

O objetivo da pesquisa também pretende disseminar o que é o K-Pop como estilo musical e como indústria em expansão, e a história da Coréia do Sul. A universitária destaca que apesar da riqueza do conteúdo, há poucos registros, e, por isso, utiliza artigos, notícias, estudos e livros on-line. Neste sentido, Anemarg já pensa em disponibilizar sua pesquisa online, inclusive com recurso para cegos e pessoas com baixa visão.

Feminismo e fim da violência

Um tópico notável da investigação de Anemarg é como alguns grupos femininos se identificam como feministas e expressam sua posição por meio da dança e das letras. E também o assédio e as críticas que recebem por se rebelarem contra os estereótipos sociais impostos, como rígido padrão de beleza.

Ao contrário dos artistas associados aos escândalos sexuais, existem ídolos considerados exemplos de atitude e estilo. Entre estes estão os integrantes do BTS, que participam da campanha  #EndViolence, da UNICEF. Eles “mostram a importância de amar o próximo e a si mesmo, tornando-se uma vitrine para os jovens do mundo todo”, comenta Ana Caterine. 

Repórter: Micaela Gauna, acadêmica de Jornalismo e intercambista na UFSM

Ilustradora: Beatriz Dalcin, acadêmica de Publicidade e Propaganda

Mídia Social: Nathália Pitol, acadêmica de Relações Públicas

Editora de Produção: Melissa Konzen, acadêmica de Jornalismo

Editor Chefe: Maurício Dias, jornalista

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