Conhecimentos de engenharia aplicados à análise microbiológica foram a base para que os alunos de mestrado e doutorado em Engenharia Elétrica da UFSM Adriano Jaime e Charles Habb desenvolvessem um dispositivo inovador. Sob a orientação do professor Juliano Barin, pesquisador em Tecnologia e Ciência de Alimentos, os alunos foram capazes de identificar contaminação bacteriana em poucas horas. Eles pensaram em trazer uma
solução útil e com impacto social para o problema levantado pelo Laboratório de Tecnologia de Alimentos da Universidade: o tempo necessário para se identificar o contágio bacteriano.
Diferentemente do método tradicional, conhecido como método da contagem em placas, o qual necessita da observação a olho nu por dias para saber se houve infecção, o dispositivo oferece uma resposta rápida, precisa e barata, através de uma instrumentação eletrônica. Atualmente, ele está sendo desenvolvido para aplicações em alimentos como o leite e determinação da presença da bactéria Salmonella, principal causadora de infecções alimentares, em ração animal.
“Existe um leque de aplicações, nada impede que o instrumento seja utilizado em outros segmentos: na saúde, por exemplo, para saber se há contaminação no sangue; em frigoríficos, para fazer o controle ambiental; na indústria alimentícia, pode ser usado em restaurantes ou em supermercados. Quanto mais vamos pesquisando, descobrimos várias outras áreas em que ele pode ser aplicado”, conta Adriano.
Outro benefício do aparelho é o seu fácil uso: não é necessário o auxílio de técnicos ou ter qualquer conhecimento específico para utilizá-lo – ele é 100% automatizado. Para Adriano, esse é o principal diferencial do equipamento. Só é necessário fazer a coleta, apertar um botão e, em poucas horas, o cliente já tem o resultado.
O projeto, que faz parte da tese de doutorado de Charles, é inovador, pois promove a junção entre a eletrônica e a tecnologia. Adriano explica que eles não criaram um instrumento novo, e sim um novo método de análise: “O procedimento, que já existe, é usado para outras coisas. Nós trouxemos ele para a contagem bacteriana; é aí que está a nossa inovação”.
A partir do projeto, os engenheiros decidiram fundar a startup Auftek e inscreveram a proposta para o Programa Centelha, promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, o qual visa estimular a criação de empreendimentos inovadores e disseminar o empreendedorismo no Brasil. Dentre as 784 propostas submetidas ao programa em janeiro de 2020, o dispositivo ficou entre as 28 contempladas e recebeu recursos financeiros e suporte para transformar sua ideia em um negócio de sucesso.
Adriano relata que o investimento do programa foi muito importante para a continuação das pesquisas em meio à pandemia da Covid-19 – com os laboratórios da UFSM fechados, eles tiveram que comprar boa parte do material. O dispositivo também foi contemplado pelo Programa Techfuturo, parceiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs). Com esses investimentos, a startup conseguiu montar nove protótipos do dispositivo, e os pesquisadores pretendem ter um produto mínimo viável validado e em funcionamento para comercialização até janeiro de 2022.