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Jardins verticais: sustentabilidade dentro e fora de casa

Técnica existe desde o século passado e agora, de forma planejada, é aplicada em diferentes espaços, inclusive no ambiente estudantil



Dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM) apontam que os últimos seis anos foram os mais quentes desde a década de 1880. As frequentes ondas de calor intenso preocupam pesquisadores que tentam encontrar alternativas para amenizar os problemas causados pelas altas temperaturas.

 

Uma estratégia antiga está ganhando espaço nas cidades, inclusive no ambiente estudantil. São os jardins verticais, que existem, pelo menos, desde a década de 1930, e agora, de modo planejado, são instalados em diferentes espaços como forma de amenizar o calor. Como o próprio nome diz, os jardins verticais são peças de jardinagem que, ao invés de ficarem no chão, são instaladas nas paredes – internas ou externas. Na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), um projeto orientado pela professora de arquitetura e especialista em conforto ambiental e  sustentabilidade, Minéia Johann Scherer, projetou jardins verticais em salas de aulas do Colégio Politécnico.

Descrição da imagem: ilustração horizontal e colorida de um jardim vertical em uma sala de aula. Há três mesas com cadeiras na cor verde escuro enfileiradas. Ao fundo, na parede, retângulo horizontal preenchido com grama na cor verde claro. A parede tem tom de rosa claro, e o piso, rosa queimado.

Para a docente, esse tipo de instalação pode garantir o conforto térmico e a economia de energia nas edificações. Dependendo da espécie utilizada, do clima e do local, as plantas também reduzem a incidência solar na parede protegida. A arquiteta e orientanda da professora, Luciana Rocha Ribeiro, conta que fez um estudo durante o ano de 2019 para entender o tempo de produção das mudas e como fazer o plantio nos módulos. Instalado na sala D2 do Politécnico, o jardim fez companhia aos alunos do 3º ano do ensino médio durante boa parte do ano de 2019. A turma de 36 estudantes foi monitorada pelas pesquisadoras durante o decorrer dos dias. Luciana explica que isso foi importante para perceber o impacto das plantas instaladas e o projeto ser aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos.

 

Os módulos foram construídos pelo Setor de Paisagismo do Colégio Politécnico e tinham duas espécies: grama-amendoim e clorofito. A grama-amendoim é uma espécie nativa do Brasil e uma das forragens mais procuradas no país, principalmente por conta do crescimento acelerado. O clorofito, também conhecido como gravatinha ou paulistinha, é comum em decorações e se destaca por ser de fácil manuseio.

Durante o período da pesquisa de Luciana, o número de alunos que gostavam de plantas aumentou cerca de 20%, comparado ao início do estudo. “A maior parte dos alunos também alegou que a permanência em sala de aula por horas seguidas se torna mais fácil”, comenta Luciana. 

 

 

Imagens da sala de aula no Colégio Politécnico. Foto: Luciana Ribeiro

O relato de melhora na qualidade do ar também foi percebido pelas pesquisadoras. Sem a presença dos jardins verticais, a maioria dos alunos considerou a sala morna ao entrar na primeira hora do dia. Na presença das plantas, a maioria dos alunos considerou o espaço com uma temperatura ideal. Ao fim da pesquisa, eles também alegaram sensação de conforto e agradabilidade visual na sala de aula. As estruturas foram colocadas de forma experimental durante o trabalho e posteriormente removidas.

Luciana afirma que o uso de jardins verticais em salas de aula é uma prática que pode trazer benefícios ao meio ambiente e aos alunos.  Para ela, além de estimular o plantio de espécies e trazer áreas verdes para ambientes internos, os jardins ajudam os alunos a ter um ambiente melhor para conviver durante a semana, principalmente nos dias quentes de verão. No entanto, para que essas instalações possam ser mais eficientes, a arquiteta explica: “é importante a realização de estudo detalhado quanto à ventilação e à iluminação naturais, principalmente no ambiente interno”. Comparando as duas espécies usadas, Luciana diz que o jardim vertical de grama-amendoim apresentou melhores resultados que a espécie clorofito. Isso porque proporcionou, segundo os alunos, um ambiente mais bonito e também proporcionou melhores condições no ar do ambiente.

Descrição da imagem: Fotografia quadrada e colorida de grama tipo amendoim, em detalhe. A grama tem cor verde médio, e as folhas tem formato de amendoim.
Grama Amendoim.
Descrição da imagem: Fotografia horizontal e colorida de uma grama clorofito em detalhe. A grama tem formato de tufos, e folhas finas e compridas. As folhas tem cor verde claro nas extremidades e branca ao centro.
Grama Clorofito.

