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Inovação na lavoura

Novo bioinseticida desenvolvido na UFSM é alternativa aos agrotóxicos tradicionais



Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) desenvolveram um bioinseticida inovador, que não agride o ambiente e a saúde das pessoas. O produto combate a lagarta falsa-medideira –  principal praga que afeta a cultura de soja no Rio Grande do Sul -, e promete  ser uma alternativa aos atuais agrotóxicos sintéticos existentes no mercado.

 

Tudo começou em 2013 com a formação do grupo de pesquisa em Biotecnologia Agrícola, que surgiu da necessidade de  investigar sobre produtos biológicos para a agricultura. A partir  do grupo foram submetidos projetos para captar recursos com agências financiadoras, os quais foram utilizados na montagem do Laboratório de Biotecnologia Agrícola, sediado no prédio 44G da UFSM. Com um aparato tecnológico avaliado em torno de 1,5 milhão de reais, o laboratório abriga pesquisas no sentido de desenvolver bioprodutos destinados à agricultura.

 

Um dos resultados obtidos pelo laboratório foi o desenvolvimento do bioinseticida. O projeto idealizado pelos professores Rodrigo Jacques, do departamento de Solos, Adriano Melo e Jerson Guedes, ambos do departamento de Defesa Fitossanitária, e alunos do curso de Agronomia da Universidade, encontra-se agora em fase de assinatura do contrato de transferência de tecnologia. A empresa que vai receber o produto é a Simbiose Biotecnologia, de Cruz Alta, escolhida por meio de edital publicado pela Agência de Inovação e Transferência de Tecnologia da UFSM  (AGITTEC).. “O papel da AGITTEC nesse processo da transferência da tecnologia é fundamental. Nós, como pesquisadores, geramos a tecnologia e, se não houvesse alguém que fizesse o meio de campo entre Universidade e indústria, não teríamos como fazer isso. O papel da universidade não é comercializar o produto, mas gerenciar a parte do desenvolvimento”, explica o professor Melo. O recurso obtido através do contrato será revertido para o próprio laboratório.

 

Produtos bio no combate às pragas

A soja é a principal cultura agrícola do Brasil, com 31 milhões de hectares de área plantada, e a lagarta falsa-medideira é uma das principais pragas que afetam a produção. Mas encontrar microorganismos que possam ser úteis no combate à praga não é fácil. Os pesquisadores foram a campo coletar insetos doentes para a pesquisa, com ênfase no bioma pampa. No laboratório, os fungos causadores das doenças são isolados e cultivados:  “Nós cultivamos o fungo em uma placa, puro, e a partir daí estudamos como ele se multiplica em laboratório, quais as condições que ele precisa, qual a espécie, e como esse microorganismo controla o inseto”, explica Rodrigo Jacques. Uma grande parte dos microorganismos são descartados nessa fase por não apresentar eficiência. “De 20 ou 30 analisados chegamos a um que é promissor”, completa Jacques. Também são realizados testes de campo para verificar a real eficiência do fungo e o melhor veículo (mistura) para introduzi-lo na lavoura.

 

Após cerca de três anos de pesquisa, os cientistas chegaram a um bioinseticida baseado em um desses fungos que atacam a estrutura do inseto, formada basicamente por quitina. Esta substância é a mesma que compõe nossas unhas e cabelos, mas Melo explica que a estrutura do corpo do inseto é um pouco diferente:  “a quitina está ligada à proteína e o que o fungo faz é degradar isso. O fungo não vai causar problemas ao meio ambiente e também não vai degradar a nossa unha”.

 

O fungo  ataca somente a lagarta falsa-medideira, e essa é uma grande vantagem do produto biológico contra os agrotóxicos sintéticos. “Ele não vai atacar uma formiga ou um besouro que esteja na lavoura, já o agrotóxico acaba com tudo”, relata o professor Jacques. O fungo também não infesta  a lavoura e cresce desenfreadamente. No momento em que a população de lagartas diminuir, o fungo vai desaparecer gradativamente pela falta de alimento. Além disso, o fungo também tem inimigos naturais que agem nesse controle: ácaros, colêmbolos, protozoários, bactérias e nematóides.

 

 

 

Há também outra vantagem sobre os produtos sintéticos: agrotóxicos convencionais atuam basicamente no sistema nervoso e muscular do inseto. Esse é um problema, pois o inseto pode criar resistência a determinados agrotóxicos caso sejam utilizados com frequência. Dessa forma, alguns agrotóxicos sintéticos podem perder a eficácia com o passar do tempo e o bioinseticida pode servir como uma forma de intercalar os produtos utilizados no controle da praga, com o objetivo de diminuir a resistência do inseto. Não é possível afirmar com precisão quando esse produto chegará ao mercado para uso dos agricultores, porque produtos sintéticos levam de 5 a 7 anos, desde sua descoberta, até estarem aptos para chegar ao produtor. . A expectativa para o início da comercialização do bioinseticida é de cerca de dois anos, devido ao processo de registro com órgãos reguladores. “Dentro da América do Sul, o Brasil é certamente o país mais rigoroso em termos de legalização de novos produtos agrícolas”, conta Melo.

 

O laboratório segue um processo de produção constante de  outros bioinseticidas, bioherbicidas e bioadjuvantes. A produção de produtos bio para a agricultura é uma tendência até mesmo nas grande empresas, que constroem divisões para prospectar produtos biológicos. “Acreditamos que o bioma pampa tem uma diversidade biológica grande que pode nos dar mais moléculas. Isso pode fomentar novos projetos, vai possibilitar que a Universidade produza mais tecnologia. Estima-se que o crescimento dos produtos biológicos é de 20% ao ano e quem em 10 a 20 anos possa chegar a 5% do mercado de agrotóxicos no Brasil”, ressalta Melo.

 

Dificilmente os produtos bio irão acabar com a dependência dos agrotóxicos sintéticos, principalmente quando se fala de grandes culturas, como milho, soja e trigo. Mas existem alguns nichos no mercado que podem ser ocupados pelos produtos biológicos, como o de produtos orgânicos, plantas de estufas e plantas ornamentais. “Só depois que os produtos biológicos estiverem cristalizados nesses nichos menores, para lá de 10 ou 20 anos, que a produção de biológicos poderá ser majoritária. Mas isso ainda vai demorar muito ” finaliza O professor Jacques.

 

Repórter: Repórter Felipe Backes

Infográfico: Giana Bonilla.

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