Outro jardim, ou melhor, cortina verde

Um outro projeto, chamado “Análise da influência do uso de cortina verde no comportamento térmico em habitação de interesse social em Santa Maria”, também orientado pela professora Minéia, foi o da arquiteta Renata Serafim de Albernard. Para a pesquisa, Renata instalou jardins verticais do tipo “cortina verde” em casas de um residencial no bairro Diácono Luiz Pozzobon, em Santa Maria. Ela diz que escolheu o modelo de cortina por ser de fácil execução e baixo custo: “Esse tipo de instalação permite flexibilidade na manutenção, uma vez que é instalado afastado da casa”, ressalta.

 

O projeto de Renata também foi realizado em 2019 e iniciou durante a primavera. Foram usadas três espécies da chamada “Glicínia”. Elas foram plantadas junto a perfis de madeira instaladas na base da calçada e no beiral das casas. As espécies foram presas com cabos elásticos. Para entender as mudanças provocadas pela instalação dos jardins, Renata fez visitas semanais nas residências. Segundo ela, os resultados mostraram diferenças na temperatura do ar interno. A diminuição foi de até 8,6°C (em uma semana extrema de verão) e 3,68°C (em um dia comum de verão). “Todos os usuários relataram sensação de bem estar com os jardins verticais, tanto é que estão instalados até hoje”, conta a arquiteta.

Como ter um jardim vertical em casa?

Como orienta Minéia, o planejamento dos jardins requer atenção. É preciso escolher a melhor espécie para o ambiente e um local estratégico para a instalação. O primeiro passo é procurar orientação de um paisagista ou de um arquiteto. Se tiver ajuda dos dois, melhor ainda. O paisagista pode analisar o espaço quanto às condições climáticas, indicar a melhor espécie e como esta deve ser cuidada. O arquiteto é quem planeja o local adequado – interno ou externo, para a colocação do jardim – e também como a estrutura pode ser fixada de modo que atenda à demanda desejada.

 

Para Minéia, os jardins são procurados principalmente como elemento decorativo, mas seus benefícios na saúde e no bem estar também se mostram relevantes. Segundo ela, os jardins proporcionam um espaço de lazer, contato com a natureza e melhora na qualidade do ar – principalmente se instalados internamente, onde o ar não circula tanto. Outro ponto importante é o isolamento térmico. As espécies têm o potencial de reduzir as chamadas ilhas de calor, presentes nas grandes cidades. Isso porque elas fazem o “sombreamento”, ou seja, o calor se transfere de forma menos intensa quando passa pelas folhas.

 

Além disso, as plantas atuam como uma barreira natural de isolamento acústico. A superfície verde bloqueia sons de alta frequência e, dependendo da composição das espécies, pode bloquear ruídos de baixa frequência. 

Renata afirma que a vegetação otimiza qualidade de vida aos usuários, que são influenciados de forma positiva nos aspectos psicológicos e de saúde. Com sua pesquisa, ela afirma que há alternativas de baixo custo, como a cortina verde, que utiliza a vegetação trepadeira. A instalação planejada é uma estratégia para potencializar o conforto térmico e a sensação de bem-estar dos usuários. 

 

Depois da instalação, é preciso seguir alguns cuidados de poda e rega. A professora Minéia recomenda o uso de plantas que se adaptem à sombra ou precisem de pouco sol para se desenvolver. De modo geral, essas espécies costumam funcionar bem em em espaços internos, principalmente em apartamentos. No entanto, a escolha da espécie vai depender da necessidade do morador. Algumas pessoas preferem instalar pequenas hortas, que nem sempre vão ter a função de sombreamento, mas podem oferecer praticidade no dia a dia e garantir uma alimentação saudável. Outras pessoas podem optar pelos jardins como função decorativa, o que vai implicar em um maior planejamento arquitetônico.

Expediente:

Reportagem: Tayline Alves Manganelli, acadêmica de Jornalismo e voluntária;

Design gráfico: Júlia Coutinho, acadêmica de Desenho Industrial e bolsista;

Mídia social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Gabriel Escobar, acadêmico de Jornalismo e bolsista; e Nathália Brum, acadêmica de Jornalismo e estagiária;

Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;

Edição geral: Luciane Treulieb e Mariana Henriques, jornalistas.

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